quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CHUVAS DE MINHA INFÂNCIA



AS CHUVAS DE MINHA INFANCIA   
                            
                      João Joaquim 


Escrevo esta crônica sob o mavioso som de uma chuva fina que cai desde a madrugada. Chuva devolve-me a infância! Nasci e cresci em  rincões  das Minas Gerais. Costumo fazer um chiste do nome de minha cidade natal. Iapu. Lembra o que? Nome de imposto, ipi ,  Iptu. Fazendo um anagrama  perde por uma letra. Mas, para quem não conhece, não pensem que morar em Iapu é uma imposição. Trata-se de uma cidade pequena, cerca de 10.000 habitantes, mas muito aprazível de se viver. Fica a 250 km de Belo Horizonte e a 30 km de Ipatinga.
Chuva e minha infância. Lembra-me bem; quando criança sempre que chovia costumava sair de casa após a chuva. Normalmente quando era torrencial ou a cântaros. Chover a cântaros (potes, moringas) é expressão idiomática comum de MG que se abrasileirou.
Por que do atrativo de sair depois de uma tromba d’agua ou chuva  a cântaros? Além da formação de imensas lagoas e águas correntes, surgem “erupções” de águas da terra. São espécies de arroios temporários. Lembra-me muito bem que isto era encontradiço em terras de cupins e formigueiros. O misterioso é que esses insetos nem se quer eram removidos das locas e túneis subterrâneos. Passada a torrente de água lá estavam eles firmes e mais vigorosos a picotar as plantas. As formigas saúvas são pragas de difícil combate.  Houve um tempo , idos de 1970 ,em que se dizia : ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil. As saúvas mais nocivas ao Brasil de hoje estão entocadas em Brasília, bem ali na praça dos três poderes. Penso que o presságio daquela época era para estas formigas entocadas no distrito federal.  
O risco de se brincar nessas águas da chuvarada eram os animais peçonhentos. Cobras, aranhas e escorpiões. Os bichos são desentocados e se tornam mais agressivos. O perigo era  iminente. Recordo-me de tê-los visto muitas vezes. Mas, velhaco e sabedor dos ditos cujos, nunca fui picado pelos infelizes. Nessas brincadeiras dos aguaceiros das chuvas de roça havia outro risco já calculado. Eram as broncas ou descomposturas recebidas dos pais, quando não algumas lambadas de cinto ou de vara de marmelo. Mas, infância e natureza em festa eram tudo  isto. Toda aventura temerária valia a pena.
Uma outra lembrança que as chuvas me trazem eram as casas da época. Eram construções com o pé-direito muito alto e sem forro (gesso). As noites de chuva encerravam uma harmonia muito acolhedora e agradável para se dormir. O doce murmúrio dos filetes da chuva nos telhados com o escoar das águas no entorno das casas criavam um clima ímpar de muita bonança e paz. Algo só visto com toda magnitude no ambiente rural.
Hoje ,com a maciça urbanização das pessoas, a juventude e as crianças perderam a noção desse encanto bucólico pela natureza selvagem, aquela onde temos selvas de puro  verde em vez alamedas de  concreto e pedras que são as cidades. São legados do progresso e da tecnologia. Tenho por hábito repetir que vejo cada chuva como um sorriso da natureza. São gotas e torrentes de alegria, quando toda vida se renova e se remoça. Não compreendo quando vejo as pessoas se irritarem em dias chuvosos. Basta que essas pessoas de almas empedernidas e pouco antenadas com a natureza se lembrem que toda forma de vida, inclusive a humana, se sustenta graças às dádivas das chuvas.
Por tudo isso que tenho a estação das águas como a mais bela. Toda a terra molhada se torna uma alfombra de verde, rios e mananciais se enchem de águas do céus. Os cardumes e passarada povoam mais a natureza. Todos os seres se confraternizam num uníssono maravilhoso.
 Assim , que me perdoem os não apaixonados pelos dias chuvosos. Eu não me canso de voltar aos meus dias de menino em tempos de chuva. Chuva me lembra vida, me lembra nascimento, me lembra flor, me lembra beleza, me lembra a mais generosa aliança do azul dos céus com os verdes a brotar na terra. Benditas as chuvas que caem das nuvens e me fazem de novo uma saltitante e feliz criança. Que venham mais chuvas, Amém!         


João Joaquim médico- cronista DM  joaomedicina.ufg@gmail.com


Um comentário:

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