sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

VIRTUAL E SEM VIRTUDES



                                VIRTUAL E SEM VIRTUDES
                                                                                                         João Joaquim  



Geração virtual e sem virtudes. É proibido proibir! Tudo pode!  As  famílias não têm mais o direito e o dever de impor limites e exercer sua autoridade sobre os filhos sem a contestação e rebeldia dos menores.
As assertivas e expressões no preâmbulo  desta matéria são truísmos ou verdades banais que se podem constatar nas relações de nosso dia-a-dia . Sejam uma relação intra-familiar de pais e filhos ou de alunos e professores.
Eu prenuncio que estamos caminhando para um estágio perigoso e degradante das relações dos pais com seus filhos, das escolas com os alunos( professor/aluno), notadamente no ensino fundamental de 1º e 2º graus. Considerando que a educação é a base de toda forma de relação entre os humanos; e  isto vai desaguar em todas as formas do exercício de cidadania e civilidade.
Vejo tudo como questões sérias, de causa multifatorial. Todavia , penso que as famílias têm dívidas e mais dívidas nos cartórios de meu protesto sobre as origens de tantos descaminhos pelos quais vêm trafegando nossas crianças e jovens. E não são poucos estes desvios. O mundo e a vida vêm se constituindo em verdadeiros labirintos do mal, pelos quais estamos todos nos perdendo. Ainda não estamos perdidos, mas à beira do precipício.
Pais e educadores estão passando por um processo de distração . A maioria das pessoas se esforçam, gastam , ralam na pura e simples criação dos filhos. Criação e maturação se procede com a cria de qualquer animal não humano. Cachorro, macaco, bezerro, gato por exemplo. Com estes fica até mais fácil porque eles não exigem smartphones, tablets, shoppings, comida cara, roupas de grife e mesadas. 
Qual tem sido o sonho de consumo de muitos casais de hoje? Ter filhos. Muitos pais têm até múltiplos filhos; realidade comum pela carência de planejamento familiar. Fruto também  da irresponsabilidade dos próprios casais ou namorados  e omissão do Estado com políticas de orientação sobre gestação e ônus na educação dos filhos.  Trata-se de matéria séria a exigir uma crônica específica.
Como afirmado , criação e educação  são termos bem distintos. Como vem se caracterizando a “educação” que os pais têm dado aos filhos desde a idade das fraldas e chupetas ? Reproduzo  minhas afirmativas iniciais: tudo pode,  é proibido proibir, não se pode dizer não. Os pequenos não parecem ter mais limites que tinham os pais e avós. O medo e reserva dos nãos e dos limites têm sido a marca na criação dos filhos destes tempos pós-modernos. Educar vai muito além da pura e simples satisfação instintiva e material dos  pequenos.
Tomo de empréstimo palavras da psicanalista Luciene Godoy ( seguidora das teorias de Lacan). Estamos vivendo a era do gozo. Noutros termos , todos , inclusive crianças e adolescentes, precisamos de fruir e ter acesso a tudo que a tribo global nos oferece. Aqui entra tudo mesmo. Desde a liberdade ( ou libertinagem) de ação e comportamento até a aquisição que  o mundo midiático e consumista-capitalista nos indicar como a bola da vez.
Cultura, boa formação escolar, ética , moral e cidadania construtiva e participativa têm sido bens bregas e obsoletos. São coisas da época pré-digital e pré-internet.
Entre os bens descartáveis e alienantes do momento temos os objetos digitais e de informática. Todos têm que estar conectados ao que recomenda a galera, a tribo global, o oceano de futilidades e fofocas do dia.
As crianças desde cedo já têm sido apresentadas a essas coisas das telinhas mágicas. Muito cedo, muito antes de ir para as escolas elas já são inseridas e conectadas às mídias digitais. Calcula-se que uma crianças de 6 ou 7 anos , antes  de iniciar a alfabetização de fato, já tenha assistido cerca de 5000 horas de televisão, videogames e internet. Já imaginou o choque cultural quando esta criança tiver que manusear, o lápis de cor, o papel, os primeiros livros ? Dá trabalho, não ?
A internet é um mundo visual e virtual sem volta. Todos estão plugados e on-line. Ninguém mais fala com ninguém. Repiso os termos:  as famílias, os pais, os educadores e responsáveis pelas nossas crianças estão distraídos. Onde isso vai parar não se sabe. 


  
João Joaquim  médico e cronista DM – joaomedicina.ufg@gmail.com

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