segunda-feira, 30 de junho de 2014

PRÓ BRASIL E CONTRA O brasil

 

João Joaquim        

Eu nunca vou me esquecer de quando comecei a torcer contra a seleção brasileira de futebol. Idos dos anos de 1970. O país estava sob o governo de Emílio Garrastazu Médici. Ele foi o  mais  tirânico dos ditadores do regime militar. A nação estava contaminada pelo slogan ufanista do “prá frente Brasil”. Aquele regime de exceção aproveitou a fase áurea da seleção e misturou política com futebol. Claro que num expediente francamente pró-ditadura. Não podia dar certo para o povo.

À época, parcela minoritária da sociedade, mesmo pessoas aficionadas ao futebol percebiam esta escusa aliança do sucesso da seleção em campo e os feitos do governo. Vivíamos sob os auspícios do chamado milagre brasileiro. Outro engodo da época . Não podia dar certo para o povo .

A popularidade e glória da equipe de futebol do Brasil foram empregadas numa espécie de pão e circo   ao estilo  da antiga Roma. Era o minguado pão para o povo e muito circo (futebol); enquanto nos calabouços, nas prisões e quartéis se davam repressão, torturas e mortes. Tudo se passava ao abrigo dos olhos do povo e mesmo da imprensa, com a conivência e participação  dos cartolas e craques da época, entre eles Pelé , Gerson e cia. Gerson fez por muitos anos  uma propaganda de cigarro, onde tinha o slogan “ gosto de levar vantagem em tudo”. Um bordão desonesto que se tornou popular em nosso país.   O que se deu naqueles sombrios tempos foi uma espécie de cartel, conluio  e silêncio dos dirigentes da seleção e jogadores do time  canarinho. E todos encantados com a seleção. Não podia dar certo para o povo.

Cantava-se em algumas rodas e a  bocas-miúdas ou  de siri que a cada gol da seleção uma tortura ou morte de inimigos do governo se dava nos porões da repressão. Eram fatos e versões de fazer tremer aos mais duros valentões. Filmes de horror, ou a realidade crua e oculta imitando a ficção. E todos encantados com a seleção. Não podia dar certo para o povo.  

Houve neste medonho conluio ditadura e futebol um caso pitoresco envolvendo o  presidente e o técnico da seleção. O general Médici pediu a João Saldanha(técnico do brasil)  a convocação do jogador Dario do atlético mineiro( Dario peito de aço). Ao que Saldanha respondeu que o presidente escalava o ministério e a seleção, escalava ele (o técnico). Resultado, Saldanha foi demitido e para seu lugar assumiu Zagalo .  Dario foi convocado, que aliás ficava  mais na reserva. Mas, pelo menos foi satisfeita a vontade do general.

 Como se depreende, esta mistura de cartolagem de futebol com políticos não resultou em coisas boas e honestas. Os episódios de corrupção, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro são exemplos bem cristalinos dessas nebulosas, sombrias e escusas relações. Hoje as negociatas e roubos são maiores, de milhões . Que o diga o hoje milionário Ricardo Teixeira ( foragido do Brasil ?).

Uma demonstração desses  escabrosos e sujos negócios foram as traficâncias dos ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, e ex-FIFA João Havelange. Ambos com recebimento de suborno e enriquecimento ilícito envolvendo federações de futebol, transferência de jogadores , negócio com patrocinadores etc. Recentemente até o atual presidente da FIFA, Joseph Blatter ,tem sido acusado por negociatas nada éticas envolvendo lavagem de dinheiro, caixa 2 e recebimento de propina.

A denúncia do momento que está sob investigação se refere a escolha do Qatar como sede da copa 2022. Fala-se que conselheiros FIFA foram subornados para votar a favor do país árabe como sede da copa nesse referido ano. O nó da questão é investir uma entidade privada e bilionária como a Fifa, mesmo sediada na Suíça . Ele tem como que uma imunidade judicial, são caixas e mais caixas-pretas cheias de mistérios. Acho que nem Edward Snowden deslindaria seus mistérios .

 Enfim sou um apreciador de futebol. Meus times como torcedor são cruzeiro de Belo Horizonte e Goiás  . Entretanto, quando se refere à seleção brasileira, vejo-a como instrumento e meio, se não de reforço e propaganda política para alguns governos; serve por outro lado de empreendimento escuso,  de  enriquecimento ilícito e fácil de alguns grupos seletivos de pessoas e patrocinadores. Dentre esses aproveitadores citam-se cartolas e jogadores, empresários dos atletas e patrocinadores como a Rede Globo. Por essas e outras eu continuo impassível e impávido em minha posição:  torço para o Brasil-nação e contra o brasil-seleção.       

             João Joaquim médico- cronista DM  joaomedicina.ufg@gmail.com

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