quarta-feira, 27 de agosto de 2014

COMER/PRAZER




COMER , COMER , COMER . COMER PELO PRAZER

João Joaquim



 Para quem exerce as especialidades de endocrinologia, nutrição ou mesmo os médicos em geral eu recomendo ler o livro de Michael Pollan, professor de história da alimentação da universidade de Berkeley -Califórnia (USA).  Pollan esteve na Flip de julho 2014 – Parati RJ, onde fez palestras sobre sua obra e seu ativismo na área de alimentação . O livro  Cozinhar tradução de Claudio Figueiredo, traz a evolução da gastronomia, desde os tempos pré-históricos. Além de historiografia, a obra traz dados interessantes da relação do homem com os alimentos, e também fundamentos médico-científicos de tudo quanto entra no cardápio das pessoas.
O autor não alivia quando fala do poder das indústrias alimentícias para quem o agronegócio e as grandes corporações do gênero aliciam as pessoas ao consumo exagerado de produtos processados ricos em gorduras trans e polissaturadas, os fast-foods e os congelados insípidos aquecidos no micro-ondas.
Preparar e cozinhar os alimentos faz parte da evolução do gênero humano. A técnica de cocção facilitou a digestão de fibras e proteínas, com isto na evolução houve até mesmo redução do aparelho digestivo. Uma vantagem adicional porque assim pode canalizar energia para o desenvolvimento do encéfalo, órgão vital que tem grande avidez por oxigênio e nutrientes. Outros ganhos e avanços no processamento dos alimentos são por exemplo o emprego de microrganismos como fungos e bactérias como aliados naturais na transformação de alimentos. Como exemplo nas indústrias de laticínios , queijos e iogurtes e de cerveja a partir da cevada.
Dados históricos - Os ancestrais do homo sapiens começaram a empregar o fogo há cerca de 1 milhão de anos. Interessante segundo a história é que o nosso tão difundido e popular churrasco remete ao ritual da caça empreendida pelos machos alfa da época das cavernas. De fato a prática de assar carnes é muito dominada hoje pelos homens .Já o cozimento em água fervente, que surgiu há cerca de 10.000 anos é um ofício dominado pelas mulheres com preparo de sopas, caldos, molhos e outras iguaria apetitosas. As mães e avós são as protagonistas nessa arte.
O emprego da fermentação surgiu há 6000 anos no Egito; o pão pode ser considerado uma transformação físico-química, na qual o sabor do produto final (pão) é totalmente diverso de cada ingrediente de per si. O emprego do fermento na produção de alimentos pode ser considerado a vitória da ideia de civilização, da agricultura e conhecimento da biologia. Basta imaginar a variedade de  alimentos resultantes destes conhecimentos.
A participação dos micróbios na culinária remonta a mais de 10.000 anos. Contudo, coube a Louis Pasteur (1822-1895) a descrição cabal do fenômeno com o estudo das bactérias e fungos. Exemplo da participação destes benfazejos bichinhos são a produção de iogurte, do chucrute, da cerveja e vinhos.
Enfim a obra do jornalista e ativista no ramo da culinária, Michael Pollan, a par dos aspectos históricos, traz também muitos dados técnicos e científicos do impacto da alimentação na saúde das pessoas, no que eu concordo ipsis literis com suas ideias, convicções e conselhos.
É oportuno repicar aqui alguns conceitos que o autor realça de grande relevo na nossa saúde. Por exemplo, o consumo exagerado de alimentos gordurosos, de produtos concentrados em gorduras saturadas (de origem animal) e trans com alto potencial na formação de placas de colesterol nas artérias (infarto, derrame) e até mesmo com potencial cancerígeno.
Outro ponto a destacar na história e evolução da culinária e gastronomia são o engodo, os atrativos, o marketing e apelo das indústrias e comércio de gêneros alimentícios. Tudo no sentido de incitar e excitar o cliente ao máximo consumo, de forma instintiva e compulsiva de toda sorte de alimentos. Parece, seguindo aos apelos do consumismo, que uma das formas de felicidade está naquele slogam, comer,comer,comer!  Comer para poder crescer! No caso dos adultos, crescer na horizontal e na balança. Contra este engodo do mercado de alimentos Michael Pollan dá um conselho: nós só devemos comer quando tivermos  fome. Com o qual eu estou em uníssono.
 Aliás , pensando de forma realística e imparcialmente, o homem ao alimentar-se  de forma única a obter prazer , em saciar não a fome mas, a gula ele se iguala a poucos animais irracionais. Como exemplo os porcos que tendo o alimento à disposição deglutem tudo de forma instintiva; por isso, se confinados, engordam até a completa imobilidade , e então são  abatidos para obtenção de banha e carne.   Hoje somos uma humanidade a mais obesa de todos os tempos. Parece um comportamento de pessoas dementes. Buscar no alimento mais uma fonte de prazer, de gozo, de uma forma de compensação para as frustrações e depressões do dia-a-dia. Hoje a Medicina de forma muita convicta e cientifica vincula a glutonaria, a ingestão excessiva de alimentos a inúmeras doenças metabólicas e degenerativas como o infarto, o derrame cerebral, a hipertensão arterial, o diabetes e  as dislipidemias; todas com um potencial enorme de morbidade, péssima qualidade de vida, invalidez e morte.  Isto porque somos humanos, racionais e dotados de inteligência diferenciada. Que triste!  

 João Joaquim médico cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com



  








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