quarta-feira, 27 de agosto de 2014

PORTA ARROMBADA

FECHADURA E CADEADO DEPOIS DA PORTA ARROMBADA
João Joaquim        



Há um ditado ou princípio popular que diz :  nós só preocupamos em colocar um cadeado ou boa fechadura na porta quando ela é arrombada ou quando o ladrão entra na casa. Por esse e tantos outros adágios ou provérbios pode-se avaliar o alto grau do bom senso e da inteligência das pessoas, mesmo aquelas  sem alta escolaridade. Fazendo uma análise e interpretação deste princípio do cadeado depois da porta arrombada entramos no campo da imprevidência do ser humano frente a toda forma de ameaça, risco e prejuízo.
E aqui nesta mesma perspectiva eu puxo um outro senso popular que tem tudo a ver com a falta de prevenção da pessoas. Refiro-me à reação das pessoas em perceber o valor de algum bem, de algum conforto na ausência, falta ou perda deste bem ou conforto. Já de pronto eu cito alguns exemplos da cultura vulgar para realçar esta realidade. Vamos tomar alguns serviços básicos do nosso  dia-a-dia. Na interrupção do fornecimento de água, energia elétrica, sinal telefônico etc. De pronto sentimos  aquele impacto, nos exasperamos, nos praguejamos e então a ficha cai;  o quanto são importantes estes serviços para a nossa qualidade de vida, nossa segurança e conforto. Tanto assim que normalizado o problema (luz, água, sinal telefônico), todos soltamos um altissonante uau! quanta  alegria e felicidade reconquistadas.
Mas, o porque de o ser humano viver de forma  desacautelada e não preventiva ?  Ao todo e ao certo não se tem muitas respostas. Como muitas perguntas em saúde ou do comportamento ficamos na seara das conjecturas.  De todo modo isto tem sido  motivo de estudos da psicologia, sociologia e psiquiatria por exemplo.
As atitudes do ser humano em viver e tocar a vida abstraído dos riscos e ameaças que o cercam   é instigante e de intrigar aos estudiosos do índole , da personalidade, do caráter , do modus vivendi do gênero humano   . É o homem em sua jornada ; seja na sua rotina no trabalho, no lazer, no trânsito; enfim em toda a sua dinâmica de relação com o mundo, com o meio ecológico e com as pessoas `a sua volta.
Poder-se-ia ficar aqui descrevendo laudas e laudas listando as inúmeras atitudes dos indivíduos relativas ao seu desleixo, descuido, enfim ao seu jeito de viver de forma imprevidente. Mas, vamos a seguir ilustrar algumas condutas que bem expressam esta tendência que vai além da clássica solução do bom cadeado ou boa fechadura depois do prejuízo do arrombamento da porta e visita do ladrão.
Podemos pegar os próprios acidentes ou sinistros pessoais ou de trânsito. Ocorrido o imprevisto ou fatalidade, o indivíduo se dá conta de que daí para frente é importante fazer um seguro de saúde e de vida (ou de morte). Penso ser muito difícil alguém não ter tido uma questão pessoal ou familiar  desta natureza, eu pessoalmente tenho diversos exemplos na família.
No quesito acidentes domésticos então a sociedade anda repleta de tais casos. Quantas fraturas ósseas  de idosos, queimaduras de adultos  e crianças nos lares por falta de medidas de segurança simples, às quais temos acesso e informação diariamente. Trata-se do velho e recorrente achismo de que “ comigo isso não vai ocorrer. Só que uma hora acontece e aí se toma, tardiamente,  as providências e prevenção. De todo modo como expressa o dístico da bandeira de Minas, antes tarde do que nunca (“ Libertas qual será tamem” , liberdade ainda que tardia). Imitando este lema, prevenção ainda que tardia.  Na área de finanças e economia então o brasileiro é notório em desleixo e falta de planejamento. Aliás, a invenção do cartão de crédito e cheque especial foi para explorar este lado imprevidente e irresponsável das pessoas. Muitos gastam além das possibilidades, depois se endividam e não sabem como sair do efeito dominó das dívidas. Por isso o grande número de calotes, inadimplência e cheques sem fundos no mercado. Trata-se da forma mais desonesta e inconsequente de prevenção. Como uma pessoa pode adquirir um bem, um serviço sem dispor de dinheiro para tais despesas? Tal prática beira a demência! Eu devo, não nego , mas não tenho como pagar.
Agora no arremate de pontuais considerações sobre tão vasta temática eu pego um campo onde somos campeões em falta de prevenção, em previdência. Em tempo: até nosso vetusto INSS é imprevidente com seus segurados. Como sofrem as pessoas que dependem da previdência social. Somos mestres  no descuido com a saúde. Hoje depender de INSS e SUS, além de susto é risco de morte .
 No estilo pingue-pongue vamos a outros exemplos : passei a vida toda em orgias alimentares, cheguei à obesidade mórbida. Agora vou fazer dieta e cirurgia bariátrica. Aí vem os efeitos sanfona do emagrece, engorda , recaídas, muita vez, se  engorda mais do que antes da cirurgia. Cirurgia , aliás, de grande porte, com seus riscos e mordidades no pós-operatório.
Levei uma vida sedentária, fumando e bebendo. Colesterol e açúcar no sangue sempre altos. Tive um infarto. Pronto, agora eu preciso me tratar, me reabilitar e exercitar, porque o bicho ( no caso novo infarto) pode me pegar de novo .
Check-up e exames preventivos periódicos para que? Eu não sinto nada. Se acometido por um câncer corriqueiro, tão preventivo , de mama, próstata, de útero, de aparelho digestivo; bate logo o desespero. Meu Deus! Por que logo eu? Não sentia nada, agora eu vou me tratar; e vem então a via crucis de quimioterapia, radioterapia, sequelas . Tudo poderia ter sido evitado.
E então eu finalizo e deixo uma pergunta: Se até com o bem mais precioso, a saúde, o  gênero humano é esculachado e desprevenido com o que mais ele  vai se antecipar e ser previdente? Só mesmo os humanos racionais e inteligentes . Tínhamos que olhar mais e aprender com a natureza. Quem sabe as abelhas e as formigas poderiam nos dar alguns conselhos, algumas lições previdenciárias; com a palavra estes insetos tão organizados e preventivos.  A gente pode até cantar muito e divertir como as cigarras, mas aprender um pouco a se prevenir como fazem por exemplo as saúvas e mesmo as formiguinhas-doceiras .
        João Joaquim médico- cronista DM  joaomedicina.ufg@gmail.com


Nenhum comentário:

Os aditivos fúteis e vazios da Internet e redes sociais

  E nesses termos caminham rebanhos e rebanhos de humanos. Com bastante fundamento e substância afirmou o filósofo alemão Friedrich Nietzsch...