A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo..
João Joaquim
A fim de facilitar o nosso raciocínio eu quero dividir os
nossos tempos em era pré e pós-internet. A era da virtualidade
(internet) conforme o uso que se faz dela, como se referia Millôr Fernandes
pode também ser chamada de tempos da infernet. Muito pertinente tamanha a
devassidão e libertinagem que tomaram conta da grande rede. Naturalmente que
temos a turma de bem. Ela serve como jornalismo, fonte de pesquisa,
enciclopédia ( wikipedia), transmissão de dados, redes sociais do bem etc.
Mas, para favorecer nosso entendimento quero me referir à
sociedade de antes e depois dessa grande invenção midiática que iniciou com
todo gás no 3º milênio (ano 2000 em diante).
Quero inclusive, falando de Brasil, tecer comentários de
nossos costumes e cultura bem antes da massificação dos recursos de
informática. Eu era muito jovem e ainda me lembro bem.
Estávamos nas décadas de 1970, 1980. Ter uma máquina Olivetti ou
Remington era como ter hoje uma BMW ou Mercedez Benz. Era um bem restrito
a poucas pessoas e de muito luxo.
As famílias de classe média dos anos 70 e 80 ainda tinham
prole de mais de 3 ou 4 filhos. Como pensavam os pais sobre a criação e
educação dos filhos? Primeiro, que os pimpolhos fizessem um bom
colégio (2º grau). Naquela época (governo militar) os ciclos escolares eram
diferentes dos de hoje. Fazia-se o curso primário até o 4º ano. Aí tinha uma
prova pré-admissão para o curso ginasial de mais 4 anos. Depois existiam
os ciclos de 2º grau. Lembro-me de duas opções principais: tinha o curso
normal, maciçamente preferido pelas moças que queriam seguir a carreira de
magistério. E havia a opção do colégio científico para quem queria outra
profissão. Médicos, advogados, engenheiro etc.
Eu por exemplo fiz o primário, o ginasial, o colégio
científico e vestibular em seguida para Medicina - formei-me pela UF de Juiz De
Fora MG. Todas essas escolas foram públicas. E eram de boa qualidade. Tanto
assim que não precisei de cursinhos treineiros para passar no vestibular. Os
cursos pré-vestibular de hoje não ensinam o aluno a pensar, são treinados a
responder questões , uma modalidade de competição para ver quem
acerta mais e consegue os pontos para entrar na universidade. O que ainda salva
é a redação . Esta sim decide quem sabe usar o raciocínio lógico, a aptidão
para expressar seus pensamentos e idéias.
Os pais e mesmo os jovens daqueles tempos( pré-Internet)
tinham como metas e ambição de fazer um bom curso colegial e entrar
numa boa faculdade. Os sonhos eram ter um médico, um advogado, um engenheiro na
família. Isto era motivo de orgulho não só para os jovens e famílias, mas até
para a sociedade que abrigava essas famílias e esses privilegiados estudantes e
formandos.
A esta altura, certamente, aqueles meus leitores mais jovens
(abaixo de 30 anos) devem estar se perguntando, mas quanta mudança? Como tudo
mudou! Logo agora que estamos na era digital e da informática! Eu responderia:
que bons tempos aqueles onde se dava muita importância às escolas, às
faculdades, à formação profissional, à cultura em geral, às disciplinas de
Ética e educação cívica. Hoje predomina a cultura( ou incultura
) do Internetês. Escreve-se tudo em códigos, sem regras gramaticais,
sem sintaxe, sem regência verbal, etc. Um escracho geral em termos
de linguagem.
Não há como a gente não comparar o que eram os anseios e
projetos da juventude dos tempos pré-Internet e os de hoje. Fica a sensação de
que os recursos de informática e a popularização da internet provocaram um
fenômeno de alienação em nossos adolescentes e jovens. Ninguém mais dessas
criaturas querem ter a ambição, o desejo, o sonho de obter uma ascensão social,
profissional e cultural em suas vidas. A juventude que com toda sua
energia, seu entusiasmo, seu espírito de mudança foi sempre tida como o
futuro e salvação de uma sociedade, de um país. Será que esta esperança dos
mais idosos ainda prevalece ? Eu estou cético e pessimista em relação ao futuro
de nossa cultura e de nossos jovens.
Ao lançarmos um olhar mais atento para os moços e moças de
hoje é oportuno perguntar: O que querem essas pessoas jovens , na fase áurea e
mais encantadora e vigorosa de suas vidas? Que futuro podemos esperar de nossa
juventude de nossa era digital e midiática. Lamentavelmente o que
assistimos hoje são hordas de arruaceiros e baderneiros. Quando esses jovens se
agrupam ao que parece, são no intento de protestos vazios, sem pautas de reivindicações
convincentes e na maioria com atitudes e práticas de vandalismo, depredação de
patrimônio público e privado e nada mais. Acomodados e entocados em seus
cantos, em suas casas e quartos temos uma legião de adolescentes e jovens,
alheios (alienados) ao que se passa lá fora. Todos eles estão
contentes e plugados na internet, nas redes sociais, em seus objetos de mídia.
Para esses o futuro não existe. Todos estão conectados no mundo virtual. Eles
não estudam, não têm projetos de vida, não sonham como os jovens da era
pré-internet. Os sonhos para eles já vêm prontos através da navegação
virtual. Então pensar e criar para quê? Que triste, quanta futilidade anda
tomando conta de nossa juventude. É muita falta de esperança e futuro!
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