COMECEMOS AGORA E FAÇAMOS UM NOVO FIM
João Joaquim
Já imaginou se o espírito de natal fosse uma constante no
comportamento, na vida e nas atitudes de cada pessoa? Se cada um tirasse 100 ou
200 gramas que fosse do seu prato e desse a um dos 7,5 milhões de famintos
do Brasil? Neste gesto além de aliviar a fome do semelhante o sujeito
perderia um pouco do excesso de peso , filantropia e saúde pura
Já imaginou se cada um de nós pegasse o dinheiro de alguma
futilidade que compramos , de uma bebida, de uma gordura a mais e
desse de agasalho ou comida para um irmão com estas necessidades?
Fossem essas singelas atitudes exercidas pelos 200 milhões
de brasileiros, que fossem 10 ou 12 vezes por ano, uma por mês, o mundo e o
Brasil seriam mais justos, mais humanos, mais dignos e sem fome.
No livro cadeira de balanço em uma de suas belas crônicas
Drummond de Andrade (1902-1987) imaginou um mundo no qual o Natal se
prolongasse todos os dias do ano. Eu sou daqueles que acreditam muito no ser
humano. A solidariedade é um sentimento muito real e presente nos
corações das pessoas de forma natural. O que ocorre é um processo de
massificação; de materialismo, da idolatria do consumo, da posse e do egoísmo.
Cada vez mais somos uma sociedade do distanciamento do outro, da dispersão
familiar onde prevalece o princípio de cada um por si e Deus por todos, quando
o mais humano e civilizado seria todos por um e um por todos.
O resgate do humanismo (amor) das pessoas ainda está na
busca do exemplo crístico de Jesus de Nazaré. Ele foi o mais genuíno e
consensual exemplo de solidariedade, afetividade e proteção ao outro , aos
nossos irmãos e semelhantes.
Aliás, é bom lembrar aos mais afoitos e desinformados que
Natal se refere ao nascimento dEle, Jesus Cristo. Como personagem místico e
teológico, e mesmo histórico Jesus constitui o símbolo da solidariedade, da
fraternidade e amor ao próximo. É difícil e inimaginável pensar na humanidade
de cada um sem esses atributos.
Os sentimentos de acolhimento ao próximo, de generosidade e
de amor são tão peculiares à noção de civilidade e virtude que devem ser
pensados e praticados dissociados da obrigação de ser ou não religioso(a), de
acreditar ou não em Deus. A vida sem a noção de coletividade, de grupo, da
companhia do outro é quase impossível. Aquela história de Robinson Crusoé , de
Daniel Defoe( 1719, Reino Unido), onde o personagem passou 28 anos isolado numa
ilha é quase impossível. Segundo se deduz do romance, Crusoé conseguiu viver
esse tempo sozinho( náufrago ) , porque ele tinha introjetado a convivência familiar
anterior. Ninguém consegue viver sem o outro.
A prática do bem e do altruísmo está acima da crença ou
religião de cada um. Os ramos da filosofia (oriental ou ocidental) em todos os
tempos e nos seus diversos ensinamentos sempre têm o exercício do bem, da ética
e solidariedade como principais recomendações para uma pessoa civlizada.
Demócrito de Abdera (460-370 a.c) cravou esta premissa “ É
preciso ou ser bom ou imitar quem o é”. Platão (428-347 a. C) foi outro titã da
filosofia grega que exaltava a prática da virtude e do bem. Disse
ele: “ a ideia do bem é a mais elevada das Ciências e é para ela que a justiça
e as outras virtudes se tornam úteis e valiosas”.
Hoje, nos encontramos num estágio civilizatório que, às
vezes, perdemos um pouco da esperança em um mundo melhor. Um mundo bom,
generoso e solidário com todos. Apesar do ceticismo de muitos, e não sem razão,
eu, a exemplo da menina Anne Frank ainda acredito na bondade das pessoas.
Apesar de sermos enganados e traídos por tanta gente, por tantos lideres
políticos dos bens públicos, por tantos governantes e estadistas; eu ainda
vejo, assisto e convivo com muitas pessoas cheias de bondade e amor. E estas
pessoas, às vezes, simples e anônimas, em que pese todas as durezas e amarguras
da vida; me dão a certeza de que o bem existe e ele há de prevalecer sobre a
arrogância e egoísmo de muitos, aqueles que idolatram somente a imagem, a posse
desmedida de toda sorte de bens materiais.
Os festejos e farturas de Natal devem ser uma data propícia
para uma reanálise da vida de cada um. Um momento de amolecer nossos corações.
Mas, que não sejamos apenas guiados por apelos e marketing da Brahma,
da Coca-cola, da Skol, da Samsung, da Sadia, do Mc Donald .
Quem sabe a gente não repita esses gestos outras vezes
durante o ano. Não precisa ser 365 vezes como deseja Drummond. Dez, doze, já
faria algumas pessoas sentirem mais humanas e cientes que elas não estão
sozinhas neste mundo.
Quem sabe não possamos praticar o que nos ensinou Chico
Xavier : " Eu não posso voltar atrás e fazer um novo começo , mas posso
começar agora e fazer um novo fim" .
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