quinta-feira, 30 de julho de 2015

DE MÉDICO A VÍTIMA

DE PACIENTE A SOCORRISTA DO PRÓPRIO CARDIOLOGISTA
 João Joaquim          

     
 Nosso mundo e a humanidade têm as suas histórias (reais, com h) e estórias (verossímeis ou fictícias). Em cada civilização ou nação existe também a chamada mitologia. Dentro as mais famosas a grega e a romana. Dos mitos ou folclore  brasileiros por exemplo quem não conhece o do saci-pererê, do lobisomem, da mula-sem-cabeça, do boitatá etc?
Na cultura popular temos as piadas, que nada mais são que estórias ou sentenças sumárias envolvendo ações humanas ou mesmo de animais. O interessante de muitas piadas e anedotas é que elas surgem de um fato real. O que ocorre de diferente é o contador da anedota dar uma maquiada e realçada na ocorrência tornando-a de fato engraçada e risível .É o princípio: quem conta um conto, aumenta um ponto. Outras criações engenhosas da mente humana são as alegorias, as parábolas, as figuras estilísticas de linguagem. A própria Bíblia tem exemplos marcantes de parábolas e figuras de linguagem. É uma maneira muita inteligente de dar força e realce às mensagens.
Quando estudamos por exemplos os mitos gregos ou romanos e o perfil dos respectivos personagens, poderíamos numa análise imediata e superficial considerá-los com um certo desdém ou inutilidade. Mas, basta lembrar que eles não surgiram do nada. Todos foram concebidos por mentes notáveis. Filósofos de grande aptidão analítica e metafísica. Basta ler algumas criações de Sócrates e Platão, para ficar nesses dois exemplos. Os mitos na cultura grega têm um certo paralelo e equivalência das parábolas bíblicas. São símbolos de grande ensinamento e valor moral para nós humanos.
Fiz esta extensa introdução falando de história e estória, de anedotas e mitos. Isto foi mais longamente  descrito apenas para descrever uma história (real) que ocorrera com um médico, meu par de profissão, cuja carreira eu conheço de alguns anos. Vou chamá-lo pelo epíteto de Márcio Fagundes, 50 anos ,para preservar a sua imagem e re-pu-ta-ção.
Aquele dia 25 de abril/2015 foi apenas mais um dia na rotina atribulada do cardiologista Fagundes. Consultório cheio, atendimento até 22 horas da noite. Sua jornada começava por volta das 6 horas com passagem no hospital com pacientes internados. Dr. Fagundes era metódico. Todos os pacientes eram agendados e atendidos sem muito atraso. Esta demora quando se dava era motivada por uma e outra razão ligada ao perfil clínico de algum doente que exigisse um exame mais meticuloso. Algum caso fortuito de procura sem prévia marcação era também atendido, desde que aguardasse a última consulta da agenda. E assim se deu nesse dia 25. Foi quando esse segundo  personagem da história e paciente se apresentou para consulta porque vinha sentindo uma dor torácica, com suspeita de ser angina (dor que precede o infarto). Já passava das 20:00 horas, a secretária já tinha sido dispensada como habitual, 18:00 horas. João Vidal Odones então espera sair o próximo paciente e aborda o médico.    
 -Dr. Márcio, estou com uma dor no peito há mais de 10 dias, dá para o sr. me atender? O médico percebe que não se tratava de uma urgência, foi solícito  e prestimoso
- Se o Sr. aguardar o último paciente eu o atendo. Basta esperar  aqui na recepção.   Eu o chamo porque a minha auxiliar já foi embora.
Assim acordado, assim acontecido. O sr Vidal foi informado que ainda restava 4 pacientes para chegar ,além daquele  da vez. Para evitar o tédio da espera ,Vidal resolveu dar uma volta, ir em casa e retornar lá pelas 10 horas da noite. Assim feito e no retorno o último paciente já estava em atendimento.
Eram cerca de 22:15 h quando a porta do consultório se abriu. Na verdade era uma cliente, uma jovem senhora, que passou serena pela sala de espera e ainda desejou uma boa noite ao nosso Vidal. O inopinado que relata o nosso aqui extra paciente( sr Odones), é que o dr Fagundes o chamou para a consulta com um atraso de 15 minutos. Nesse ínterim, ouviram-se ruídos de cadeiras, torneiras abertas para lavagem de mãos e descarga de sanitário.
O médico assoma-se à porta de consultório e ordena  - Vamos entrar sr. Vidal, assente-se por favor! O que se passa com o senhor?
- Antes disso doutor o sr. passa bem? Estou sentindo o seu rosto pálido e com uma pequena suadeira! Pode ser pressão baixa. Posso ver a pressão do doutor? Pressão medida, 10 por 5. Pulsação 120 por minuto. Doutor o senhor não está bem, vou chamar o resgate.
- Eu acho que estou infartando, me deita na maca, me pega uma aspirina e um isordil na minha maleta e me ponha o oxigênio no nariz. E assim foi procedido inicialmente pelo paciente Vidal Odones ( em carne e osso e coração, suspeito de ter angina) ao seu cardiologista também aqui de cognome dr Márcio Fagundes (50 anos). O resgate chegou a tempo, o paciente agora invertido, que sempre tratou as doenças do coração, foi levado a um hospital de referência .
Eu, o autor desta verídica crônica,  que sou amigo e próximo do Dr. Márcio Fagundes, fui visitá-lo já na convalescência no hospital. Ele foi de pronto e muito bem atendido. Sobreviveu ao infarto, recebeu  2 angioplastias, 2 stents e já se encontra trabalhando com recomendações de menos estresse, menor jornada de atividades e evitação de fatores emocionais que façam mal ao coração. 


 João Joaquim - médico - articulista DM - joaomedicina.ufg@gmail.com

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