VENDE-SE O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE
João Joaquim
Todos temos observado o quanto as pessoas
lutam para não parecer que estão envelhecendo. Cada vez mais , vemos muitos
procedimentos, e recursos, e terapias, e drogas, e cirurgias, e disfarces
para não se mostrar velhas. Tudo para não mostrar a idade que têm! Na verdade
vivemos uma epidemia neurótica pela busca da juventude eterna, do corpo
turbinado, de glúteos e seios estufados, de lábios grossos artificialmente, de
faces esticadas, de pálpebras plastificadas. As senhoras não têm mais os
cabelos encanecidos como as avós de idos tempos. Todas colorem as madeixas de
loiro ou preto. Os homens não aceitam mais a calvície. Para isto inventaram os
implantes capilares. E a moda pegou geral. E então pergunta-se, por que as
pessoas não querem a idade que de fato têm? O que leva uma mulher, um homem a
esconder a sua idade? Porquê de buscar artifícios e modas como disfarce
do próprio envelhecimento? Ora, vamos buscar alguma luz nos ensinamentos da
antropologia, da sociologia, da psicanálise.
Desde que o mundo é mundo, de quando o gênero
humano surgiu, se sabe que a existência de qualquer animal tem o
imutável ciclo nascimento-maturidade-velhice- morte. Este determinismo da
existência humana é imutável, a que ninguém pode se furtar a uma aceitação
tácita, pacífica e inelutável.
Nessa perspectiva da juventude eterna (desejo
imanente) do ser humano é contributivo que busquemos outras definições. Por
exemplo, entre outras ideias, o que é a vida? O que é a morte? O que é o
tempo (ou idade)?
Vejam meus leitores(as) o quanto pode parecer
enganoso e pérfido definir tais estados. Uma pessoa mais afoita e pouco
reflexiva se encarregaria de pronto em considerar fácil tal definição. Vida
seria talvez (para essa pessoa) o conjunto de atividades ou propriedades de
metabolismo, de crescimento, de reprodução, reação aos estímulos sensoriais
formando então um organismo, um animal. Se considerar o animal humano,
ainda se acrescentariam os atributos de razão, pensamento, discernimento,
dualidade física (corpo) e abstrata (alma). A princípio, um conceito que traz
ótimas impressões, beleza e estética. Mas, ele é subjetivo, não um consenso dos
que estudam e interpretam a vida.
E a ideia de morte? Num entendimento simplista
seria a cessação de todas as atividades acima expressas sobre a vida. Para a
Medicina por exemplo o conceito de morte, começa pela morte cerebral. Morte
encefálica nada mais é do que uma arreflexia absoluta e irreversível.
Param todas as sensações: térmica , tátil, dolorosa, auditiva, gustativa
etc . O encéfalo como um todo não emite mais nenhuma onda de ação elétrica
neuronal (vista no eletroencefalograma).
E o tempo. Quem ousaria conceituá-lo de forma
insofismável e convivente? Entre os cientistas de várias áreas ou filósofos
existencialistas cada um a seu tempo certamente emitiria uma ideia. Só
para ficar com alguns exemplos. John Wheeler: o tempo é o jeito que a natureza
encontrou para não deixar que tudo acontecesse de uma só vez. Vejam, se
não é belo este pensamento. Albert Einstein: a distinção entre passado,
presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão! Observem que os
dois divergem na definição da mesma coisa, o tempo. Há uma frase também da
rádio relógio (RJ) que é bem criativa sobre o tempo: “cada segundo que passa é
um milagre que jamais se repete”.
Eis então a questão capital ; o que tem a ver
a neurose da eterna juventude com essas realidades: vida, morte e
tempo? Ao fim e ao cabo, nós humanos, temos a atitude do aceite, da acomodação
ao que seja na íntegra esses fatos indissociáveis de nossa existência. De forma
breve pensemos a idade de uma pessoa na dimensão de Deus. Assim pensado nossa
idade ou toda existência biológica, neste planeta, nada mais é do que um
minúsculo capítulo de toda existência pré e pós-mortem. É muito pequeno e
insignificante pensar o ser humano como apenas uma dimensão biológica
terrena. A grande nobreza da condição humano está em sua estrutura
biopsicossocial. Somos um ser refinadamente diferenciado por termos
inteligência, razão, discernimento, livre-arbítrio e uma condição imortal , a
Alma. Não foi sem razão que Sócrates, forçado ao suicídio o fez de forma
serena e escarnecendo de seus algozes. Nas palavras dele (Sócrates) os que o
condenaram tremiam mais do que vara verde. E o grande filósofo e sábio
assim se comportou pela firme convicção na imortalidade da alma.
Enfim e no balanço das ideias, a fobia, o
medo, o preconceito social à velhice tem sido uma criação da hipermodernidade,
das indústrias do consumo e da beleza, do mercado de toda forma de
procedimentos estéticos e cirurgias plásticas. É a venda de uma ilusão ,
a tentativa de burlar e ofuscar um fenômeno natural . O envelhecimento é tão
natural e inevitável como o nascer, o crescer , a maturidade , a morte.
E toda essa busca ansiada e tão obsessiva pelo
disfarce e ocultação das rugas, dos sinais de senilidade tem liame forte
com a publicidade. A mídia tem tudo a ver com esse mal que cada vez mais assola
a humanidade. O inconformismo com a idade em todas as fases da vida tem
deixado as pessoas mais e mais infelizes. Falta a elas refletir mais sobre o
que é a vida, a morte, o tempo! Falta a elas pensar melhor com a alma
e sobre a alma. Que lindo e reconfortante seria!
João Joaquim - médico e articulista do
DM joaomedicina.ufg@gmail.com
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