quinta-feira, 30 de julho de 2015

ELIXIR DA ETERNA...

VENDE-SE O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE

 João  Joaquim


 Todos temos observado o quanto as pessoas lutam para não parecer que estão envelhecendo. Cada vez mais , vemos muitos  procedimentos, e recursos, e terapias, e drogas, e cirurgias, e disfarces para não se mostrar velhas. Tudo para não mostrar a idade que têm! Na verdade vivemos uma epidemia neurótica pela busca da juventude eterna, do corpo turbinado, de glúteos e seios estufados, de lábios grossos artificialmente, de faces esticadas, de pálpebras plastificadas. As senhoras  não têm mais os cabelos encanecidos como as avós de idos tempos. Todas colorem as madeixas de loiro ou preto. Os homens não aceitam mais a calvície. Para isto inventaram os implantes capilares. E a moda pegou geral. E então pergunta-se, por que as pessoas não querem a idade que de fato têm? O que leva uma mulher, um homem a esconder a sua idade? Porquê de  buscar artifícios e modas como disfarce do próprio envelhecimento? Ora, vamos buscar alguma luz nos ensinamentos da antropologia, da sociologia, da psicanálise.
Desde que o mundo é mundo, de quando o gênero humano surgiu, se sabe que a existência de qualquer animal   tem o imutável ciclo nascimento-maturidade-velhice-morte. Este determinismo da existência humana é imutável, a que ninguém pode se furtar a uma aceitação tácita, pacífica e inelutável.
Nessa perspectiva da juventude eterna (desejo imanente) do ser humano é contributivo que busquemos outras definições. Por exemplo, entre outras  ideias, o que é a vida? O que é a morte? O que é o tempo (ou idade)?
Vejam meus leitores(as) o quanto pode parecer enganoso e pérfido definir tais estados. Uma pessoa mais afoita e pouco reflexiva se encarregaria de pronto em considerar fácil tal definição. Vida seria talvez (para essa pessoa) o conjunto de atividades ou propriedades de metabolismo, de crescimento, de reprodução, reação aos estímulos sensoriais formando então um organismo, um animal. Se considerar o animal  humano, ainda se acrescentariam os atributos de razão, pensamento, discernimento, dualidade física (corpo) e abstrata (alma). A princípio, um conceito que traz ótimas impressões, beleza e estética. Mas, ele é subjetivo, não um consenso dos que estudam e interpretam a vida.
E a ideia de morte? Num entendimento simplista seria a cessação de todas as atividades acima expressas sobre a vida. Para a Medicina por exemplo o conceito de morte, começa pela morte cerebral. Morte encefálica nada  mais é do que uma arreflexia absoluta e irreversível. Param todas as sensações:  térmica , tátil, dolorosa, auditiva, gustativa etc . O encéfalo como um todo não emite mais nenhuma onda de ação elétrica  neuronal (vista no eletroencefalograma).
E o tempo. Quem ousaria conceituá-lo de forma insofismável e convivente? Entre os cientistas de várias áreas ou filósofos existencialistas  cada um a seu tempo certamente emitiria uma ideia. Só para ficar com alguns exemplos. John Wheeler: o tempo é o jeito que a natureza encontrou para não deixar que tudo acontecesse de uma só  vez. Vejam, se não é belo este pensamento. Albert Einstein: a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão! Observem que os dois divergem na definição da mesma coisa, o tempo. Há uma frase também da rádio relógio (RJ) que é bem criativa sobre o tempo: “cada segundo que passa é um milagre que jamais se repete”.
Eis então a questão capital ; o  que tem a ver  a neurose da eterna juventude com essas realidades:  vida, morte e tempo? Ao fim e ao cabo, nós humanos, temos a atitude do aceite, da acomodação ao que seja na íntegra esses fatos indissociáveis de nossa existência. De forma breve pensemos a idade de uma pessoa na dimensão de Deus. Assim pensado nossa idade ou toda existência biológica, neste planeta,  nada mais é do que um minúsculo capítulo  de toda existência pré e pós-mortem. É muito pequeno e insignificante pensar o ser humano como apenas uma dimensão biológica terrena.  A grande nobreza da condição humano está em sua estrutura biopsicossocial. Somos um ser refinadamente diferenciado por termos inteligência, razão, discernimento, livre-arbítrio e uma condição imortal , a Alma.  Não foi sem razão que Sócrates, forçado ao suicídio o fez de forma serena e escarnecendo de seus algozes. Nas palavras dele (Sócrates) os que o condenaram tremiam mais do que vara verde. E o grande filósofo e sábio  assim se comportou pela firme convicção na imortalidade da alma.
Enfim e no balanço  das ideias, a fobia, o medo, o preconceito social à velhice tem sido uma criação da hipermodernidade, das indústrias do consumo e da beleza, do mercado de toda forma de procedimentos estéticos e cirurgias plásticas. É a  venda de uma ilusão , a tentativa de burlar e ofuscar um fenômeno natural . O envelhecimento é tão natural e inevitável como o nascer, o crescer , a maturidade , a morte.
E toda essa busca ansiada e tão obsessiva pelo disfarce e ocultação das rugas, dos sinais de senilidade tem liame  forte com a publicidade. A mídia tem tudo a ver com esse mal que cada vez mais assola a humanidade. O inconformismo com a idade em todas as  fases da vida tem deixado as pessoas mais e mais infelizes. Falta a elas refletir mais sobre o que é a vida, a morte, o tempo!  Falta a elas pensar melhor com a alma  e sobre a alma. Que lindo e reconfortante seria!    
 João Joaquim  - médico e articulista do DM joaomedicina.ufg@gmail.com

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