domingo, 30 de agosto de 2015

CPI DE CORRUPÇÃO

Diálogos República(veis) de Uma CPI de Corrupção
 João Joaquim


A sessão é aberta e o presidente dirige-se aos membros da comissão
 -Srs deputados, vamos dar início aos nossos trabalhos. Ops, novidade, porque primeiro é segunda feira, depois quem diz que parlamentar trabalha? Mas, deixemos o nosso representante ir em frente.
- Todos assentados e de preferência com os seus celulares desligados ou no silencioso.
-O depoente intimado tem a permissão para se identificar e se apresentar.
Iniciado o interrogatório, tudo volta como dantes no plenário de burburinhos e cochichos. Em tempo: uma, comissão parlamentar de inquérito(CPI) funciona assim: tem o presidente, o relator, o vice-presidente, o depoente e seu constituído advogado. As sessões  podem ser públicas, com órgãos de imprensa presentes, ou fechada e sigilosa. Temos ainda que pode o depoente falar ou ficar mudo. Para tanto basta que ele tenha um “habeas-corpus” ( deveria se chamar habeas-bucca) de responder ou não o que lhe for perguntado. Pode parecer esdrúxulo mas aqui no Brasil e alhures é assim que funciona e regem as leis e  a constituição.
A sessão ora aqui relatada era aberta ao público e à imprensa, por isto podia ser vista e ouvida porque também tinham na cobertura radio e televisão. O presidente está com a palavra e dirige-se ao primeiro parlamentar inscrito.
- Deputado X1, vossa excelência tem a palavra durante cinco minutos para fazer as interpelações que julgar necessárias ao depoente. O nosso representante se ajeita na cadeira, faz uma assuada nas narinas, limpa o bigode, posiciona frontalmente o microfone e começa então o ritual das interrogações.
 A essência  e natureza dessas oitivas são  tidas e sabidas sem importância porque tudo se encerra em um diz-que-não-diz e o arremate ou epílogo  como o de todas outras CPIs  se dá em um plenário de  pizzaria. No plenário de uma dessas comissões , como de resto em muitas outras sessões do congresso é que se passam muitos acontecimentos mais  rentáveis que nem de longe sonha nossa vã e curiosa  Filosofia.
Mas, como estamos no século da informática e dos recursos digitais vamos aos adendos a quem não é muito afeito às redes sociais ( face, whats...).
Deputado X2 ao celular  -Alô! Aqui quem fala é o X2.
-“Pois não deputado, aqui é o Zé Gamela (capataz). Sabe aquele lote de nelore que tava pra chegar? Chegou, das três mil cabeças da boiada, só umas três que teve problema no transporte e foram abatidas. No mais tá tudo nos conformes”.
- Tá bom gamela! Escuta!  aquele criador de cavalos pegou os dez mangas-largas que me comprou?
- Pegou sim dr deputado. Ele deixou aqui um chequinho comigo. Tudo conforme o combinado, no valor de dez mil (entenda-se milhões). Este cheque eu posso depositar naquela sua conta da caixa?
- Não Gamela, este você deposita na conta do Silva Naranga( entenda-se citricultor)  , meu cunhado que você já conhece.
A sessão tem curso e muitos dos membros da referida comissão comportam-se como se nada a eles dissesse respeito. Uns coçam as caspas da cabeça, outros consultam e-mails e o  whats, outros coçam algumas partes mais pudendas  e continuam naquele  mundinho à margem  da realidade brasilis e dos embates com o depoente da sessão cepeitiana .
O deputado X3 parece no território da lua, todo refestelado e bem repoltreado em sua cadeira. Como seus pares, passa em revista as últimas notícias no i-Phone. Eis que chega uma chamada
 -Alô. Oi meu bem, só pra lhe falar que meu carro chegou. Sabe aquele  meu Audi 2,0 de 10.000 km rodados,  o gerente pegou ele na troca. Eu gostei mesmo foi da BMV. Ela é mais confortável e melhor de levar as crianças à escola. Dei um cheque de nossa conta, foram só 330 de troco (entenda-se mil).
-Tá tudo certo amor, o importante é seu gosto.
 Já passam das 19 horas  e alguns inquiridores da sessão já se foram embora.
O deputado X4 está de cochichos com o colega do lado. X4 já teve a palavra . Aliás, foi ele o mais breve na  sua inquisição. Ele recebe uma mensagem no whats
 -Você me pega aqui às oito? Já saí do salão, estou de cabelos e unhas prontas. A Zuleide (cabeleireira) me falou que estou chiquérrima. Eu disse pra ela que queria ficar bonita pra você. Mas, não falei seu nome.
- Ok amor, legal, me espera aí na porta do salão. Estou naquele mesmo carro preto chapa branca. Me aguarde.

Como se depreende dos diálogos no plenário de uma casa legislativa, seja em uma sessão aberta ou fechada à imprensa,  no centro ou em seus recônditos há muitas outras coisas que não sonha a nossa  mais  vã ou fútil Filosofia.  

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