domingo, 30 de agosto de 2015

HERANÇA CANINA..

OS CACHORROS COMO HERANÇA
 João Joaquim 


Assim se passa a História entre dois vizinhos humanos, de um lado um morador solitário , do outro uma viúva( “de marido”), mas na companhia de um filho gente e filhos cachorros.  Assim relata Luziano Cerbino( o sr Luzi ).
 A rotina de Maria Pancrácia Vanilina, vulgo Vani, era sempre previsível de todos. Levantar, fazer o café, trocar água e ração dos cachorros; eram três bichos; jogar os excrementos fora, tomar o café da manhã, dar uma ajeitada na casa e adivinhem o passo seguinte? Isto mesmo, tudo previsível : passear, como ela mesma referia, com os filhos quadrúpedes.
E naqueles ligeiros encontros e despedidas, dona Vani foi pontuando-me sua biografia. Ela tinha uns 55 anos , talvez um pouco mais posto que ela tinha dois filhos, 28 e 30 anos. Um já casado, o outro morava com a mãe. Ela ainda esperava pela realização de ser avó.
-Dona Vani, a senhora não cansa dessa rotina que, diga-se com efeito, não é das leves?
- Sinto-me, tem dia, já fatigada dessa obrigação, mas preciso cuidar deles (cachorros) porque se não for por mim ninguém faz nada pela alegria e bem-estar dos animais.
- isto mesmo dona Vanilina! Animais precisam de liberdade. Nós somos livres e sabemos o quanto é bom não viver entre muros ou  quatro paredes. Nós ainda podemos sair de forma livre, sem nenhuma rédea, sem canga e sem coleira. Imagine para uma criatura dessas de quatro patas. Não ver o sol nascer, se quer respirar o ar mais puro da atmosfera, não ver ao menos o sol e o céu pela janela. Tudo vai contra a natureza e o instinto da espécie. E por esse termo não hei de esquecer-me o quanto quer bem aos bichos.
Vani era também uma espécie de pessoa bem resolvida com a vida. Ela tinha se enviuvado aos 32 anos e não quisera mais compromissos esponsais. Tivera alguns namorados na viuvez, mas nunca compartilhou o mesmo teto com esses cônjuges. Para ela o bom mesmo era ter uma vida desimpedida, ou como se diz no popular sem peias nem meias.
- Na verdade, seu Luzi (Luziano Cerbino) ,essa prática de ter cachorros foi herança de meu marido. Ele tinha essas doenças de cabeça e o que alegrava o homem  era cuidar desses animais que a gente criava em casa. Depois eu mudei para um prédio e não tive como deixar as crias pra trás.
Vani parece que não era afeita a falar do passado do falecido. Até onde informei, ele morreu suicidando-se. Tratamentos psiquiátricos e analíticos foram muitos. Todos infrutíferos. Ao que sugere era um caso de transtorno de afetividade e humor bipolar. Foi uma tragédia marcante. Como marido e pai o ex foi pessoa de puro caráter. Fora os sintomas de cabeça e relações humanas difíceis , não havia o menor reparo a fazer naquele homem.
- O que a senhora pensa das pessoas que vivem em cidade grande, confinadas em restritos apartamentos, têm tarefas de casa, precisam de trabalhar fora para ajudar no orçamento doméstico e com tudo isso ainda criam cachorros? Afinal os pets exigem cuidados como se gente fosse; tem médicos , ração, higiene, afeto e muito mais.
-Eu não sei seu Luzi . Eu só sei que depois desses meus bichos eu só quero bichos de pelúcia. Tanto que esses, que são a segunda  geração deixada pelo ex já são castrados e quando morrerem, morreu também minha missão de cuidar de cachorro.
- No condomínio (continua Vani), onde moro há 15 anos, já houve brigas de vizinhos em razão de animais. Casos houve em que até a justiça interveio para decidir quem tinha razão. Teve um caso mais complicado com um condômino de nome Anateu Biliário que tirou até arma para outro morador. Era um senhor já de idade o dono dos bichos . Ele tinha dois vira-latas que choravam e latiam muito para sair do apartamento. Depois ele deu os bichos e tudo se apaziguou.
- Olá, bom dia dona Vani! Mais um dia com os filhos quatro patas?
- Mais uma rotina. Amanhece o dia e eles já fazem festa, latem, sorriem porque sabem que vão passear.

O que se depreende é que Maria Pancrácia (Vani) era pessoa normal, boa e de muita humanidade e lucidez. No fundo e em sumário, ficava patente que viúva de marido e no zelo das crias do ex ela tocava a vida sem resmungar. Ao que sugere era sua sina .  Além da pensão do marido  foram também deixados os bichos  como herança. Contanto o que se possa questionar nas lides diárias com aqueles pets,  ela era pessoa feliz e bem resolvida.                       Agosto/2015

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