quarta-feira, 30 de setembro de 2015

QUESTÃO DE PALAVRAS....

A GRAMÁTICA DA VIDA E DA MORTE  
  João Joaquim de Oliveira  


Todos sabemos o quanto é importante a comunicação, as palavras, expressões e frases para a coisa certa, na hora certa e também no contexto próprio. Sabe-se que até a entonação, a pontuação dos termos na frase tem tudo a ver com o sentido que se quer dar ao fato, aos seres, sejam eles abstratos ou não.
Vejam por exemplo como uma vírgula ou acento pode mudar todo o sentido de uma  locução, frase ou texto. Tome-se como exemplo uma mensagem de um presidente de um país a um comandante de guerra. Êi-la:  “ fogo não poupe a cidade”. Esta ordem com o uso da pontuação correta pode resultar em uma tragédia ou salvação de um sem-número de inocentes em função de uma vírgula(,) no texto. Conta-se que da transcrição errada de um telegrafista (anos 1916, I guerra mundial ), houve uma carnificina de uma população. O telegrama original era: “ Fogo não, poupe a cidade”. O comandante recebeu a ordem com a vírgula mal colocada: “ Fogo, não poupe a cidade”. Um desastre por causa de uma reles vírgula mal posicionada no texto telegráfico . Agora imagine hoje com o chamado internetês dos meios virtuais. Por isso que as mensagens eletrônicas não têm muita credibilidade. As pessoas estão cada vez mais se analfabetizando ( desculpe-me pelo neologismo).
Aliás, nosso riquíssimo e polissêmico Português com suas expressões idiomáticas já é cheio de armadilhas e incongruências difíceis para qualquer gringo que venha a estudá-lo. Veja esta pergunta como exemplo: você não poderia me fazer isto? Pois não! Tanto a interrogação quanto a resposta estão negando, quando na verdade entendemos o contrário. O mais coerente dessa resposta seria: pois sim!
Interessante e curioso no uso dos termos dúbios se dá por exemplo até  no mundo do crime. Aqui é quando os meliantes e corruptos e respectivos advogados trazem um outro sentido às palavras e verbetes. Os melhores exemplos têm-se mostrado agora depois do pavoroso e medonho mensalão e com a horrenda e monstruosa roubalheira de nossa petroleira, a Petrobras. E em todo esse sarapatel  , que é a operação lava-jato, é que percebemos a inteligência e esperteza dos criminosos e respectivos advogados em trazer novos significados para as siglas, palavras e frases. É como se eles estivessem reescrevendo uma nova gramática, sintaxe e semântica para a língua portuguesa. O bom de tudo também é que as polícias, ministério público e justiça produziram diversos neologismos e novos significados para palavras antes pouco conhecidas das pessoas. Assim temos mensalão, propina, lava-jato, pixuleco etc, que todos já sabem o significado .
E a tradução de algumas siglas também vem se tornando até pitoresca. Para a sigla PSM encontrada na agenda de um corrupto da Petrobras por exemplo. A polícia federal deduziu que se referisse ao deputado Paulo Salim Maluf. A explicação do investigado:  não, não! PSM seria a sigla do partido dos sem meta(PSM). JD sugere José Dirceu, veio o advogado do dito cujo e foi enfático! Não, não, JD são as inicias de jantar dos domingos. Ou seja para as siglas vale tudo. Deletar provas, em e-mail de um acusado; explicação dele ao juiz  da oitiva, não, não doutor,  se trata de provas de curso on-line. Eu vou estudando e destruindo o que eu estudo.  Ele só não explicou  se era curso de como enganar a Justiça ou alguma pós-graduação de como ficar mais rico sem trabalhar. Vai lá entender o seu internetês.  Agora adivinha se o juiz acreditou nisso.
Para concluir essas notas sobre o correto uso dos termos vale a pena citar uma tragédia ocorrida em 28 julho de 2015 com o jovem Adílio Cabral dos santos, em Madureira RJ. Este ambulante foi atropelado e morto por um trem da chamada super-via e o corpo lançado atravessado sobre os trilhos. Veio a primeira composição e não deu de parar e passou em cima do cadáver, sem, ao que parece, encostar nesse corpo. De pronto surge um grave dilema com os próximos veículos que vinham chegando na ferrovia. Retira o corpo atropelado ou pára  a composição? Não, não pode parar o trânsito porque cerca de 6000 passageiros vão ser prejudicados. E assim foi procedido. Ao todo três diligências da super-via trafegaram por cima do cadáver.
De imediato surgiu um grave conflito de questões éticas, morais e até penais para os responsáveis da concessionária de Madureira. Foi falta de humanidade com os despojos e família do atropelado?  Foi um descaso e crime de vilipêndio àquele cadáver? Interessados estavam os administradores da super-via, a polícia local, direitos humanos e ministério público. E pasmem todos. Eis que tais rumorosos clamores foram resolvidos com uma solução de interpretação e semântica por um guarda da própria concessionária dos trens. Ele se apresentou e foi breve. Era questão de uma vogal.
Na verdade, disse o funcionário em tom pedagógico, os trens não passaram em cima do cadáver. Eles trafegaram acima do corpo. E continuou o agente público com ar professoral ;  o mesmo se daria com uma morte sob um viaduto. A pessoa morta está em baixo e os carros passam acima daquele acidentado. Pouco importa se o espaço entre o corpo e parte inferior da composição seja de 50cm , 2 m ou 10 m. Veja o quanto uma simples questão semântica ou de interpretação  e correto uso de um termo, pacificaram todos os ânimos de quem interessado estava naquele evento trágico de que foi vitima o ambulante e anônimo vendedor de petiscos e balas; e não se falou mais nisso. 
 Com a desumanização da vítima e pobre morto e o  correto emprego de palavras deu-se por encerrado o caso. Se a família entender de reclamar à Justiça ou ao bispo local, certamente haverá alguma indenização a receber. Entrementes, com uma ressalva, o ressarcimento por danos morais  e materiais sairá  lá nas datas das calendas gregas, mais ou menos  em 30 de fevereiro de 2030. 

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