segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A MORTE DE MUITOS ECOS

João Joaquim 


Ao pegar minha esferográfica para compor esta crônica, veio-me a ideia de uma reclamação a Deus. Mas, recuo-me ante aquele princípio:  Deus tem razão que a razão humana desconhece. A queixa que teria a fazer seria: por que todos temos que morrer? Em que pese algumas pessoas não morrer dado que ficarão  apenas encantadas, como sentenciou João Guimarães Rosa(27.06.1908 - 19.11.1967)  que morreu três  dias depois de  ser imortalizado pelo fardão da Academia Brasileira de Letras (ABL). Segundo dizem ele padecia de tanatofobia. Vejam que ele tinha razão .
Mas, enfim esta semana fiquei amolado ao saber da morte natural de um grande personagem do mundo contemporâneo da cultura e da filosofia, o escritor italiano Umberto Eco( 05.01.1932 – 19.02.2016) . Sem trocadilho, ele não foi um nem pouco  mas muito aberto a todos os ramos de conhecimento, de jornalismo, de histórias, de civilizações e do pensamento ocidental. Sua influência, em todos os ramos do conhecimento, já fazia muitos ecos pelo mundo e reverberará  para sempre em vastos segmentos de cultura e das ciências.
Há pessoas que dada a maneira de viver e a contribuição que dão à sua comunidade, onde inseridas ou ao mundo, não deveriam morrer nunca. E não precisam ser famosos, midiáticas. Imaginemos por exemplo um líder comunitário, um voluntário que dispõe a ser um agente transformador com as habilidades que ele tem? O quanto de falta ele faz quando morre. Esta pessoa, sim, merece o qualificativo de importante pela importância (não famosa, às vezes) que ela têm às pessoas mais carentes. Algum indivíduo  importante pode ter fama, mas nem todo famoso é importante. A imprensa está infestada de famosos sem nenhuma importância. Muitos se preocupam em apenas acumular patrimônios, fortunas ,tesouros; enfim cuidando apenas de seu umbigo.
Há certas pessoas que quando se vão me deixam contrariado. Lembra-me agora uma pessoa que quando faleceu me deixou vários dias constrangido. Falo da médica e voluntária Zilda Arns(25.08.1934- 12.01.2010). Ela faleceu no terremoto do Haiti, foram mais de 300.000 mortos.  Essa brasileira, compõe, o panteão daqueles que fazem muita falta quando morrem. São aqueles poucos que deveriam ter imunidade contra a morte em face do quão importantes são para todos que o rodeiam, ou que deles buscam algum amparo e consolo. Zilda Arns foi a fundadora da Pastoral da criança no Brasil.
Mas, enfim, mais um desses se foi. O livro (e filme) mais divulgado e conhecido de Eco é o nome da Rosa escrito em 1985. Sua última obra é número  zero, uma espécie de cartilha do mau jornalismo . Recentemente ele deu uma entrevista para a Globo News, onde sem meias palavras fala sobre cultura, jornalismo difamatório , política e até mesmo sobre o fanfarrão e histriônico Silvio Berlusconi,  ex premier da Itália.
Nessa matéria(entrevista) ele fala por exemplo sobre como o jornalismo pode ser exercido de forma tendenciosa e ideológica, quando não deveria fazê-lo. Expresso de outra forma: se um jornal não pertence a um partido ou a um grupo político seu papel é o de informar com absoluta isenção sem viés ideológico. O enredo desta obra(número zero) busca cenas da Itália nos anos 1990. Mais precisamente, segundo o próprio autor em 1992, quando o país experimentou um segundo declínio.
Por fim, o notável Umberto Eco pontuou sobre a cultura, os personagens, a influência e informações da tão propalada e massificada internet com suas mídias sociais.
E então nosso polímata e eclético escritor, semiótico  e humanista não poupa adjetivos desqualificantes ao mundo dos internautas. Para ele, como subentende  das estrelinhas e nas contrações labiofacias, a internet sendo de acesso sem normas e sem regras, permitiu também uma rede de imbecis, quando todos dizem as imbecilidades e asnices que querem. Ou seja o mundo virtual é uma teia de informações que mais deformam do que agregam algum valor de bom e útil a esses desocupados e vagabundos . Todas aquelas abobrinhas , futilidades, e pornocultura que o sujeito diria nos bares e botecos da vida, agora ele diz pelas redes sociais, numa confraria de idiotas e desinformados . Portanto, falou e disse esse luminar e avatar da literatura , cultura e pensamento atual.                    Fev./2016


João Joaquim - médico - articulista DM

Nenhum comentário:

Necedade especial

  Sejam resultados e produtos de genomas ancestrais ou educacionais, não é incomum deparar-se com um grupo de pessoas (homens e mulheres), m...