segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

CUPIM E....


          
                         CUPIM E CORRUPÇÃO
João Joaquim  


 O assunto entre aqueles dois amigos envolvia muitas amenidades, cultura e trivialidades do dia a dia. Como  é costume ocorrer em momentos de “happy few e happy hour”. E, entretanto, assuntos profissionais também eram entremeados, nessas descontrações. Dr. Chimango Capes Naves, Chico Naves para os íntimos, advogado criminalista; e o professor Francisco Silvestre, biólogo entomologista ,eram amigos da fase colegial.
Cada um dos amigos mirava sua carreira desde a juventude e exerciam magistralmente o ofício escolhido. Mas, não perdiam de gosto a visão e atualização de muitas questões ligadas a cultura, política, artes em geral e esportes. Todos sabemos do quanto é importante e faz diferença quando se exerce uma profissão como uma simples mercadoria ou pura vocação.
Vocação e devoção são dois qualificativos que bem adéquam aos nossos dois personagens desta crônica.
Francisco Silvestre fez graduação em biologia na Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ontário, Canadá. Ele se tornou especialista em insetos, mas tinha uma especial predileção no estudo de formigas e cupins. Vai lá entender , mas vocação é vocação e ponto final.
Chico Naves graduou em direito pela Universidade Federal de São Paulo(Unifesp) de Ribeirão Preto e mestrado pela Unisinos  -RS. Sua tese de mestre em direito criminal versou sobre os chamados crimes de colarinho branco. Como exemplos os de peculato, improbidade administrativa e corrupção; aqueles delitos cabeludos que permeiam o subterrâneo  dos políticos .
O lado bom e atraente em cada encontro de Chico Naves (Dr. Chimango Capes) e Silvestre (professor Francisco Silvestre ) era o interesse de cada qual pelos recônditos ou intimidade da profissão do outro. E ambos não se furtavam em falar de forma generosa e traduzida sobre muitos detalhes e incógnitas de suas atividades. Dados os laços de mútua intimidade não era incomum haver alguma corneteada nos insetos de um e nos clientes do outro.
Como mostra desses pitorescos sarros ou deboches de Chico (o criminalistas) para Silvestre ( o entomologista)  e vice-versa , vale a pena atentar para algumas digressões entre os dois amigos em suas horas do ócio.
Silvestre se deleitava em falar de seus bichinhos do mundo subterrâneo. Os cupins eram os seus prediletos. A qualquer pergunta sobre esses térmites ele o fazia como se fosse de primeira.
- Os cuuupiiins, assim bem frisado, são os isópteros( asas simétricas ) mais típicos e representativos da natureza. São por demais sociais e exemplo do mais eficaz cooperativismo que se tem no mundo animal. São xilófagos e xilófilos. São tão organizados que para bem aproveitar as moléculas de celulose, criam no aparelho digestivo ( de forma comensal) alguns protozoários e bactérias na promoção da digestão. Trata-se de uma perfeita simbiose na natureza.
- Na vida social e política, continuava nosso doutor dos insetos, eles dão exemplos para os humanos. Primeiro porque o regime é monárquico, sempre feminino, com uma rainha, de mandato vitalício. Ao que muitas vezes retorquia Chico Naves em tom de pilhéria –Eh, eh, mas são parasitas e predadores, porque corroem plantas, pisos, tetos e tudo quanto de madeiras encontram pela frente. Silvestre dava sempre aquela risadinha, mas com um cenho de reprovação da piadinha do amigo.
Nosso criminalista, quando instado a falar dos bastidores de sua atuação não se amuava com qualquer curiosidade.
- Meus clientes, repetia Chico Naves, são personalidades de elevada aptidão e alto tino administrativo. São até, não todos, sem uma escolaridade de grau superior. O que não os desqualifica como pessoas de  elevado QI e destacada competência para a gestação( ou gestão ) das coisas públicas e privadas.
E então rebatia em forma de chiste o amigo Silvestre- São competentes e habilidosos mas, roubam e corroem o dinheiro de merenda escolar, o sangue de transfusões e o erário público.
Dr. Chimango Naves se queixava das injustiças e desigualdade das penas impostas em seus clientes ao professor e amigo entomologista.
Silvestre, quando falava de suas formigas e cupins tinha uma sensação diversa do colega criminalista. Dizia ele: -  meus insetos podem até corroer e dilapidar algum armário, alguma cumeeira ou utensílios de madeira, mas o fazem indistintamente, sejam bens públicos ou privados, de nobres ou plebeus , de ricos ou pobres.
No recôndito dos pensamentos de Chico ( o criminalista) e de Silvestre ( o entomologista dos cupins), havia uma sensação mútua e consensual. A matéria, objeto de trabalho de ambos tinha uma denominador comum. Cupim e corrupção corroem bens públicos e privados e são eternos.
Desde que o mundo foi criado, o diabo também criou o cupim e a corrupção. O combate a um e outro busca um estado de enfraquecimento, repressão e equilíbrio, mas aniquilamento e anulação completa, nunca!                       Fev./2016 

João Joaquim - médico - articulista DM 

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