segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

ESCOLAS DE MEDICINA E MÉDICOS EM XEQUE  

João Joaquim  


Eu começo este artigo de opinião com um pensamento que talvez sirva para estudantes de Medicina, estagiários , residentes e mesmo muitos outros colegas médicos, novatos ou veteranos . Digo então: -Todo médico antes de tudo deve ser médico- Trazendo pro vulgar seria:  todo médico, antes de qualquer especialidade deve ser um médico com no mínimo uma visão básica em clínica médica. Isto é o beabá da profissão que exige uma graduação de seis anos.
 Não é pouca coisa. Este tempo de faculdade é mais do que o suficiente para que o estudante saiba 90% de todas as doenças que acometem o organismo humano. Eu vou repetir para que fique bem claro. De cada 10 doenças estudadas pela medicina, 9, ou seja 90% são doenças repetitivas, encontradiças nos ambulatórios, hospitais-escolas e setor de urgências de qualquer hospital. Ou seja, o aluno de medicina tem a obrigação, sem ser um gênio, de sair um especialista em 90% das doenças que acometem a população.
Mas, o por quê dessas considerações iniciais? Trata-se da preocupação com o despreparo, com o que se vê na prática da medicina em nossos dias. Em termos simples para a melhor compreensão de quem lê esta matéria, temos como demonstração da qualificação técnica de um médico duas etapas de sua formação, o que ele solicita de exames e sua prescrição de cada atendimento.
Para mais clareza e exemplo prático. Quando um paciente sai de um ambulatório ou consultório, ele vai portar uma receita apenas, no caso de uma diagnóstico mais simples, ou receita  e um pedido de exames. Nesses dois documentos o médico se revela por inteiro. A prescrição terapêutica pode conter itens de medicamentos e outras recomendações. Esses  dois documentos    encerram por inteiro a qualificação do profissional. Receita + pedido de  exames= competência ética e profissional do médico.
O que tem se visto por aqui, acolá e alhures é de assustar e de estarrecer em se falando de aptidão, preparo e conhecimento no tocante ao exercício da medicina.
E atenção! Em nome da justiça com as faixas etárias e com a experiência, é bom que se diga o seguinte:  Não se trata de prática exclusiva de recém-formados e nem dos não especialistas. Tais condutas inadequadas, não técnicas e fora das diretrizes médicas têm sido vistas por neófitos, mas também por veteranos da profissão. Duas hipóteses se fazem necessárias de pronto nessas cenas , como prováveis causas . Os mais “experientes” se estacionaram no tempo e não mais atualizam porque se acomodaram e sentem bem em suas zonas de conforto e boa remuneração. Os novatos, com insuficiente preparo, estão revelando o quanto mal preparadas estão as faculdades de medicina em oferecer uma formação de boa qualidade no plano ético e técnico-científico. E mais uma justiça: Não são todos os profissionais nesse rebanhão . Existem profissionais já idosos e altamente atualizados ,se nivelando também com outros egressos dos estágios e especializações , muito bem antenados com o que há de melhor , conforme pesquisas e a chamada medicina baseada em evidências.
Tem sido de conhecimento público que as universidades públicas estão, em sua maioria, sucateadas. Tem havido uma deficiência  de tudo. De laboratórios, equipamentos a um corpo doente qualificado. No caso das faculdades de medicina é impossível ter uma boa formação médica sem um hospital-escola a altura do que exige a profissão. É impossível  imaginar um curso de medicina sem um excelente suporte  de anatomia, sem outros laboratórios e para fecho da formação, um hospital-escola exclusivo com um grupo de supervisores e professores altamente treinados, qualificados e dedicados ao estágio dos futuros médicos. Os hospitais-escolas,  ou supostos tais, de hoje, tem sido improvisados para esse fim, muitos não têm estrutura para o treinamento dos formados e em período de residências .
O que se constata na teoria e na prática da formação de nossos médicos que têm entrado  no mercado de trabalho está totalmente fora dos padrões do que deveria ser. Daí os absurdos e as condutas  fora de noção a que estamos assistindo dos profissionais que atendem, medicam e pedem exames dos pacientes. Isto é preocupante! O que há muito tempo vinha se mostrando ruim tem piorado, que é a correta qualificação e preparo dos profissionais que vão lidar com a saúde e vida das pessoas.
 A sociedade e a educação como um todo não podem seguir a tendência das ideologias e desejos de  um grupo de gestores e políticos que comandam os destinos do Brasil. A Medicina, profissão que lida com o mais nobre do ser humano, deve ser nivelada com o que há de melhor no mundo e não com formação de baixa qualidade e incompetente de outros países latinos e caribenhos.  Fev./2016  

João Joaquim - médico - articulista DM

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