quarta-feira, 30 de março de 2016

ABORTOS A ESPERA

O GEMIDO DOS EMBRIÕES CONGELADOS

João Joaquim 

A Medicina é uma profissão que busca o apoio e as bases de muitos ramos científicos para o seu mais ético e humano funcionamento. São exemplos no seu constante aprimoramento a química (na síntese de medicamentos), a física (na execução de terapias e diagnósticos)  e a biologia (fisiologia, citologia, genética, fenômenos de reprodução etc).
Neste artigo busco falar especificamente sobre a reprodução humana. Trata-se de um ramo da Medicina que evoluiu muito. As expressões fertilização “ in vivo ou in vitro” se tornaram até de domínio popular, tais as notícias veiculadas sobre tais práticas em clínicas de ginecologia e obstetrícia.
Antes de falar estritamente em humanos, faço um adendo. Na biologia animal e veterinária por exemplo os avanços chegaram ao estágio de clonagem e sexagem (escolher o sexo das crias). A reprodução induzida (“in vivo ou in vitro”) já vem sendo largamente praticada com vistas à geração de animais como matrizes, reprodutores e ao consumo como alimentos ( produção de  ovos e carnes de suínos e  bovinos).
 O instinto materno, muito mais do que o paterno, é um sentimento dos mais nobres. Ele deve estar presente em todas as mulheres, salvo um e outro caso fora dessa inclinação natural . Antes do advento da especialidade e das clínicas de reprodução humana o que sucedia com os casais inférteis ou estéreis? Três opções: a) aceitar a condição sem filhos, b) filhos adotivos, c) cuidar (ajudar) na criação e educação de sobrinhos ( se tornar tios e tias).
Vieram as clínicas de fertilização. E elas vêm se proliferando. Tornou-se um mercado rentável e próspero;  todavia,  com elas surgiram as questões colaterais. Algumas boas, outras ruins e péssimas. As notícias boas é que casais antes inférteis podem contar com esses serviços para o sonho de ter filhos. O lado ruim desses avanços da Medicina é que quase todas as clínicas são privadas e tudo muito caro. Existem poucas opções pelo SUS e nos hospitais-escolas das faculdades de Medicina.
Uma segunda questão digna de menção se refere à opção de muitas mulheres em adiar o sonho (plano) da maternidade. Todos havemos de lembrar que o risco de infertilidade e síndromes genéticas (ex Down) aumenta com a idade da mãe. Ou seja , mães inférteis mais velhas que buscam fertilização assistida, vão ter mais ônus monetário, porque a indução da gravidez é mais complexa,  e mais riscos de malformações fetais.
Uma terceira questão, talvez pouco lembrada de quem procura ter gestação induzida (“artificial, forçada, in vitro, de laboratório” ;  vários termos) envolve questões bioéticas graves, gravíssimas. Para tanto basta lembrar o que é feito e como é feito para uma mulher infértil engravidar. Basta enumerar os casos mais comuns. Situação 1. Vai-se estimular a produção da ovulação. Pode-se engravidar com feto único  ou gêmeos. Quanto mais gêmeos, mais riscos para mãe e filhos, são as gravidezes de alto risco. Todos os bebês , quase sem exceção, serão prematuros, o que gera mais ônus pelos custos de assistência neonatal.
Situação 2. A mulher não ovula, apesar de todas as técnicas de estimulação. Mas ela tem ovários e óvulos normais. Neste caso então entra a fecundação “in-vitro”. Vão ser obtidos vários embriões. Alguns vão ser implantados no útero da mulher. Como de todos sabido, muitas dessas gestações vão ser gemelares(2, 3, 4 fetos). As questões menos graves aqui são as de todas as gravidezes de gêmeos:  prematuridade, algum natimorto, complicações maternas , pré-eclâmpsia , diabetes, hipertensão , etc.
As questões bioéticas gravíssimas que se revelam em autênticas monstruosidades no sentido ético, humano e religioso se referem aos embriões que sobram dessas práticas.   
Há hoje pelo Brasil e pelo mundo milhares desses embriões que “sobram”, das fertilizações  in vitro,  e estão congelados nessas clínicas de reprodução.
Os comitês de bioética, os conselhos de medicina, as entidades de direitos humanos não sabem o que fazer com esses embriões humanos. E todos tem um RG(pai e mãe ) e um genoma do casal  que se deu a esses expedientes. E esses casais sabem, porque todos assinam um documento intitulado “ Consentimento Informado”; ou seja, além dos médicos que fazem as chamadas gravidezes induzidas, a mãe e o pai são muito bem orientados sobre os desdobramentos dos procedimentos e a guarda (não pode descartar) dos embriões. Reprisa-se esse ponto porque se revela um questão bioética gravíssima com as quais os conselhos de Medicina ,entidades de Direitos Humanos e religiosas se deparam. O que será feito com tantos embriões humanos “congelados”?  Eles se transformaram no maior enigma ético e humanitário para os seus genitores( pais desses seres congelados) e autoridades legais e de saúde. Parece uma pergunta que soa  como  normal. Mas não é . Essa interrogação emblemática e enigmática das mais graves não pode se calar na consciência de quem permite essas práticas que são  os casais e médicos praticantes. O que será feito dos embriões que sobram das fertilizações ou gravidezes  artificiais ?  Março / 2016


João Joaquim - médico - articulista DM - www.drjoaojoaquim.com  joaojoaquim@drjoaojoaquim.com

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