domingo, 29 de maio de 2016

BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA...

A SATISFAÇÃO E ORGASMO  PELA  VINGANÇA E VIOLÊNCIA 

Chegamos a um estágio de tanto culto, gosto e banalização da violência, que o agressor é capaz de cometer atrocidades as mais hediondas, de comprazer junto aos amigos, rir de seus atos e ainda postar tais atrocidades em redes sócias. Estamos todos perdidos, perdemos pelo visto nossa humanidade e capacidade de condoer com a dor do outro.
João Joaquim  


Alguns ramos das neurociências tratam e explicam bem os sentimentos humanos como o amor, o ódio, os sentimentos de vingança, a generosidade, a solidariedade entre muitos outros. Enfim, essas especialidades de saúde como a psicanálise e psicologia até tratam e explicam muito esses atributos neuropsíquicos  de nossas relações com os nossos semelhantes, com a flora e fauna e a natureza como um todo. Todavia, ficam algumas perguntas  não respondidas   quanto a por exemplo esses dois sentimentos: o primeiro, a vingança. Por que há indivíduos que frente a uma ofensa, por pequena que seja, têm uma sede insaciável da desforra e do desagravo, chegando muita vez à eliminação do outro?
A melhor opção que defendo a uma ofensa ou injúria, sem um pedido sincero de desculpa do ofensor, é um compromisso tácito e íntimo ou mesmo expresso de não vingança, embora essa lembrança não se possa ser apagada da memória. Pessoalmente , frente à alguma crítica infundada e acrimoniosa à minha pessoa e honra, algum ato não me devido ou qualquer gesto reprochável por simples fofoca ou inveja ou outra razão que o valha; eu como resposta sempre  procurei fazer dele uma troça, um chiste e  mesmo me inspirar e  criar até uma crônica de humor. Sempre foi a melhor revindita que achei. Ninguém é consenso no mundo dos néscios e amesquinhados. Nunca iremos ser unanimidade ante os intentos éticos ou patológicos de todos.
O segundo sentimento que tento saber seus mecanismos é o gosto ou atração do ser humano pela violência. Quando se fala em violência devemos entendê-la em todo o seu espectro. Assim podemos descrevê-la tanto em seu estado micro como macrodimensional (permitam-me o neologismo). No seu estágio maior podemos ter como exemplo a violência do Estado contra o cidadão. E como tal ela não ocorre somente nos regimes tirânicos de exceção. O Estado comete violência em toda forma de omissão, seja na saúde, na educação, na segurança e infraestrutura qualquer. Imaginemos como modelo as rodovias mal conservadas do Brasil, as vias urbanas esburacadas, hospital caindo aos pedaços! As condutas dos homens públicos, em se falando das tiranias, representam o suprassumo dessas pessoas em questão do gosto ou prazer (mórbido) pela violência. Basta rememorar as perseguições políticas,  o cerceamento à liberdade de expressão e opinião, as execuções de adversários .
Em seus estágios menores quantos gestos são praticados no dia a dia de violência? Eles são repetitivos no cotidiano de todos. Sejam esses atos contra a natureza, contra os animais domesticados ou selvagens, contra o meio ambiente. São às centenas, milhares por dia. O que ocorre nesses casos é um processo de analgesia ou anestesia das pessoas. Pela repetição, nós humanos vamos perdendo a capacidade de espanto e de indignação com tudo fora da norma, da ética , do legal, do humano, do que se convencionou  como cartilha básica de convivência.  Para melhor contextualizar o gosto, o mórbido prazer das pessoas pela violência vamos buscar a aplicação de uma responsabilização civil, penal ou política de um culpado(a) por esses “delitos”. O que preconiza o código penal no caso de um furto? Que o réu cumpra uma pena de reclusão. Essa vingança imposta pelo Estado como legal  é o que expressa a lei de forma enfática e cristalina. É o que se chama em Direito de dosimetria da pena , que não pode ser nem de mais nem de menos. Justiça é isso  ,é atribuir a cada um o que lhe é  de dever e de direito.
Fica aqui a pergunta: quantas pessoas, especialmente se forem as vítimas, não gostariam de além dessa pena imposta, ver o condenado sendo injuriado, torturado ou até executado pelos agentes de Estado (policiais)? Quando não o fazem com as próprias mãos.  Um outro exemplo bem em voga. No impeachment da presidente Dilma Rousseff. O que diz a constituição no referente à sua responsabilização e punição? Está lá de forma irretocável e indiscutível: cassação do mandato e dos direitos políticos por oito anos. Ao que assistimos? Dos mesmos parlamentares que redigem e aprovam as leis ouvimos ofensas e injúrias nos mais variados graus de menosprezo, vilipêndio e agravo à pessoa da presidente. Tudo ao vivo e a cores para o Brasil e para o mundo.
Por fim um genuíno exemplo da morbidez atrativa e gosto pela violência eu citaria o absurdo que chamam de esporte, as lutas de UFC. A última de que tenho notícia no UFC 198(maio de 2016), contou com mais de 45000 pessoas presentes e cerca de 50 milhões de telespectadores pelo mundo. O combate durou dois minutos e meio. É o tempo que o vencedor com socos, coices e cruzados levou o vencido à lona; desmaiado, e com o rosto cheio de hematomas e outras injúrias internas, que em geral de forma silenciosa levam o lutador a sequelas neurológicas, doença de Parkinson e viver uma vida vegetativa futura. É muito triste.
Tudo isso, ou só isso, diriam  os apreciadores de violência, com ingressos caros , sob apupos e  demorados aplausos. Os organizadores e empresários do ramo de lutas marciais, pugilismo etc,  chamam toda essa selvageria de esporte e entretenimento. Imaginem, se não fosse hein!          Maio/2016

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