domingo, 29 de maio de 2016

PESADOS E SADIOS...

AS PESSOAS PODEM SER OBESAS , SAUDÁVEIS E FELIZES
João Joaquim  


 Eu já disse e reitero nesse texto, a alimentação na saúde e na vida das pessoas é tão significativa que deveria ser prescrita por (sempre) nutricionistas, médicos e psicólogos. Porque rigidamente tudo aquilo  que bebemos e comemos tem de fato a ver com nutrição, saúde “lato sensu” e equilíbrio psicoemocional.
Trata-se de afirmação sujeita a dissidência, mas vale a pena ser lembrada: a maior causa da obesidade é a ânsia e busca do alimento não como fonte de saúde, nutrição e qualidade de vida, mas como objeto de prazer e pura satisfação do sentido do paladar. As pessoas dos tempos modernos têm nos alimentos uma fonte de alegria, prazer e “felicidade”.
Cada vez mais os diversos ramos das ciências médicas têm se dedicado aos impulsos, aos instintos e  às compulsões por alimentos como causas de muitas formas  de sobrepeso. As causas, na verdade, são multifatoriais, tendo entre elas fatores genéticos, culturais  e comportamentais. Um dado curioso e plausível de compreensão é que muitas pessoas , permanentemente, com peso acima do normal criam uma dependência alimentar muito similar ao fenômeno de adição química à nicotina, álcool e outras drogas.
O fenômeno da dependência alimentar é uma explicação para a alta taxa de abandono das medidas prescritas pelos profissionais que mais trabalham com esses grupos de pessoas, os nutricionistas ,  médicos nutrólogos e endocrinologistas por exemplo. Os intitulados adictos (dependentes) alimentares, em graus moderados e pré-mórbidos são os de maior risco de insucesso (recidivas).
Para os obesos classificados como mórbidos existem as chamadas cirurgias para obesidade. São procedimentos complexos, que conforme a técnica empregada, traz um grande risco no período trans e pós-operatório. Não é sem razão que tais pacientes passam por uma rígida avaliação antes dos procedimentos ( pouco ou muito invasivos) com uma equipe multiprofissional; e  para tanto é exigido um extenso consentimento informado de todo candidato a tais tratamentos.    
Em nome de esclarecimento e informação transparente para a sociedade é bom que se registre. O índice de fracasso das chamadas cirurgias da obesidade é muito alto quando se considera um acompanhamento de longo prazo, de pelo menos 5 anos. Hoje, com a popularização dos procedimentos, se tornou fácil fazer essa estatística em um período mais alongado. Os índices de insucesso a partir de 2 anos são muito altos. E esse fracasso na perda de peso se explica pela própria natureza de uma doença de causa multifatorial. Tratar qualquer enfermidade que envolve adição (semelhante ao vício de dependência do álcool ou fumo)mais  ansiedade e comportamento de origem familiar representa um desafio para toda especialidade médica.
Em que pese ter toda forma de obesidade alguma marca genética a educação alimentar tem uma influência marcante. Essa educação terá mais chance de sucesso quando feita e iniciada na primeira infância. Tal tarefa cabe aos pais e aos cuidadores (babás, avós e responsáveis) pela criança. Para tanto basta lembrar que a criança nasce com o gosto ou sentido do paladar como uma tábula rasa ou lousa em branco. Ela aprende a ter prazer com o salgado ou o adocicado, se a ela for oferecido tais aditivos em qualquer alimento. É inadmissível e gesto de insanidade dar a uma criança abaixo de 5 anos toda forma de suco natural (da fruta, não industrializado) com açúcar ou mel e outras guloseimas contendo sal como biscoitos, bolachas, e salgadinhos.
Tais práticas, de alimentos com aditivos de açúcar ou sal em crianças de baixa idade,  constituem atitude condenável  de pais, babás, responsáveis , creches e escolas .  Uma criança e adolescente oriundos de uma família com estilos de alimentação errônea, hipercalórica e desbalanceada se tornam fortes candidatos a obesos crônicos e intratáveis; os tão encontradiços obesos mórbidos.
A obesidade constitui hoje uma pandemia de difícil controle. Trata-se de uma doença que não se encerra em apenas um biótipo de muita restrição e discriminação psicossocial e rejeição  do acesso ao mercado de trabalho;  mas em uma entidade mórbida com um amplo espectro de comorbidades( hipertensão, colesterol alto, diabetes) de permanentes impactos na qualidade e expectativa de vida de seus portadores. 
Como mensagem final, eu , como médico cardiologista, diria aos obesos de difícil controle. Cada um pode ser um obeso(a) saudável e feliz. Dieta não significa passar fome. Pode-se alimentar bem e estar sempre saciado com alimentos de baixa caloria, pouca gordura e manter todos os indicadores de boa saúde normais; como as taxas de colesterol, de açúcar(glicose) e pressão normal;  tendo inclusive a prática regular de atividade física. Quantas pessoas crescem e vivem de bem com a saúde e com a vida, sempre acima do peso? Quantos idosos obesos de 80, 90 , 100 anos não temos à nossa volta. Sempre foram obesos assumidos e normais. Essas pessoas provam que cuidando-se bem ,  fazendo consultas e revisões médicas regulares, etc, o excesso de peso  se torna um mero detalhe da silhueta corporal.   Maio/2016.

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