quinta-feira, 30 de junho de 2016

BICHOS E GENTE

A ANIMALIZAÇÃO DOS HUMANOS
Joao joaquim

Eu escrevo este artigo com a cabeça em uma revolução. Engana quem pensou na revolução de março de 1964 das forças armadas brasileiras, na revolução cubana de 1959 de Fidel Castro, na revolta constitucionalista de 1932 contra Getúlio Vargas, na revolução dos cravos vermelhos (Portugal 1974), na revolução da terra (eterna revolução). Os que pensaram nessas e diferentes  revoluções erraram todos.
Acertaram quem pensou em uma revolução menor. A dos bichos de George Orwel. Menor em seu enredo, em seus personagens, mas atemporal, quando a questão é a relação do bicho homem com os outros bichos. Sabe daquelas obras que têm a fortuna da vida eterna, essa de Orwel é uma delas. E veremos por quê!
Eu começo e termino com este axioma: “ a humanização dos animais se tornou uma tendência irreversível”.
Tal frase foi dita por um empresário de pet shopping na Band News São Paulo. E ele há de me perdoar por não lembrar o seu nome. Admirou-me uma explicação desse empreendedor de negócios ligados a “animais de estimação”. Disse o explorador desse filão de clientes: ”cachorros (animais de estimação) antes eram criados da porta da cozinha para fora. Agora é o contrário, eles são criados da cozinha para dentro da casa. Eles sentam na tapete, na mesa, nos sofás e dormem com os donos”. Segundo pesquisas, o Brasil tem mais de 130 milhões de animais de estimação ( cães e gatos ). O mercado especializado faturou mais de 18 bilhões de reais em 2014, não há crise no setor.
É muito compreensível a entusiasmada fala de tal empresário e gestor de tão milionário negócio em que se tornou o mercado de ração, produtos farmacêuticos, de higiene, de beleza, de  íntimos e outras quinquilharias que atendam aos desejos e vaidades dos que estão na posse dos melhores amigos do homem, os canídeos em especial.
Eu recomendo aos que detêm a guarda de qualquer animal de estimação, que leiam essa simbólica criação alegórica de George Orwel, A Revolução dos Bichos. Ele é o mesmo autor do livro Big Brother, que originalmente se chamava 1948, tornou-se 1984 mais tarde e depois virou Big Brother. Grande irmão era o sonho de um déspota que queria vigiar e dominar todos os seus súditos.
 Obra esta que inspirou o programa global, big brother , de mesmo nome aqui e alhures. Embora de gosto duvidoso e polêmico, a ele ( o BBB) têm milhões que assistem e fazem de suas baixarias e vilezas um entretenimento em suas horas de ócio noturno ou mesmo diurno (24 horas/dia).
 Assistindo ao que é hoje as relações dos humanos com aqueles bichos-personagens( revolução do bichos) do título fico a pensar o quanto ela é atual. No enredo, só como pistas, os bichos fundam a sua sociedade, sua república e passam a uma posição de ascensão sobre os homens que tanto os exploraram e os escravizaram. Os bichos são representados principalmente por porcos. Bem, falando em porcos, esse bicho não sei por que tem o estigma de lambão, de sujismundo, de imundo. Vamos comparar por exemplo um banheiro ou mictório de rodoviária ou logradouros públicos, do bicho homem ,  a uma pocilga. Qual local se mostra mais putrefato e pestilento?
É aquele princípio e aposta do quanto algumas criações literárias podem ganhar relevo, simbolismo e duração perpétua. Uma pena que  num país de poucos e minguados leitores como o Brasil o livro não seja mais lido e mais conhecido. A alegoria de “ A Revolução dos Bichos” é semelhante ao mito (lenda) da caverna, de Platão. Onde uma legião de pessoas( ignorantes e explorados) permanece nas trevas e na obscuridade, sendo explorada por outros que tem acesso à luz solar (sabedoria).
Torno-me ao tema relação das pessoas com animais. Quando vemos nos dias atuais animais enjaulados e engaiolados nos zoológicos, confinados em apertados apartamentos, tolhidos e contidos em suas coleiras pelas vias públicas; etc; não têm como não captar os seus pensamentos, desejos e instintos em querer mudar de lado e fazer de seus donos, os seus animais de estimação. Seria a vingança dos animais.
Já imaginou o sujeito, um jovem, uma bela jovem, uma elegante madame ter restrição na liberdade de ir e vir, ter um cardápio monótono e insosso e ser de vez em quando contida numa coleira. Assim  é a vida dos chamados bichos de estimação .
Seria a vingança dos bichos. Um alfa desses animais começaria então sua entrevista talvez “ não  com a minha frase inicial, mas com essa: “ A animalização dos humanos se tornou uma tendência irreversível”. Que o diga os ursos e onças enjaulados em zoos, os pássaros canoros presos em gaiolas, os cães que têm míseras meias horas por dia para passear em coleiras e subjugados com outros dispositivos dessas indústrias do ramo. Já pensou muitos bichos levar um vida de cachorro em nome dos mimos, dos folguedos, da satisfação e gozo  dos próprios donos!

João Joaquim - médico - articulista DM face/ joao joaquim de oliveira

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