domingo, 31 de julho de 2016

FALTAM MERENDA E NUTRIÇÃO NAS...

 DESNUTRIÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL

JOÃO JOAQUIM


Pode soar rebarbativo, enfadonho e soporífero, mas eu volto ao tema que é a desqualificação e precariedade do nível cultural das pessoas e da sociedade  brasileira.
Toda vez que falo mais detidamente com uma criança, adolescente ou jovem bate em mim um certo dó por lembrar que esse indivíduo em plena formação está recebendo uma educação deformada, precária ou insuficiente.
Pode sugerir um certo sentimento vão ou piegas  de parte desse articulista. Mas, não é! Comparemos a inteligência de uma criança, sua aguçada curiosidade e sede de saber à nossa fome e necessidade alimentar. Aliás, carência nutricional traz-me à lembrança outro termo, até mesmo de textos legais. Falo de segurança alimentar. Penso que deveria ser um direito de todos e dever de Estado a garantia de alimentação, de no mínimo 4 refeições por dia. Em se tratando  de uma criança tal direito é ainda mais premente, considerando que temos um organismo em plena formação. Assim ocorre no processo educacional. Educação gratuita e obrigatória até o 2º grau deveria ser uma cláusula pétrea de nossa constituição , e não é .
Quando se discute educação não há diferença com a exigência nutricional, notadamente se falamos então de uma criança ou adolescente. A carência educacional de fato não dói, não gera outro desconforto imediato como a fome. Todavia, sua repercussão na formação, no preparo social e ético desse indivíduo será marcante e definitivo no seu papel de cidadão no meio onde vai ser  inserido e no mundo. Mundão esse que aliás continua cada vez mais difícil para se sobreviver com dignidade.
Um dos erros crassos de nossas escolas de hoje é a falta de métodos e estímulos à criação, ao senso crítico e ao pensamento. E nesse erro está a contribuição das tecnologias de mídia. Tal desvio de finalidade, para ser bem justo, no emprego das plataformas digitais recebe uma contribuição  muito nociva das famílias, de  babás e cuidadores(as) das crianças desde a fase pré-escolar. Ao que parece os pais, monitores e educadores estão perdidos em meio às tecnologias da informação. Não se quer demonizar e condenar os instrumentos digitais nas escolas. A questão maior tem sido a precocidade na sua inserção no ensino e o abandono do gosto pela leitura, pelo raciocínio lógico, por redação, pela criação em si.
O que eu defendo como as melhores estratégias pedagógicas para as crianças antes de ir para a escola? Que seja maternal ou jardim de infância? Que nunca lhes sejam oferecidos os instrumentos digitais:  smartphones, Ipad, tablets antes que elas aprendam a folhear um livro, a rabiscar papel, a desenhar, a escrever, a ter o prazer e curiosidade pela leitura, pelas historinhas contadas e repetidas. Tal expediente fará uma enorme diferença na escolarização e aprendizado da criança.
 Vamos partir do princípio (filosófico) de que todo o aprendizado, todo o conhecimento e saber se fazem pelos sentidos. Pergunta básica: o que despertará mais atração e interesse aos olhinhos e ouvidos ainda virgens de uma criança que está descobrindo o mundo e todos os encantos à sua volta ? Seria uma tela de TV, um vídeo de smartphone ou figuras e páginas de um livro? A resposta óbvia:  as telas mágicas e multicoloridas dos aparelhos de mídia. Sendo esses os primeiros aprendizados e impressões, adivinhem, se as crianças e jovens alunos vão ter interesse em ler textos, escrever fórmulas matemáticas, desenhar e analisar palavras e frases de algum livro?
Minha tese relativa a educação infantil é: primeiro, estimular o gosto da leitura, o desenho, o rabiscar , a redação, os cálculos aritméticos. Desses aprendizados bem orientados , sim, iniciariam o emprego da informática, dos recursos de mídia e internet. Do contrário a garotada jamais dominará os fundamentos do idioma e matemática.
 Há certos opiniões que soam estapafúrdias quando o assunto é educação e aprendizado. Veja esta de Delia Lerner: “ Não faz falta saber ler e escrever no sentido convencional (?). Quem interpreta o faz em relação ao que sabe (?). interpretações não dependem exclusivamente do texto em si”(?). Ainda bem que poucos entendem direito o que ela quis dizer.
Há outras mentes (estudantes, alguns educadores) que interpretam algumas citações a seu favor, de forma deturpada. Como aquela do físico Albert Einstein: “ A imaginação é mais importante do que o conhecimento”. Veja bem que ele assim expressou quando já era doutor em física pela universidade de Zurique. Claro que para um gênio como era o autor da Lei da Relatividade, sua imaginação brilhante o levou ao nível de criação e descobertas  de que todos já sabem. Eu gostaria de ter 1% da imaginação de Einstein.
Em conclusão, eu reitero que tenho muito dó das novas gerações. Elas vêm sendo vítimas desses métodos educacionais de pais e escolas embriagados e consumidos pelos apelos da informática , pelo consumo e abuso das mídias, pela internet e as tão inúteis e fúteis redes sociais.
Não saber usar corretamente as palavras, não entender bem os termos de uma oração, não saber redigir um memorando ou ofício; significa ser um cidadão inferior, ser um cidadão insuficiente em interpretar seus direitos nas relações privadas e públicas, para dizer o mínimo .
Já imaginou o indivíduo chegar a uma universidade e não interpretar corretamente um contrato de estágio de pós-graduação , as cláusulas de um contrato  de trabalho ou um manual qualquer? Já imaginou um estudante  de 3º grau necessitar de um terceiro para tais traduções e compreensão? Que triste!  julho/2016

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