sexta-feira, 30 de setembro de 2016

BIRRO...

para OpiniãoOpinião
NEM BURO NEM BURRO E SIM  BIRROCRACIA

JOÃO JOAQUIM

Quando naquela 6º feira, 19 de Agosto, saí daquela repartição pública, não tive mais dúvidas. Não tive em relação ao título que o Brasil ostenta de o mais burocrático do mundo. Nisso somos campeoníssimos . E somos não porque temos uma administração a mais organizada, com a melhor logística e a melhor prestação de serviços aos cidadãos-clientes. Muito ao contrário.
No caso Brasil, eu, sem ser filólogo gostaria de fazer um reparo com o verbete. Na maioria dos léxicos e dicionários está lá consignado. Burocracia, origem francesa “bureaucratie”; administração dos bens públicos, via ministérios e secretarias, com normas rígidas e inflexíveis. Fosse eu filologista ou lexicógrafo daria outro nome a essa recalcitrância  e estultice que reinam nas repartições de governo e autarquias em geral. Eu proporia birrocracia. A explicação etimológica então seria birra (do latim, espanhol, birria) e cracia (do gr. Kracia). Ou seja, governo de birras ou dos birrentos.
Birra, como de todos sabido significa teimosia, obstinação, vício no mesmo ato, indefinidamente. Não me venham com o termo burrocracia( forma depreciativa), porque trata-se de uma referência injusta aos muares,  burro ou jumento. Na verdade é uma referência infamante a essa criatura asinina, tão somente pelo seu porte rígido e comportamento introspectivo, resistente e até filosófico. Só porque , se molestado, desfere algum coice ou empaca? Não faz sentido essa relação semântica .
 Quantos outros humanos há  por aí que cometem as maiores estupidezes e imbecilidades e as justificam por apenas seguirem normais e regras administrativas? Quantos? E eles não são chamados de nomes pejorativos.
Então, 6a  feira 19 (tão primo e impar quanto 13), de um mês de Agosto. Adentrei a repartição de um órgão de governo para protocolizar (protocolar) uma petição de um direito pessoal, como funcionário público que também  sou. Ali apresentei a ficha cadastral e todos as cópias e documentos originais como RG, CPF, endereço, título de eleitor etc. Por pouco não me pediram batistério, cartão SUS e carteira de filiação partidária (não tenho, sou apenas eleitor...obrigatório). Contento-me apenas em ser eleito cidadão honesto e probo, mesmo pobre.
Tudo então certinho e conferido, torno ao funcionário que me atendeu e indago.
- O senhor pode então emitir-me o comprovante e o número do protocolo?
- Não, respondeu-me o atendente, o senhor  agora terá que ir ao cartório para autenticação e reconhecimento  de assinaturas.
- Mas, como assim? O sr. me identificou da forma mais correta e ampla, com cópias e originais dos documentos listados, exigiu-me tantas cópias , sabe que sou eu aqui, de corpo e alma;  por que tenho que certificar no cartório que eu sou eu ?
- Concordo sim, mas são normas de governo e da repartição nossa.
- Continuo eu, na minha argumentação. O sr. trabalha neste órgão há quantos anos e foi admitido de que forma?
- Tenho 10 anos de casa e sou concursado, respondeu-me meio seco o funcionário .
- Por fim, arrematei meu infrutífero argumento:  com esse tempo de funcionário, deve gozar de confiança (fé pública); exigir que outro órgão abone ou autentique sua tarefa é no mínimo ilógico e injustificável. Poderia ser anotado que todas as cópias conferem com os originais, além do que eu assino o requerimento na sua presença.
Fui vencido; não tive outro argumento que não enfrentar uma fila no cartório, pagar mais umas taxas para ter meu interesse atendido.
É isso aí, temos além da saborosa fruta, outras jabuticabas, como essas de nossa birrocracia. Fatos exclusivos do Brasil.  Para fecho de birrocrática explicação que é essa crônica,  uma historinha de esperteza, que conto agora.
Motorista é pego sem carteira de habilitação; o guarda está prestes a lavrar a multa. O condutor inconformado pergunta ao guarda de  trânsito : o senhor  é o que?
 – incontinenti, o policial retruca, uai! (ele era mineiro) eu sou fiscal de trânsito, o senhor  não está vendo que estou uniformizado?
- Não vale, argumentou o motorista sem carteira(CNH).
O policial, olha nos bolsos , mas não tem sua identidade funcional( como homem da lei e do trânsito), apenas o RG e CPF.
- E então, conclui o motorista “infrator”, é a mesma coisa. Sou motorista, só não tenho comigo o documento, que esqueci, igualzinho ocorreu com o senhor  
O guarda convencido cancelou a multa.
 A outra historinha é a da mais nefasta e repilante birrocracia. O cidadão está cuidando do espólio da falecido pai e busca um serviço num órgão público. São apresentados todos os papeis exigidos. O último item exigido no protocolo é a certidão de óbito ( pai do autor da demanda). O requerente tinha em mãos o documento original da época, 5 anos da morte do pai. A resposta do atendente é que aquela certidão  não valia mais, dada a época de emissão, 5 anos.
 Conta-se que o filho requerente teve um colapso nervoso na hora. Era compreensível. Recuperado do desmaio, ele explicou mais calmo;  o pai poderia ter ressuscitado na avaliação do birrento funcionário público..., daí o choque emocional. São coisas do Brasil. Igual a Jabuticaba, só vinga aqui. Setembro/2016.  

Nenhum comentário:

Necedade especial

  Sejam resultados e produtos de genomas ancestrais ou educacionais, não é incomum deparar-se com um grupo de pessoas (homens e mulheres), m...