sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Canalhas...

QUANTA OFENSA AOS ROMANOS E AOS CACHORROS

João Joaquim  

Quando o mundo inteiro e o Brasil viram as patéticas cenas dos senadores Lindbergh Farias(PT RJ) e Ronaldo Caiado( DEM GO) se injuriando mutuamente com os xingamentos de canalhas, canalhas, canalhas, certamente que muitas pessoas devem ter ficado escandalizadas com tais comportamentos. Mas, não os brasileiros que assistem no dia a dia as sessões de nossos parlamentares. Não! Definitivamente aqui em nossas terras brasis tais atitudes e diálogos já não pasmam as pessoas. Afinal, no parlamento temos um pouco de hospício , como o hospício também tem muito de  parlamento, e cá entre nós, com trocadilho, tudo para lamento a perder de vista  .
Tudo ocorreu na sessão do congresso nacional, no julgamento final do impeachment da presidente Dilma Rousseff, 31 de agosto de 2016. Esse ato da dantesca peça que foi o teatro do julgamento de impedimento  da 1a presidente(‘mulher’). Ops, ela gostava de ser chamada de presidenta  do Brasil. Todo o enredo teve a duração cabalística de 7 dias, que terminou num 31 (13 invertido) de agosto (mês de muitos maus agouros). Tal data e mês lembram-me até o trágico fim de outro presidente, Getúlio Vargas, em 24 agosto de 1954, ele suicidou-se.
Em outro ato, do mesmo teatro que foi esse impeachment,  muitas outras esquisitices:  platitudes, abobrinhas, um infindo rosário de dissimulações, mentiras e perfídias, atitudes nada republicanas, sandices  e  outras injúrias que  já vinham sendo permutadas entre os nominados juízes (senadores) de tão assistida solene sessão . O certo é que tudo parecia mais um teatro mambembe e de horrores de nossas casas legislativas, de onde emanam as leias que nos governam. Por isso o desgoverno em que andávamos e nossa grande nau na iminência de um naufrágio.
Renan Calheiros, senador presidente do senado, em um aparte anterior, em alto e bom som já tinha asseverado ao ministro presidente do julgamento, ministro Ricardo Lewandowski( emprestado do STF). Disse sua excelência, o senador Renan Calheiros( investigado na operação Lava-Jato): vossa excelência, referindo-se ao ministro Lewandowski, parece estar presidindo um hospício.
No fundo foi até risível assistir  àquela pantomímica sessão julgadora, nominada pelos próprios componentes de egrégia; coitadas das muitas igrejas;  de excelsa, coitado do Celso Furtado, de colenda; dá vontade de sair correndo. Porque rima mesmo é com horrendo.
 Assistir então a inaudita e burlesca sessão lembrou-me uma outra peça, obra literária,  do nosso magnânimo e eterno Machado de Assis com o seu conto O  Alienista, cujo protagonista é o insigne e impostor Dr. Simão Bacamarte. Médico de renomada formação em universidades de Lisboa, Pádua e Coimbra. Ele que  recusa convite do Rei de Portugal a cargo importante, na época, e vem se instalar em suas origens na vila de Itaguaí, Brasil.
Nessa vila do interior, Dr. Bacamarte se dedica às doenças psiquiátricas, cria um manicômio, a casa verde, e começa internar pessoas que ele considera dementes. Mas, não sem protestos da maioria das pessoas, que consideram ele próprio( Simão Bacamarte) o único alienado, como de fato se concluiu ao final do conto, na internação  do próprio alienista( uma auto-internação), no hospício que ele fundara . Um lance que muito assemelha com os nossos tempos se dá quando a câmara de vereadores de Itaguaí pede imunidade para os vereadores  e vota tal decreto em prol de seus membros, para que nenhum deles seja recolhido e tratado como demente na casa verde, do então afamado e respeitado cientista, Dr. Simão Bacamarte. Qualquer semelhança com algumas casas legislativas de nossos dias não é mera coincidência.
Senado vem de senatus, o alto conselho da antiga Roma, nada mais significava do que conselho dos mais velhos, de senex, senil, idoso. O papel ou função  dessa casa de leis naqueles tempos era formar uma espécie de tribunal composto de os mais sábios, idosos e experientes. Era ali no senáculo, local de suas reuniões, onde se tomavam as mais lúcidas, sábias e invioláveis decisões. Tratavam-se de uma câmara legislativa e um tribunal, sem inimigos, cujas leis eram promulgadas em prol de todos, do Estado e do bem comum. Não era uma reunião de inimigos raivosos e briguentos, de aloprados, nem de fugitivos de qualquer  hospício, nem da Justiça.
 Nosso congresso brasileiro, desses tenebrosos tempos de mensalão, petrolão e lava-jato,  mais parece uma casamata ou valhacouto, onde muitos acusados e indiciados pela Polícia Federal e Ministério Público , se homiziam das garras e dos alcances  das Leis.
Sem desmerecer muitos  canalhas de nosso congresso e senado( não são todos); o termo canalha vem do latim canalia, de canis, matilha de cachorros. Agora sintetizemos o sentido do verbete: os cães que sempre trabalham solidários e amigos entre eles. Que se tornaram os melhores amigos do homem. Logo eles que emprestam seu nome para atitudes, comportamentos e diálogos tão vis, tão infames, tão mesquinhos e nauseantes. Que ofensa aos bichos . 
Juntando os dois termos: senado romano e matilha de cães, o quanto de injúria aos antigos senadores de Roma, o quanto de ignomínia e falta de respeito  aos nossos cachorros amigos. Setembro/2016. 

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