A CORRUPÇÃO
COMEÇA EM CASA E NA CALÇADA
João Joaquim
Eu começo esta
crônica por um fortuito encontro. Ele foi inopinado mas bem ilustrativo do tema
proposto. Vinha eu de minha corrida matinal e deparei um porteiro, que fazia a
varrição de um condomínio. A cena se deu ali na calçada mesmo. Cumprimentei-o
com um bom dia e emendei: você está limpando a corrupção? Ao que ele retorquiu,
não, estou juntando o lixo das folhas e das pessoas. E assim, em tom de
pilhéria e de humor amarelo, complementei, esta é uma forma de corrupção!
No ato da pessoa
deixar um papel, um resto de alimento, um copo descartável em sua calçada,
passarela de todos, ela está, enfim e ao cabo, cometendo a mais rotineira
forma de corrupção. E finalizei o breve diálogo daquele encontro: estas suas
vassouradas tinham que começar lá de cima, lá de Brasília de onde deveriam vir
as melhores leis e os melhores exemplos. Com o mútuo sorriso de assentimento
nos despedimos, eu dei seguimento à minha caminhada, o porteiro continuou na sua faxina diária dos lixos deixados ao
relento pelas pessoas.
A palavra
corrupção, na sua origem latina, “corruptio” significa deterioração,
decomposição física ou orgânica de alguma coisa, substância química, ou
qualquer cadáver. No sentido figurado traz o sentido de degradação de valores
morais, hábitos ou costumes. Traz também o sentido de subornar alguém (em
função pública ou privada) em causa própria ou alheia. É o que se dá por
exemplo com um gestor de serviços do governo. Ele pode se valer de informações
confidenciais e numa atitude de inconfidente utilizar desses dados em proveito
(lucro) próprio ou grupo de pessoas a ele ligado, num sistema de cartel ou
quadrilha. São pedaladas para se apoderar do alheio.
De acordo com a
transparência internacional, o Brasil figura entre os 30 países mais
corruptos. De 100 nações analisados, ele ocupa a 70º posição. Os recursos e
dinheiro desviados são cifras estarrecedoras. Segundo a FIESP( federação das
indústrias de SP) o erário perde por ano cerca de 100 bilhões de reais para a
corrupção. Em termos práticos tais valores representam o dobro em leitos
hospitalares, 18 milhões de novas vagas nas escolas e 1,6 milhão de casas
populares ao ano.
Quando estudamos
sobre a corrupção, sua origem e história ,ela segue aquele eterno e
incessante princípio do bem versus mal,
da luz versus trevas, da virtude versus o vício( corrupção). Lá no Gênesis 8-21
E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei
mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do
homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como
fiz.
No Gênesis 6,
temos sob o título a corrupção geral de gênero humano. Pecado, suborno e
corrupção são dos tempos bíblicos . No
Gênesis (6-6), então arrependeu-se o
senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração. No 7,
disse o senhor: destruirei, de sobre a face da terra, o homem que criei e
outros animais, porque me arrependo de os haver criado. Nos diálogos de Santo
Agostinho com são Jerônimo, ano de 416, temos que corrupção vem de cor
(coração) rompido(ruptus), e Kant em suas reflexões disse que” somos um lenho
torto do qual não se podem tirar tábuas retas”.
No Brasil a
gênese da corrupção se funda em três vertentes, a histórica, a política e a
cultural. A história começa com a era colonial e escravocrata; ambas muito
violentas e injustas com as pessoas. É daí que nascem o suborno, o peculato, o
nepotismo e a antecipação da lei de Gerson, de se levar vantagem em tudo.
Depois vem a
política do patrimonialismo, do fisiologismo, das trocas de favores e votos; do
governante tratar as coisas públicas como privadas, em seu benefício, da
família e de apaniguados( do toma lá dá cá).
O senso cultural
é aquele do governante que rouba mas faz. Os corruptos são vistos não como
larápios e gatunos do dinheiro público, mas como pessoas inteligentes e bons
administradores. Lord Acton (1843-1902) dizia: “o poder tem tendência a se
corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. Paulo Maluf, conhecido
por acusações de milionárias corrupções disse em recente juízo no Supremo
Tribunal Federal, isto a uma pergunta do juiz inquiridor: o senhor foi preso em um antigo processo de desvio de
dinheiro público e caixa 2 em 2010? Ao que ele respondeu com boa verve, não! eu
nunca fui preso , eu sempre foi solto. Isto mostra o mais afrontoso acinte dos
que têm o mote - rouba mas faz- Só mesmo no Brasil.
É isso aí, a
corrupção é como um pecado original, ela vai sempre duelar com a honestidade,
com a generosidade e com a ética. Como combate-la? Mais transparência, leis
mais rígidas, revogação da antipática imunidade parlamentar, corrupção
tipificada como crime hediondo, mais juízes Sérgio Moro e operação lava-jato
permanente. Se não o fim, ao menos um meio-termo e bom final do permanente
combate a esse cancro social que é a corrupção no Brasil. Agosto/2016.
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