quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Corrupção e Lixo..

A CORRUPÇÃO COMEÇA EM CASA E NA CALÇADA
João Joaquim  

Eu começo esta crônica por um fortuito encontro. Ele foi inopinado mas bem ilustrativo do tema proposto. Vinha eu de minha corrida matinal e deparei um porteiro, que fazia a varrição de um condomínio. A cena se deu ali na calçada mesmo. Cumprimentei-o com um bom dia e emendei: você está limpando a corrupção? Ao que ele retorquiu, não, estou juntando o lixo das folhas e das pessoas. E assim, em tom de pilhéria e de humor amarelo, complementei, esta é uma forma de corrupção!
No ato da pessoa deixar um papel, um resto de alimento, um copo descartável em sua calçada, passarela de todos, ela está, enfim e ao cabo,  cometendo a mais rotineira forma de corrupção. E finalizei o breve diálogo daquele encontro: estas suas vassouradas tinham que começar lá de cima, lá de Brasília de onde deveriam vir as melhores leis e os melhores exemplos. Com o mútuo sorriso de assentimento nos despedimos, eu dei seguimento à minha caminhada, o porteiro continuou  na sua faxina diária dos lixos deixados ao relento pelas pessoas.
A palavra corrupção, na sua origem latina, “corruptio” significa deterioração, decomposição física ou orgânica de alguma coisa, substância química, ou qualquer cadáver. No sentido figurado traz o sentido de degradação de valores morais, hábitos ou costumes. Traz também o sentido de subornar alguém (em função pública ou privada) em causa própria ou alheia. É o que se dá por exemplo com um gestor de serviços do governo. Ele pode se valer de informações confidenciais e numa atitude de inconfidente utilizar desses dados em proveito (lucro) próprio ou grupo de pessoas a ele ligado, num sistema de cartel ou quadrilha. São pedaladas para se apoderar do alheio.
De acordo com a transparência internacional, o Brasil figura entre os 30 países  mais corruptos. De 100 nações analisados, ele ocupa a 70º posição. Os recursos e dinheiro desviados são cifras estarrecedoras. Segundo a FIESP( federação das indústrias de SP) o erário perde por ano cerca de 100 bilhões de reais para a corrupção. Em termos práticos tais valores representam o dobro em leitos hospitalares, 18 milhões de novas vagas nas escolas e 1,6 milhão de casas populares ao ano.
Quando estudamos sobre a corrupção, sua origem e história ,ela segue aquele eterno e incessante  princípio do bem versus mal, da luz versus trevas, da virtude versus o vício( corrupção). Lá no Gênesis 8-21 E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.
No Gênesis 6, temos sob o título a corrupção geral de gênero humano. Pecado, suborno e corrupção são dos tempos bíblicos .  No Gênesis  (6-6), então arrependeu-se o senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração. No 7, disse o senhor: destruirei, de sobre a face da terra, o homem que criei e outros animais, porque me arrependo de os haver criado. Nos diálogos de Santo Agostinho com são Jerônimo, ano de 416, temos que corrupção vem de cor (coração) rompido(ruptus), e Kant em suas reflexões disse que” somos um lenho torto do qual não se podem tirar tábuas retas”.
No Brasil a gênese da corrupção se funda em três vertentes, a histórica, a política e a cultural. A história começa com a era colonial e escravocrata; ambas muito violentas e injustas com as pessoas. É daí que nascem o suborno, o peculato, o nepotismo e a antecipação da lei de Gerson, de se levar vantagem em tudo.
Depois vem a política do patrimonialismo, do fisiologismo, das trocas de favores e votos; do governante tratar as coisas públicas como privadas, em seu benefício, da família e de apaniguados( do toma lá dá cá).
O senso cultural é aquele do governante que rouba mas faz. Os corruptos são vistos não como larápios e gatunos do dinheiro público, mas como pessoas inteligentes e bons administradores. Lord Acton (1843-1902) dizia: “o poder tem tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. Paulo Maluf, conhecido por acusações de milionárias corrupções disse em recente juízo no Supremo Tribunal Federal, isto a uma pergunta do juiz inquiridor: o senhor  foi preso em um antigo processo de desvio de dinheiro público e caixa 2 em 2010? Ao que ele respondeu com boa verve, não! eu nunca fui preso , eu sempre foi solto. Isto mostra o mais afrontoso acinte dos que têm o mote - rouba mas faz-  Só mesmo no Brasil.

É isso aí, a corrupção é como um pecado original, ela vai sempre duelar com a honestidade, com a generosidade e com a ética. Como combate-la? Mais transparência, leis mais rígidas, revogação da antipática imunidade parlamentar, corrupção tipificada como crime hediondo, mais juízes Sérgio Moro e operação lava-jato permanente. Se não o fim, ao menos um meio-termo e bom final do permanente combate a esse cancro social que é  a corrupção no Brasil. Agosto/2016.  

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