REVELAÇÕES E
OCULTAÇÕES DE UMA FOTOGRAFIA
João Joaquim
Esses dias fui consultar alguns arquivos pessoais, alguns
álbuns de família e confesso que tive uns pequenos sobressaltos. Não por ter
perdido algum documento ou coisa que o valha. Fui surpreendido com algumas
fotografias antigas. Minhas e de familiares. Fotografia, que os antigos
chamavam-na e ainda chamam de retrato. Eu considero-a como uma obra de
arte. Obra artística que na verdade hoje conta com as mais refinadas tecnologias.
Câmeras fotográficas se tornaram instrumentos de profissionais. As pessoas
comuns usam o próprio celular e são fotos de ótima qualidade. Com a vantagem de
sair acabadas e divulgadas nas redes sociais; “facebook, instagram,
whatsapp”. Êta mundo moderno danado de bom em umas coisas e nocivo em
outras; com as imagens não é diferente.
Preliminarmente, faço uma nota histórica sobre essa arte, que
data do surgimento de outras artes. E então podemos dividi-la em duas
etapas. Antes da fotografia propriamente dita existia a arte de representação
da pessoa, daí o nome retrato, uma retratação aproximada da imagem do
retratado. A figura saia melhorada ou não na capacidade do
artista-pintor. Como sabemos hoje das característica de um Luís XIV ou Luís XV,
de um D. João VI? Através da arte de um pintor-retratista.
E a fotografia, produto de tecnologia ? Seus primórdios se
deram há menos de dois séculos. O nome da arte inicial parece impronunciável:
daguerreotipia. Vem de Louis Daguerre (1789-1851). Ele foi um físico e pintor
francês, criador da 1ª máquina fotográfica, em 1839. Foi a partir da
invenção de Daguerre, a fotografia, que os pintores-retratistas perderam a sua
importância e o emprego.
O Brasil teve um personagem histórico que era aficionado e
apaixonado por fotografia, D. Pedro II. O acervo dele no museu imperial de
Petrópolis é riquíssimo de fotos, muitas feitas pelo próprio imperador. Outro
personagem da literatura que me lembra fotografia, foi o Irlandês Oscar Wilde
com seu livro o retrato de Dorian Gray. Vale a pena conhecer a obra desse
magnífico escritor e poeta. O enredo mostra inclusive um pintor-retratista como
personagem.
Fazendo algumas considerações da fotografia na vida das
pessoas. Eu começaria com a seguinte proposição: o quanto as pessoas seriam
mais longevas se eles envelhecessem na proporção das próprias fotos. Basta que
se faça a seguinte notação: quando se fotografa uma pessoa, aquela imagem é
apenas uma visão aproximada dela, naquele átimo de segundo, tanto para melhor
ou pior. Tanto que a pessoa da imagem busca o melhor de sua pose e expressão
naquele momento. E, às vezes, se deleta quantas forem necessárias, até a
reprodução perfeita. É a busca da melhor estética do momento. E tal artifício,
ou o tal “retrato-falado”, faziam-no de forma primorosa os antigos
pintores-retratistas.
Ao estudar as relações das pessoas com a fotografia, abre-se
um vasto campo para o estudo da psique, para a tentativa de compreender os
sentimentos, o coração e a alma humana. Ainda hoje, existe um profissional
retratista. São os criminalistas das Polícias Técnico-científicas, que fazem os
tais retratos-falados.
Numa análise mais rasa e resumida, falando da relação
fotografia e psique, podemos lembrar da própria autorrejeição de cada um ,das
fobias por exemplo do envelhecimento e da morte (tanatofobia). E aqui duas
observações curiosas. Primeira, a relativa ao grupo de pessoas que não gostam
de se ver e nem ser vistas em fotos.
A segunda observação de igual modo digno de registro se
refere às pessoas que têm um profundo apego a fotos, desde que tais retratos,
as retratem muito melhor do que a realidade. Tais imagens para esse grupo de
pessoas, sejam homens ou mulheres, devem sempre mostrá-las em atitudes,
contornos anatômicos, pele e adereços os mais estéticos e os mais jovens
possíveis.
Quer exemplos bem consistentes dessas fobias da idade e do
envelhecimento: primeiro, o emprego do próprio “photoshop” para maquiar e
rejuvenescer a imagem; segundo exemplo, a postagem no “facebook” e em
outros aplicativos de uma fotografia que não retrata a pessoa atual. Quase
sempre o recurso é exibir uma foto feita 5 ou 10 anos anterior. E a
tecnologia digital tem outra virtude, ela não envelhece como um retrato no
papel ou na moldura. Viva a tecnologia, o photoshop e as fotos digitais, elas
são de fato eternas.
A propósito, desse expediente da pessoa em postar suas fotos
mais antigas(mais jovens) nas redes sociais uma historinha que me contaram. O
sujeito(galanteador e pintalegrete escolado) engata uma amizade e chega a um
namoro virtual. A madame, 50 anos, na foto da internet, se mostrava bem
mais jovial do que sua idade real. O conquistador, passados algumas semanas de
contato, marca o encontro para o esperado contato físico . Quando se avistam no
shopping combinado, ele supôs que a paquera do facebook e da foto era na
verdade a mãe da pretendida, tal a diferença da foto das redes sociais com a
pessoa em carne, cara, osso e toda a funilaria de 50 anos. Ela se exibia com
uma foto feita 10 anos antes.
Quantas marcas do tempo já tinham aparecido na pele,
rosto e todo o esqueleto. Não precisa nem dizer que o amor e interesse se
esvaíram em 10 minutos de conversa. São outros riscos das redes sociais e de se
fiar apenas em imagens que duram uma eternidade. Vejam então , os adeptos de
namoro e relações conjugais pelas redes sociais, que a tecnologia traz também
esse risco de se conquistar lebres por gatas e vice-versa. O namoro mais seguro
é aquele tête-à-tête, quando se pode ver até se a pessoa é vesga, se coxeia de alguma perna ou do intelecto
. Agosto 2016.
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