sábado, 29 de abril de 2017

GÊMEOS DIGITAIS

 XIFOPAGIA DIGITAL
João Joaquim  
  A palavra é xifopagia, e xifopagia digital a expressão de poucos conhecida. Antes disso.  Tem palavras que por si mesmas já não diz boas coisas e bons ensinamentos. Quer outras? Concupiscência, nem é bom citar na íntegra os seus significados. Delação. Esta encontra-se em moda. Fosse dilação, vá lá, mas delação arrepia só de pronunciar. Agora se tem uma injustiça semântica neste Brasil, ela se refere por exemplo à palavra propina. De uma módica e propícia gorjeta ao garçom virou sinônimo de corrupção e das grandes. Xifopagia digital em síntese é a simbiose estreita e contínua ou ligação doentia que se estabelece entre o dono e objeto  de mídia, em geral um celular ou smartphone.
Xifopagia e xifópagos. E aqui comento sobre a sua transição de signos e significados. O radical xifo vem do grego xíphos, na raiz tem o significado de espada. Por isso na anatomia humana temos o apêndice xifoide. É aquela cartilagem no final do osso esterno, localizada na parte anterior do tórax, aquela região popularmente chamada “boca do estomago”. Como refere o adjetivo xifoide, é um detalhe anatômico que lembra uma espada.
Eu me referi que o termo é feio por si só e não traz bons significados. Xifópago, primitivamente, na concepção mitológica referia-se a um monstro de dois corpos que eram ligados na altura do tórax (no apêndice xifoide). Xifódimo é outro nome que se dá a essa monstruosidade.
Na medicina temos essa malformação do feto, que gera os tão conhecidos gêmeos xifópagos. Na verdade eles podem nascer unidos ou colados um ao outro por outros segmentos corporais como abdome ou bacia pélvica. São malformações cuja correção cirúrgica de separação traz graves riscos de morte ou mutilações e sequelas. Enfim, são anomalias da embriogênese humana que traz muito sofrimento aos seus portadores e à família, e não há uma causa identificada, nem como evitar tal possibilidade em qualquer gestação.
Um outro nome que ainda se dá a essas crianças é gêmeos siameses. Isto porque os xifópagos mais famosos da história da medicina foram os irmãos Chang e Eng Bunker, nascidos na Tailândia (antigo Sião) em 1811 e mortos em 1874. Tiveram uma extraordinária longevidade, 63 anos, em face do prognóstico ruim que traz a síndrome. Eles não se submeteram a cirurgia de reparação pelos riscos que tal procedimento representava.  
Enfim, eu discorri com platitudes, com algumas anfractuosidades e abobrinhas para chegar numa forma atual de xifopagia. Como temos um grande rebanho de humanos, que se não viajou ao mundo da lua, vive ao menos imerso e disperso no mundo virtual com todos os seus insumos e apetrechos digitais, ficou fácil nominar tal gemelaridade (ligação genética e afetiva entre gêmeos). Temos então na era digital a tal da xifopagia digital, ou simplesmente gêmeos digitais. E eu a descrevo sem mais delongas. A grande diferença aqui é a ligação que se dá entre um humano e um objeto eletrônico, uma mídia digital, mais costumeiramente, um aparelho de telefonia celular, ou smartphone ou tablet.
Xifopagia digital é mais um daqueles corolários e fenômenos que veio ao mundo através da invenção da internet, das redes sociais e de todos os artigos da informática.
Hoje, na maioria dos países se tem mais celulares e smartphones do que habitantes. Não importa se são nações de primeiro mundo ou atrasados, social, cultural e economicamente com o Brasil.
A aqui nominada xifopagia digital já vem sendo estudada com outros nomes: webdependência, alienação digital, digitoadicção , entre outros termos. Tanto a psicologia, psiquiatria e as terapias do comportamento vêm se dedicando ao estudo, compreensão e tratamento dessa forma de dependência, que guarda semelhança com a drogadição, os vícios das drogas ilícitas.
Os principais sinais exteriores da xifopagia digital são a posse e porte continuados e incessantes  do parelho celular ou mídia equivalente (smartphone, tablet). É aquele indivíduo que porta seu celular diuturnamente. Seja numa atividade de lazer, na academia de ginástica, durante as refeições, numa cerimônia religiosa, em reuniões corporativas, no avião, na toalete, em terra, no enterro de um parente ou amigo, etc. Na análise psicológica o ciclo decorre do uso, reuso e abuso. Nesse ciclo e moto-contínuo é que se encontra o principal mecanismo da xifopagia digital; enfim no vínculo gemelar pessoa-mídia. Mas, tem prevenção e cura. Basta se conscientizar e aceitar o tratamento. 

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