sábado, 26 de agosto de 2017

Comer e viver...

COMER PARA VIVER OU MORRER DE COMER. EIS A QUESTÃO  
João Joaquim  

Muitas são as latrias de que padece a pessoa humana. Para contextualizar, o verbete latria vem do grego latreía ou latim tardio latria. Tem o significado de culto a um ente qualquer. Na origem designava apenas culto a uma divindade, a um santo.
Com o passar dos séculos a semântica deu à palavra uma ampliação de significados. Assim temos que latria refere-se também àquele amor, gosto, apego exagerada a um objeto, a uma pessoa, a um artista, a um personagem ou até mesmo aos alimentos. Como exemplos podemos mencionar a idolatria, a alcoolatria, a chocolatria, a narcolatria( drogas ilícitas ) e até a egolatria. Neste caso nada mais seria do que o indivíduo se apaixonar por si mesmo. Este auto-sentimento é também denominado de narcisismo, autofilia, autocontemplação ou amor próprio. Ou seja ,é autoestima para lá da Indochina e aquém do Hindostão.
Assim muitas são as latrias que podem acometer o indivíduo. Uma em especial vem merecendo estudos e foco da comunidade de cientistas e profissionais de saúde e das ciências médicas. De poucos ainda compreendida na sua inteireza, a fagolatria ainda constitui um daqueles enigmas do comportamento e reflexos dos ser humano. Por definição a fagolatria é como uma atração ou desejo exacerbado por alimento. Ela pode ser aquela compulsão inespecífica, ou seja o fagólatra tem uma tendência por ingestão desregrada e irracional de qualquer alimento. Temos também a fagolatria seletiva. Condição em que o sujeito tem um apetite ou desejo exagerado para determinado alimento. Quando essa impulsão mórbida é para bebidas alcoólicas ela recebe o nome de dipsolatria(dipsomania) ou metomania. Popularmente recebe o nome de alcoolatria ou alcoolismo. É comum a associação da fagolatria com a dipsolatria.
No concernente às causas, os estudos e ensaios clínicos vêm propondo que há uma predisposição genética e um fator social e comportamental . O que parece é que há uma interação poligênica com o fator ambiental e meio social onde se acha inserido o paciente. De forma que um fator atua reforçando o outro.
Um fator ambiental que tem ganhado relevo na era das comunicações (televisão, internet, redes sociais) refere-se ao marketing ou propaganda de uma infinidade de alimentos e bebidas. O apelo ao consumo alimentar vem tendo efeitos devastadores na saúde do consumidor. Comer e beber se tornaram hábitos associados ao prazer, à satisfação tão ancestral da fome. Nos primórdios da civilização o indivíduo comia para sobreviver e se nutrir. Hoje se come num  impulso de satisfação instintiva do paladar. “Do comer para viver se passou ao viver para comer”.
As consequências da fagolatria e da dipsomania (dipsolatria) são a obesidade, as elevações lipidêmicas (colesterol, triglicérides), o diabetes tipo II e a síndrome metabólica com os seus graves riscos para as doenças cardiovasculares.
Os distúrbios da fagolatria e da dipsolatria se tornaram muito prevalentes na era digital ou pós-internet. A instantaneidade, facilidade e celeridade das informações se tornaram marcas dessa chamada hipermodernidade. Comer e beber de forma desmedida e compulsiva se tornaram hábitos e cultura de socialização.  Em outro contexto e circunstâncias, a farra e prazer na ingestão do alimento , se converteram   em fatores de recompensa e fuga da ansiedade e do estresse da vida competitiva e rápida de nossos tempos.
Uma tese que ganha muita adesão é de que a fagolatria tem uma origem  em nossa ancestralidade (ancien phagein). O homem primitivo (idade das cavernas) tinha escassez de alimento. Quando o obtinha estava esfomeado e esquálido. O instinto de sobrevivência o impelia a empanturrar e empanzinar de proteína animal. À  semelhança de outras selvagens ferozes. Aliás, é o que fazem muitos dos predadores nas selvas e savanas africanas de hoje ( leões, lobos, hienas). Frente ao exposto o que se tem de certo é que a fagolatria e a  dipsolatria se tornaram de difícil tratamento, vez que envolve comportamento com muita influência de marketing, dos apelos  de mercado e da  indústria de alimentos. Mas, não se pode desprezar essa herança ancestral, de nossos primórdios, de nossa ascendência das cavernas, do homem primitivo.
O que os estudos e ensaios clínicos preconizam são atitudes e expedientes preventivos dos pais, das famílias e escolas com os filhos e alunos desde a primeira infância. A educação higiênica e alimentar deve integrar a educação global da criança tornando-a um cidadão e cidadã consciente com sua saúde e com o meio ambiente.  Julho/2017.

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