sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A voz da Natureza

O LAMENTO DAS PLANTAS E DOS ANIMAIS  

 João Joaquim  



 Já é sabido e ressabido que todos os seres vivos possuem uma linguagem própria. Existem até alguns cientistas e estudiosos do assunto buscando entender a linguagem dos vegetais. Seria o idiobotânico, o idioma das árvores. E pensando de forma democrática se revela uma realidade muito plausível. Seria muito egoísmo da parte  dos humanos, supondo estes que a comunicação lhes fosse um monopólio, uma exclusividade.
Agora, por uma fatalidade dos vegetais( que sofrem os maus tratos humanos) e amenidade do humanos, poucas pessoas, mas uma ínfima porção de gente superdotada compreende e traduz o idiobotânico.  E por que refiro-me justamente  à amenidade de nós humanos? Simples. Basta entender o seguinte: o quanto de maus tratos, violência, lesão corporal, preconceito e morte vegetal a que se assiste no dia a dia. Haveria como que muito ranger e dor  de dentes, botanicamente falando. Eles sofrem e sofrem calados.
Um dado por demais interessante refere-se à questão do preconceito e discriminação racial (ou de espécie) no reino vegetal. Assim como no gênero humano ou reino dos homens, entre as plantas também viceja esse daninho sentimento. E como tal ele se inicia entre as próprias espécies botânicas. Têm-se por exemplo algumas espécies e mesmo alguns indivíduos que se julgam melhores e de mais direitos do que outros do mesmo filo, ou fito( de planta) e do mesmo reino.
No tamanho é até natural ter-se esse preconceito  . Algumas espécies e indivíduos se orgulhar ou se arvorar pela impressão da estatura, tornar-se-ia  aceitável. Cada qual vai ter a estatura que o telômero( uma parte do cromossomo) lhe indicar e medir. Todavia esquecem essas robustas e imponentes arborizações que os melhores perfumes e  os odores mais capitosos se acham nos menores sândalos e roseiras mais espinhosas. Ou uma vez sintetizados, os melhores perfumes e colônias se acham nos menores frascos. Provando aquele milenar dogma de que tamanho não é documento, nem identidade, nem fecundidade. Basta olhar atentamente para as maiores árvores, costumam ser as de menor semente, e ficam daquele  tamanhão.
Quando se versa sobre as questões do preconceito e racismo no mundo vegetal eles existem. Com as escusas da taxionomia (classificação), mas permito-me empregar aqui o verbete raça e injúria racial no mundo vegetal, por analogia como o que se verifica no meio dos humanos. Falemos assim dos filos ou fitos vegetais.
Como dito anteriormente tais sentimentos existem entre as divisões vegetais, mas, também de nós humanos e racionais contra os vegetais. 
Imaginem agora  os vegetais se não fôssemos, nós os humanos,  dotados de razão. De razão e consciência. Já tínhamos colocado fogo no planeta. Aliás, incêndio e queimadas não faltam pelo mundo afora. Só não queimam tudo porque vêm os bombeiros e as chuvas e nos salvam do inferno final. É um risco perene.
Em matéria de preconceito ou ofensa racial no mundo dos vegetais, vale registrar que há uma inversão de valor, se comparado com as mesmas negativistas atitudes entre os homens.
A etnia negra, humanamente falando, reclama-se e com enorme razão do preconceito sofrido pela cor da pele. Trata-se de um preconceito intolerável e sem sentido. Já no reino dos vegetais dá-se o contrário e levanto essa bandeira, de tão descabida discriminação.
É cediço e encontradiço o preconceito contra todo vegetal, cuja madeira seja branca ou esbranquiçada, ou mesmo sem cor. Basta visitar os canteiros de obras, oficinas, marcenarias, etc,  que lidam com madeira. Quantos e quantos mobiliários se fazem com moveis de cor forte ou carregada em desprezo ou detrimento daquelas brancas, brancas,  ou de tom fosco e esmaecido! Então é isso, no que tange aos vegetais, ficam aqui essas considerações, sem outras embromações. 

Saindo desse papo vegetal e resvalando ao animal, lembrou-me um fortuito encontro que tive com uma dupla de cães que vagava falante e livre pelas ruas. Na verdade foi num parque nativo. Trata-se de pura veracidade. Porque além de ladrar ou rosnar os cães têm também a sua linguagem com que dialogam com outras espécies e raças. Eram de um lado um “standard” ou vira-lata de nome bidu e de outro um  shih tzu de nome Lino, tal entendimento da língua canina eu pude melhor compreender lendo a fundo a epopeia de Lemuel Gulliver, pelo que dela narra nos encontros com os Houyhnhnms e os yahoos. O colóquio era nesse palavreado, numa livre tradução .
- Diz o standard bidu  nestes termos , como você se livrou da coleira, se ainda tem  no pescoço esta gargalheira ?
- Foi simples, replicou Lino, minha mãe, quero dizer minha ama e dona, deixou-me com fome. Foi nisso que aos trancos e solavancos me soltei e pus em debandada. Se a carroça não me pegar estou livre ; espero que para sempre. A gente se une e ficamos mais fortes, como faziam nossos precursores selvagens, em matilhas.
- No meu caso foi diferente  ‘ Já sou  meio velho, tenho 10 anos de idade. Meu dono, ou pai, pois assim, a mim se refere, sempre me deixa dar algumas voltinhas. Mas no fundo quero me sentir mais livre. Assim como foram nossos ancestrais que viviam livres, felizes e soltos. Passavam até alguma fome por falta de caças e bichos que comer. Mas, não viviam cativos e prisioneiros.
- Nisso interveio bidu. Eu já sofri horrores nas mãos dos humanos. Nossa vocação, bem sabe o amigo, é a liberdade, os campos e a alegria. Comer aquelas rações, tudo de forma temperada, sequer mudam o cheiro e o sabor das nossas refeições.
- Tem razão bidu. Além do que até nossa média de idade vem caindo. Antes se esperava  viver 20 anos, 30 anos.  Agora, não. Tenho visto amigos morrer com 10 anos, 12 anos. Parece que as doenças dos humanos nos contaminaram e morremos de tudo. De enfarte, de coração, de rins, de estômago; até de câncer; tenho visto muitos caninos bater as botas. Ou esticar as canelas como dizem no vulgar.
Nesse entretempo revoou um bando de pardal de uma fileira de macega , e assustou os dois fugitivos cães, que que se esgueiraram num canteiro de capim puba, e esvairam como fumaça.
É assim a língua canina. Agora imagine como seria, se todos entendessem não só a língua dos animais de “estimação” , mas o idioma dos vegetais. Quanto lamento, quantos queixumes.
Melhor a humanidade permanecer analfabeta no idiobotânico e na língua dos animais. Já bastam os nossos vales de lágrimas e outras praças de lamentações.  Dezembro/2017.   

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