sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Natal Material

                         A ADORAÇÃO MATERIAL DOS PRESENTES DE NATAL

João Joaquim   


Eu assistia a um vídeo ( cerca 20 minutos de duração ), e pus-me em seguida a algumas reflexões. O tema era a educação do futuro, preleção essa, ao que parece, de um bem preparado jovem professor em tecnologia da informação (TI). Pelas legendas e caracterização tal aula se passou no auditória da USP, o que traz-lhe ainda mais acreditação e prestígio.
O título da referida palestra já traz uma clara ideia do teor da exposição. Referia por exemplo o palestrante sobre a velocidade das informações. Tudo chega “pronto” e aos borbotões para as pessoas, falava  do que seja a informação e o que fazer com elas, da rapidez com que se renovam as mídias. Por exemplo um “gadget” (mídia digital) pode estar sucateado e ultrapassado por outro que já é oferecido ao navegante (internauta, usuário), em questão de um ano. A relação de uma informação impressa (livro físico, apostilha, revista) com aquela veiculada por áudios e imagens (Instagran, Youtube). A preferência que os jovens têm pelas comunicações via vídeos e imagens. A credibilidade que possa ter cada informação e notícia. O que possa ser um boato, pós-verdade e Fake News. A tendência é apenas o que já está pronto e pensado. Nada de leitura, nada de raciocínio e pensamento lógico. Por isso o domínio das imagens.
Em poucas frases, a exposição do jovem palestrante era revestida de uma absoluta modernidade, para pessoas modernas, de preferência para uma geração jovem, nascida, escolada e educada sobretudo tendo como ferramentas os instrumentos, recursos, softwares do mundo digital. O público presente, pelas imagens, era formado por adolescentes e jovens calouros de universidade (USP provavelmente). O interesse e atenção eram absolutos.
Meus comentários. Por partes e fazendo comparação de épocas, cultura, tecnologias, a essência das coisas e dos humanos; tudo isto às vésperas de Natal e Ano Novo.
É de consenso que nada evoluiu tanto como a(s) tecnologia(s) de informática e de informação nos últimos 10 anos. Há uma tendência de todo processo cultural, informativo, educacional ser dominado pelo emprego de imagens, áudios e vídeos. No que depender dos críticos mais jovens o futuro dos setores de educação, de informação e veiculação de dados se fará com uso em profusão de todos esses recursos imagéticos e de áudios . A escrita, os textos, os livros físicos (em  papel) parecem que na visão faturista serão reservados aos museus. Ao menos é o que sugere o teor da palestra referida no início deste texto, Educação Para o Futuro . Considerando que  ainda seja  eu  um adepto e aficionado aos livros, ao cheiro do papel, do prelo e das gráficas,  já me sinto retrógrado e fora de moda. Ao menos vou procurar fazer uma interface entre essa tão declamada modernidade e a cultura tradicional. Aliás, já faço assim.
Que relação guarda o natal com as tecnologias digitais? Pesquisas e estatísticas da indústria e do comércio mostram que os presentes mais almejados de papai Noel são os de mídias digitais. Ipad, tablets, smartphones. Nossas crianças têm nascido já digitalizadas. Antes de irem para a escola, quase todas já viram centenas de horas de imagens, vídeos e games. Tudo isto aprendido com os ágeis toques dos minúsculos dedos. Habilidade digital(dos dedinhos) que já domina os encantos do mundo digital.
Ninguém de nenhuma cultura deve demonizar ou desdenhar essa nova geração que tem nascido, educada e vive grande parte da vida hiperconectada. Todavia, fica um alerta,  já há estudos mostrando os danos e efeitos nocivos do contínuo status online. Trata-se da webdependência ou nomofobia. Limites no uso e critérios de acesso ao mundo digital, seriam bons conselhos a pais e educadores.
A extrema dependência das tecnologias da informação e todas as plataformas digitais constituem uma face do que pode se denominar a “religião” do materialismo moderno. As novas gerações têm cada vez mais constituído  em um estado ou estágio  a que podemos cunhar de embriaguez da  tecnologia, cujos principais instrumentos são os objetos ou “gadgets” ou recursos digitais de comunicação, pela Internet. Dentre os recursos dessas mídias sobrelevam em preferências as tão massivas e ubíquas redes “sociais” como facebook, instagram e whatsApp. Existe hoje a ansiedade digital. Todos conectados.
Ao se fazer uma confrontação com os festivos momentos  natalinos de nossa era da informática e das tecnologias da informação com os primitivos e originais significados do natal, de passagem de ano, de páscoa, parece que tudo se perdeu!. Por que se tem a figura do papai Noel?  Por que da árvore de Natal?  Dos presentes desta data ?   Por que a páscoa tem como símbolos o ovo de chocolate e a figura do coelho ?
Nesse sentido, do que sejam essas celebrações, essas datas, esses ícones , esses e outros objetos   quem  bem os  explica é a própria Filosofia. Tanto a grega como a oriental. A Filosofia se resume em um  conjunto de princípios, de pensamentos, de reflexões, que não se contenta com o óbvio, com a cópia e repetição das coisas, dos costumes e dos hábitos. Daí, sua constante indagação, por que disso, daquilo, por que dos usos e costumes?
 A “religião” do capitalismo, o fascínio que o materialismo digital desperta nas pessoas, o exagerado apego e dependência dos modernos e coloridos aparelhos de mídia etc;  toda essa nova onda de modernidade e hiperconectividade têm paulatinamente tornado as pessoas como meros robôs e autômatos desse turbilhão de informações e imagens que em nada representam na construção e formação do ser humano. Tem-se muita informação , mas pouca ou nenhuma formação. Talvez o contrário, mas deformação moral e de cultura que crescimento como pessoa humana.
A essência, o íntimo, a alma, a gentileza, a fraternidade, o conhecimento de si mesmo, o sentido do que somos e para onde iremos têm sido desprezados. Tudo esquecido e negligenciado, inclusive em plenas comemorações de Natal e Ano Novo. São ceias, banquetes, manjares, os melhores repastos, libações de champanhes e caros vinhos. Com muitos fogos, áudios, imagens e vídeos.
E a essência, o significado do que sejam o intimo  humano e o simbolismo da  Natal são apagados de qualquer celebração. Quão frio, frágil e vazio o mundo propalado e adorado dos recursos digitais e das redes sociais.
Como nota de rodapé, eu explico. A figura do papai Noel, o velhinho tão cortês e gentil, de barbas brancas, irradiando bondade e simpatia, é uma criação da Coca-Cola. Em si ele lembra a própria garrafa da bebida, um link perfeito, um refrigério para a sede e o corpo. Como os fins justificam os meios, acertou em cheio o marketing e engodo dessa multinacional, que se faz presente até na Lua e em Marte. Todos se refestelam das bebidas  e comidas da marca. Hoje é a indústria de bebidas e alimentos mais rica do Planeta. Que inspiração!  não é mesmo ? E Nós eternos e meros consumidores.   Dezembro/2017. 

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