sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Pilulas da felicidade

                             AS PÍLULAS DA FELICIDADE

João Joaquim  



Feliz aniversário! Feliz Ano Novo! Felicidades! Estas são expressões muito repetidas em nossa sociedade. Elas sufragam um bem supremo que buscamos a vida inteira, para nós mesmos e para quem queremos o bem, o bom viver, a virtude; enfim a felicidade. Para os pessimistas trata-se de um desejo utópico, impossível de ser alcançado. E de fato quando avaliamos esse bem supremo sob a ótica do mundo atual torna-se uma conquista restrita a poucas pessoas. Isto porque vivemos uma sociedade dominada por uma cartilha e diretriz do capitalismo e  do consumismo a todo custo.
Para a imensa maioria das pessoas tal estado de realização (ser feliz) estaria sustentado em bens materiais como belos carros, bela casa ou apartamento, viagens pelos lugares mais belos do planeta, roupas de grife, os equipamentos digitais de última moda, satisfação plena no sexo ,  na mesa, etc.
Enfim, o objetivo de todos seria uma doce vida de nada fazer, custe o que custar. Como  resistir  também aos apelos, marketing e engodos dos mercados financeiros e de crédito? Tal comportamento é uma contínua busca para a maioria das pessoas. E isto gera o que ? Ansiedade, angústia, depressão e desilusão , porque nem tudo está ao alcance de todos . Mais dívidas, negativação em órgãos de restrição de crédito como Serasa, inscrição na dívida ativa, etc.
De  outro lado, para uma parcela menor; para aquelas pessoas mais espiritualizadas, a convivência com tantos problemas do cotidiano, os sofrimentos físicos e morais, a fome, a violência dos conflitos e guerras, a pobreza, o drama dos refugiados, o pavor provocado por terrorismo, a violência urbana, o crime organizado em conluio com agentes de Estado,  etc;  toda essa consciência nas pessoas generosas e de bem já traz um sentimento de pesar e mal estar, de infelicidade
Como então ser feliz, mesmo sem exigência de muito conforto material, ante tantos infortúnios que nos rondam, que são noticiados diuturnamente pelas redes sociais e pela televisão?
Ainda sobre a felicidade fundada no materialismo. Tem sido uma constante em nossa sociedade, uma sofreguidão e competição em busca das comidas propagadas e alardeadas como as melhores, como fonte de alegria, prazer e gozo. Esta tem sido uma das marcas dessa sociedade moderna, comer de forma orgástica e orgíaca; proceder às libações alcoólicas até ao estupor da razão e da critica.
Outra marca desses esquisitos tempos tem sido um sem-número dos transtornos psíquicos e nas relações humanas. Pais versus filhos, filhos versus educadores, esgarçamentos das relações conjugais, crimes passionais, feminicídios, assédios de toda ordem, moral e sexual, corrupção em todos os níveis ,  etc.
Como consequências veem-se nos consultórios de psicólogos e psiquiatras muitos frequentadores: os doentes de estresse, de depressão, de transtornos de ansiedade, fobias e ideação suicida.
A insatisfação com o modelo de corpo perfeito, a busca por tratamento estético, o tratamento das rugas e flacidez com botox, as cirurgias plásticas, as dietas restritivas e academias de ginásticas. Todos, são expedientes propostos por essa sociedade de consumo. O fracasso e ineficácia dessas metas resultam em mais ansiedade, sensação de fragilidade, mais angústia e infelicidade. Onde encontrar então a bem-aventurança, a felicidade?
Para tanto não faltam outras propostas. Assim o fez a indústria farmacêutica, com a criação das chamadas drogas lícitas, os psicofármacos. São medicamentos com a finalidade de promover a felicidade. São várias as pílulas da felicidade. Temos os ansiolíticos.
Vejam que sugestivo adjetivo criaram  os mercadores de remédios. Ansiolítico, seria a lysis, destruição, dissolução da ansiedade. E são muitos os fármacos vendidos com esse propósito: fluoxetina, citalopram,  clonazepan e tantas outras substâncias para mitigar, amainar o sofrimento da alma e do corpo.
E para os que sofrem com as frustrações e insônias, há também os soníferos ou soporíferos. Tomou, o indivíduo entra num estado de anestesia mental, estupor e sono mais profundo e prolongado. São ou não pílulas da felicidade, nesses tempos de tanta desilusão, de tanta devassidão, de completo apodrecimento dos valores morais e sociais, da política e da economia?
E mais um detalhe dessas chamadas pílulas da felicidade, elas viciam. Ou seja, os laboratórios ou  a indústria farmacêutica, também criaram essa marca dos medicamentos, receitados e comprados no mundo inteiro, por essa sociedade em franca derrocada e decadência. Lembra-me a antigo Império Romano.
Muitos foram os filósofos que abordaram o tema felicidade. Dos  apelos de felicidade impostos  pelas mídias, inclusos as drogas psicoativas.  Nietzsche Chamou esse expediente  de felicidade de rebanho. É um comportamento de mimetização, de imitação do que é divulgado como o padrão de consumo pelo sistema em que vivemos. O que vale é o pertencimento ao sistema.
Aldous Huxley escreveu um livro de título curioso-“ Admirável mundo novo”. Isto graças ao uso da soma, uma espécie de droga da felicidade abordada pela magnifica obra desse autor, onde as pessoas permanecem sempre jovens e felizes. Seria como um antídoto da tristeza e do sofrimento. Essa droga, a soma, hoje existe às dezenas no mercado dos psicotrópicos.
Aristóteles foi outro grande pensador que discorreu sobre a felicidade. Ele referiu que muitas vezes na busca da felicidade, tendo em conta bens materiais se foge dos atributos e valores da própria pessoa como a honra, a moral e a razão. De acordo com a ética aristotélica, conhecida por eudaimonia  (felicidade) os atos humanos tendem para o bem. E o bem supremo é a felicidade.
Esta é a bem-aventurança  que deve ser realizada e buscada  como excelência, o melhor de nós, que é a nossa natureza racional. É possível ser feliz com essa essência exclusiva e inerente  ao gênero humano. Basta cultivar esses valores imateriais e imanentes à pessoa humana, em que pese a certeza de que o mundo atual, com todos os seus engodos e sistemas de alienação, insistir em não deixar.  Como recomendou a menina Anne Frank , apesar de tudo, a gente deve acreditar na bondade humana. E eu acredito. Dezembro/2017

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