terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Gente Nervosa

PESSOAS EXPLOSIVAS
João Joaquim  

Uma característica necessária e construtiva nas profissões em geral é a chamada interdisciplinariedade. Embora rabilongo eu explico melhor este conceito. Trata-se na verdade dos conhecimentos interespecíficos. Ou seja, é a busca de conhecimentos em outros ramos profissionais, em outros ramos científicos, no sentido de uma otimização na prestação de um serviço, de uma assistência profissional.
Tal expediente pode ocorrer nas mais distintas áreas do conhecimento humano e especialidades. São os casos por exemplo do direito, da engenharia, da física, da química e da medicina. Como este iniciado escriba, deste modesto artigo, é discípulo de esculápio, ele falará do exemplo dessa profissão, cujo mister é a prevenção e a cura das doenças.
Assim ocorre com os chamados operadores das ciências médicas, nos seus mais variados ramos. É provável que sejam os médicos os que mais precisam desse conhecimento interdisciplinar para a mais técnica, ética e humana prestação de serviço. Na compreensão das doenças como se torna importante dominar informações de fisiologia, de biologia, de química, de zoologia. Muita vez até de história e religião.
Na área de laboratório e diagnósticos o quanto se usa de dados da física, de biofísica, de matemática e engenharia elétrica.
Para um clinico de qualquer especialidade o quanto é importante o domínio de semiologia, de psicologia, de cultura popular, e de língua portuguesa, em se vivendo no Brasil.
Particularmente, como cardiologista sempre faço muita interconexão dos sintomas com a psicologia e psiquiatria. E neste sentido falo de uma doença pouco citada na literatura médica, mas que pela prevalência carece de mais realce. Trata-se do transtorno explosivo intermitente (TEI).
O que se tem de certo é que é um distúrbio comportamental da idade do próprio homem. Ele começa a ser citado pela psicologia e psiquiatria já em fins do século XVIII. Por definição é uma reação explosiva de raiva e de ódio diante de uma frustação até banal. Nessa circunstância o indivíduo numa reação colérica reage e responde violentamente com destruição material, xingamentos, podendo chegar a graves agressões físicas e assassinatos. Como  exemplos, uma leve colisão de trânsito, uma queda do sinal de internet, um defeito de aparelho elétrico, o fim de um relacionamento conjugal etc.
Calcula-se que o TEI nos EEUU atinja entre 2,5% a 3% da população. No Brasil não há estatística sobre a doença; mas deve ter quase a mesma prevalência da sociedade americana.
Quanto a causa (etiologia), admite-se que possa haver uma origem  biológica com baixa concentração de mediadores neuro-horrmonais. Ao que sugerem alguns estudos, a serotonina, hormônio do humor e bem-estar, esteja reduzida de forma crônica nesses indivíduos explosivos. Uma outra hipótese bem consistente refere a influência transgeracional. Ou seja, um filho cujo pai tenha tal transtorno, copiará, modelará tal comportamento. Trata-se de um fator educacional. Uma influência por mimetização, por modelagem do educador( pai, cuidador).
O que fica claro é que a doença tem uma causa mista. Uma vez havendo o fator biológico neuro-hormonal, o seu portador passaria essa influência aos filhos com o reforço por educação e modelagem. O filho repetiria as mesmas reações dos pais. Há uma imitação como  se estas fossem a única forma de lidar e superar as frustações do dia a dia, as mais banais para uma pessoa normal e equilibrada.
O que é reconfortante é que há tratamento para essa disfunção comportamental. Consiste basicamente em alguns psicotrópicos temporários; e mais alongadamente uma  psicoterapia cognitiva e comportamental. Nessas sessões terapêuticas, o portador de transtorno explosivo intermitente irá aprender a lidar e conviver com as frustações da vida. Será um aprendizado e diretriz a se repetir pelo resto da vida. Vida que se quer com paz, respeito e serenidade para com os objetos, com as coisas, com os animais e sobretudo com as pessoas à nossa volta, que são as maiores vítimas dos portadores desses transtorno, os  explosivos e nervosos intermitentes ou contínuos. E eles andam soltos por aí sem tratamento e representam um perigo para a sociedade.
Não confundir com as pessoas portadoras de personalidade psicopata ou sociopatas; são os casos por exemplo do assassinos passionais, os feminicidas e outras autores de crimes por motivos fúteis.                                  Janeiro /2018

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