sexta-feira, 30 de março de 2018

Lixo e Civilidade

O DESTINO DE NOSSO LIXO E NOSSO GRAU DE INCIVILIDADE
 João Joaquim  
Se há um exemplo de sandice ou falta de civilidade que possa exibir o homem civilizado, eu citaria o descaso ou abandono com o lixo que ele produz. Que fique bem repisado este resto da frase: não o lixo produzido em si, mas o abandono ou destino que se dá aos resíduos, descartes, objetos inúteis, papéis, plásticos, embalagens, alimentos não aproveitados e sobras de tudo quanto  se faz uso.
As palavras cidade (do latim civitate), cidadão (o habitante da cidade e no gozo de direitos e deveres para com o Estado e outros cidadãos) e civilidade (latim civilitate) são cognatas. Elas têm a mesma origem e são inter-relacionadas. Politica , também tem tudo a ver, vem de polis, cidade. A arte de administrar uma cidade ou Estado.
Civilidade deve ser entendida como uma cartilha ou manual de atitudes observadas por todos nas relações mútuas, em sinal de respeito e consideração ao outro. Outros verbetes equivalentes seriam urbanidade, gentileza, cooperação, solidariedade, delicadeza e fraternidade.
Existem também um tempo e um espaço nos quais podemos expressar nosso grau e nossa evolução civilizatória. Assim têm-se uma data comemorativa e os espaços festivos e de celebrações. Basta lembrar que as pessoas são useiras e vezeiras de dois espaços em suas vidas, banheiro (sanitário) e mesa de refeições. Estes são dois espaços mais comezinhos na rotina de qualquer pessoa. Não importa onde situados estes espaços, diariamente usufruídos pelos cidadãos. Aqui, cada qual, inescapavelmente, deixará o seu grau de civilidade (ou de incivilidade). Para tanto, basta uma comparação do antes e depois do uso desse espaço , desses móveis, desses bens públicos ou privados.
De como o indivíduo recebeu e deixou esse espaço? Pode-se qualquer um perguntar. O grau de limpeza e organização, o acondicionamento dos utensílios, o destino do lixo, dos dejetos etc. Aqui, sim, ficarão os sinais, os indicadores, as marcas do grau educacional, de civilidade e respeito de qualquer pessoa.
Imagine-se agora em uma casa de eventos festivos, de festas de aniversário, casamento e outras datas solenes. Todo aquele cenário está ricamente preparado e organizado em limpeza, decoração, disciplinado e vistosamente mobiliado. Finda a festa tem-se um cenário de completa desorganização, com mesas tomadas de restos de alimentos, forros sujos e desalinhados, guardanapos sujos e deixados no chão, banheiros fétidos, lixos fora dos recipientes próprios, excrementos fora do vaso sanitário, entre outros desleixos. Todo esse cenário, passada a satisfação dos instintos do estômago, passadas as libações de toda ordem e os gozos gastronômicos, no mínimo, esse desfigurado cenário revela  o que? Uma regressão aos instintos animalescos, a um comportamento irracional, ou quando menos, de absoluta incivilidade e desrespeito ao outro cidadão, seja esse outro o funcionário ou empregado (garçom, funcionário de limpeza) ou mesmo outra pessoa, a próxima a usar aquele espaço. Toda forma de civilidade, de relação solidária e respeitosa com os ambientes públicos e privados e com as pessoas devem ser uma constante na educação às crianças.
Ética, cidadania e civilidade são práticas aprendidas, ensinadas pelas famílias e escolas (nas pessoas de monitores e educadores). Virtude e honestidade, assim como civilidade e solidariedade são expedientes que devem integrar os ensinamentos das grades curriculares do ensino fundamental. Aristóteles deixou essa tese, de que a Ética e virtude devem ser ensinadas e praticadas com as crianças. Não são qualidades inatas, mas adquiridas.
Tem sido muito falada e repetida a palavra sustentabilidade, o mundo sustentável, o clima, o efeito estufa, a emissão de CO2, a poluição, o equilíbrio ecológico, o destino dos lixos, o respeito ao meio ambiente. São esses os tantos termos do tão propalado mundo sustentável. Fala-se tanto, tantos encontros, painéis, protocolos, reunião do G10, do G20, das nações mais ricas e poluidoras.
Muito se fala, pouco se faz. Assim têm sido os estadistas dos países mais poderosos, assim têm sido as advertências dos cientistas do clima, dos ecologistas. Assim têm sido os cidadãos, ditos civilizados que cientes dos repetidos atos de desrespeito e lesão à natureza continuam nas mesmas atitudes e expedientes de falta de civilidade e sujeira   em datas solenes  e espaços comemorativos.
Tome-se como modelo uma festa de réveillon. Que seja, numa via pública, num clube. Imaginem-se as orgias regadas de bebidas e comidas na passagem de ano novo em Copacabana RJ. Ao amanhecer, têm-se um cenário destruidor  de furação. Nessa data e ambiente, intitulados de alegria e celebração, tem-se uma prova, um certificado autêntico do grau e da evolução civilizatória do animal humano. São toneladas de lixos, dejetos e excrementos que exigirão centenas de trabalhadores braçais, os garis, um trabalho hercúleo  para o correto destino produzido pelos convivas e comensais daquela noite. Isto sim, é uma mostra repetida e vivida pela sociedade de nosso estágio de não educação, de incivilidade  e  não fraternidade. Enquanto os convivas, satisfeitos dos festejos orgíacos e dionisíacos , regados a vinho, champanhe e manjares vão embora, de ressaca;  os pobres e malvestidos trabalhadores braçais, num trabalho escravista e mal remunerado irão limpar os lixos, restos alimentares, papeis, garrafas pets e dejetos( cocô, xixi) deixados pelos festeiros da noite. Quanta incivilidade, não ?  março/2018.     

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