quinta-feira, 14 de junho de 2018

Ética e honestidade

A REGULAMENTAÇÃO DE ÉTICA E DA HONESTIDADE
João Joaquim  

Se tem um atributo, uma característica, que mais diferença uma pessoa da outra  se chama honestidade. E aqui se pode abrir uma enorme chave porque ela é referida com vários outros termos, verbetes e sinônimos. Na essência, como intenção e desiderato são a mesma ideia. Quer alguns exemplos? Lá vão: ética, decoro, decência, correção, bom caráter, lealdade, entre outros.
A honestidade, "honestamente falando" merece até uma sistematização, uma classificação que seja. Tem aquela, simpleszinha, mas que se memorizada e guardada já vale a pena. Pode-se dividi-la em natural e imposta. A de causa natural seria aquela honestidade que se cultiva e se pratica por um pendor ou inclinação intrínseca ao indivíduo. Muitos a nominam também de berço, de família ou hereditária. Porque de fato, não é que o sujeito nasça com a vocação, já com o aprendizado da honestidade. Ela, assim como a virtude e a ética deve ser ensinada. Trata-se nessa natureza de um atributo exercitado, praticado e introjetado na consciência e valores morais do indivíduo.
O grande pensador Aristóteles já admoestava sobre a ética e a virtude, como valores morais a ser ensinados às crianças e jovens. A sociedade grega dos tempos de Aristóteles dava tanto valor à honestidade e à ética que havia escolas e mestres dedicados a essas disciplinas. O próprio Aristóteles era um mestre no ensinamento da disciplina. É dele, a obra Ética a Nicômano. Alexandre, o grande, imperador da Macedônia, contratou Aristóteles para educar o filho, Nicômano.  O livro ressalta como um compêndio, um código de vida e de ética a Nicômano. Tadavia seus ensinamentos são atemporais, anterior e posterior  a qualquer cultura e civilização. 
A honestidade classificada como imposta é aquela contida numa infinidade de leis, de códigos, de normas, de convenções, de contratos, de redação legislativa, de ajustamento, de posturas, e os tão conhecidos códigos de ética profissional. Muitas são as empresas, órgãos públicos e privados, autarquias que editam seus códigos de ética. Os governos em todos os seus níveis possuem as suas diretrizes de como se comportar, de como se relacionar com as pessoas fora e dentro da empresa. Até no concernente às relações afetivas, nos termos, palavras e cumprimentos, nas questões relativas aos tão propalados assédios morais e sexuais. Ou seja, há uma nítida preocupação dos executivos e gestores de recursos humanos com as questões atinentes à honestidade e com a ética. Porque na intimidade são atributos que se fundem e se confundem. E com absoluta razão. Honestidade e ética são gêmeas siamesas.
Muitas empresas têm hoje uma cartilha de relacionamento interno de nome até pomposo, porque foi importada do inglês. Compliance (pronuncia-se complaisse). Como tantos outros anglicismos, ela anda muito em voga. Como quase tudo, quanto importado tem mais valor. Improbidade administrativa, orientações contra corrupção e lavagem de dinheiro. Resumindo em uma única palavra, honestidade. É isto que recomenda a tão pronunciada compliance.
Quando se fala em conduta humana faz-se necessário buscar noções de sociologia, de antropologia e mesmo na psicologia comportamental  e filosofia. Por instinto, natureza e ancestralidade o homem é um animal rapace(que furta e rouba) e desonesto. Grande parte da humanidade não rouba, não corrompe ou se deixa corromper, não tem atitudes ímprobas, não trapaceia e tantos outros atos indignos e desonestos pelo temor da punição. Simplesmente pelo medo do castigo.
Em algumas civilizações, países e comunidades, a maioria das pessoas se conduz honestamente porque tem a cultura, os ensinamentos e os exemplos de honestidade. Tal assertiva, a do homem como um animal desonesto, tem sido ratificada em estudos e experimentos sociais. E nem esses estudos observacionais são necessários. Imagine-se por exemplo os relatos de objetos perdidos, uma carteira contendo documentos e dinheiro. Quantos desses achados são integralmente devolvidos? Os casos são de exceção e contemplados com honrarias e condecoração pelas autoridades. Pontualmente, a própria mídia, as televisões, relatam e divulgam casos de perdidos e depois achados e devolvidos por pessoas anônimas, um trabalhador braçal e humilde.
São tão excepcionais que são aclamados e merecedores de honrarias e compensações sociais ou pecuniária pelo feito. O normal seria todos que achassem algo alheio que devolvesse, se não ao dono ,a alguma autoridade , para que buscasse encontrar o verdadeiro proprietário ou destinasse o bem a alguma instituição filantrópica. 
A tendência e inclinação natural do ser humano à desonestidade são de tamanha magnitude que foram necessárias a criação dos códigos de conduta. Não seriam necessários, se majoritariamente, o homem (gênero) tivesse o tropismo, a atração pela honestidade. Assim, o Estado, as empresas públicas e privadas tiveram que regulamentar a honestidade. Daí então foram editados o código civil, o penal, o código de defesa do consumidor, e os códigos de ética das categorias profissionais.
Por isso que se afirma em alto e bom som: honestidade e ética são puras e verdadeiras quando exercidas por um impulso natural, de berço. Porque com as cartilhas  impostas, o sujeito as praticam por medo de punição e de cara feia. É o que ocorre com muitos médicos, advogados, funcionários públicos e outros agentes públicos e políticos. Aliás, como referiu um dia o filósofo cínico Diógenes, e até parodiando-o, procura-se um político honesto.  Muitas lanternas e faróis serão necessários nessa empreitada.

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