sexta-feira, 29 de junho de 2018

Como Bois em Boiadas

João Joaquim  

 Quando se fala em cultura, em escolaridade, em cidadania, em formação de senso crítico, em participação do indivíduo na vida social e política do país, etc, uma pergunta de grande significado e contundente se torna muito pertinente e presente. A pergunta seria: que organização ou órgão teria uma grande contribuição nesse sentido.  Enfim , em outras palavras, que instituições ou segmentos da vida pública ou privada poderiam melhorar ou piorar o nível de conhecimentos e conscientização do cidadão? Como exemplos neste sentido: a escolaridade do sujeito, os conhecimentos técnicos e científicos de cada pessoa nas relações civis e profissionais, os seus direitos e deveres entre outros atributos na sua formação global .
Como resposta eu imagino que todos vão pensar em uníssono que sejam os veículos de comunicação. Vamos pensar agora em termos de Brasil, nosso país tem no mínimo 15 milhões de analfabetos absolutos, numa cegueira escolar e cultural total. No que se refere aos analfabetos funcionais, as estatísticas não são muito confiáveis. Mas, com certeza esse rebanho de gente  ultrapassa os 50 milhões de pessoas. E os de baixa escolaridade outros 50 milhões.
E aqui então tem-se uma questão nevrálgica. Se a maioria das pessoas tem inaptidão para a leitura ou não compreendem um parágrafo de jornal, qual o veículo de comunicação que ela( maioria) mais compreende? Obviamente que a televisão. Tem-se também a opção de internet com áudios e vídeos, mas a televisão por questão de acessibilidade ainda é o veículo mais assistido e mais popular. Porque seu uso também se dá de forma coletiva.
Eis que então está posta a questão mais nevrálgica nessa comunicação e nessa contribuição. Vamos refletir aqui nas opções da TV aberta, aquela em que com um monitor (televisor) tem-se acesso a todos os canais.
Estamos em junho de 2018, mês quando se passa o torneio de futebol mundial Copa Fifa Rússia 2018. Para nortear o presente artigo, eu dispus-me durante 10 dias a  “navegar” por cerca de 20 canais de TV, aqueles abertos e os por assinatura. Com isso ter como fazer uma resenha crítica do que se passa nessas redes de televisão nos períodos diurno e noturno. Quanto ao jornalismo. Em relação ao noticiário social e político, todos os canais são repetitivos, mostrando os principais fatos e ocorrências, no mesmo tom e fidelidade, numa linguagem e português bem acessível às pessoas, mesmo para os analfabetos.
Quanto aos programas culturais, aqueles na modalidade de entrevistas ou “talk show”. Existem vários, mas cujo conteúdo cultural são na maioria de um nível ou proveito extremamente pobre e deficitário ao se cogitar  algum acréscimo na vida de qualquer pessoa.
Ainda na modalidade de jornalismo, temos alguns canais de TV aberta que exibem o chamado jornalismo policial, porque envolve toda forma de crime. Os programas, à maneira de um reality show tratam de todas as dinâmicas do submundo as mais imundas deste mundo. Neste mês em que se passa a copa FIFA Rússia 2018, têm-se aqueles canais que não transmitem os jogos da competição. No sentido de competição por audiência veem-se as cenas mais macabras e sinistras do mundo policial. No fundo e nos bastidores essas emissoras querem competir por telespectadores dos jogos de futebol das outras Tvs. Assim passa-se o caso do sequestro e assassinato de uma adolescente em São Paulo capital. Duas emissoras numa espécie de reality show macabro têm disputado a audiência diária sobre o episódio. Não basta a  notícia do andamento do inquérito e  oitivas de suspeitos, as cenas e depoimentos os mais sangramentos e ignóbeis têm que ser mostrados em toda sua crueza e perversidade.
Duas semanas do crime se passaram e a identidade do assassino continua uma incógnita . Este tem se constituído no mote do funesto seriado da duas redes de televisão em âmbito nacional. Ao que parece, vão exibir a horrorosa matéria até o final da copa do mundo. Os fins por audiência justificam todo o padrão desse jornalismo macabro e vilanias na mais genuína essência .  A conferir, vendo e assistindo a tais programações.
O padrão inqualificável e sofrível nos outros canais não param por aí. Tomemos a temática do momento, o futebol, debatido nos canais de transmissão dos jogos. Foram cinco os canais assistidos neste período de 10 dias. A primeira impressão que fica vendo tais programas com integrantes de variadas formações (jornalistas, ex jogadores, repórteres)  a primeira sensação então é que esses interlocutores falam apenas para nossos analfabetos. Assim pensando eles abrigam razão, porque são mesmo milhões espalhados pelo país como referido no início deste artigo. A audiência auferida com tal padrão inqualificável (fim) já justifica o faturamento com os patrocinadores que vendem suas marcas.  E os meios empregados desses canais televisivos.
Enfim, ouvindo e vendo as platitudes, os lugares-comuns, as abobrinhas, as futilidades e superficialidades de tais programas chega-se prontamente a conclusão: em nada, em absolutamente nada eles acrescentam alguma coisa de construtivo e melhoria  à cultura e na vida das pessoas. Se o sujeito já é bronco e acrítico, mais ignorante e bruto ele se tornará.
O que se tira e deduz de todo esse cenário, analisando as grades de programação de nossas redes de televisão, é que temos um expediente a que Nietzsche e Schopenhauer chamaram de efeito manada. Tem-se um sistema mercadológico , capitalista e consumista no comando.  Seus autores, atores, gestores e comunicadores se comportam como boiadeiros, peões e capatazes. Os comandados, as massas de pessoas, muitas acríticas e ignaras seguem esses comandos como bois-madrinhas. São massas de pessoas bovinas, num processo aviltante  de plena alienação e marginalização educativa e  social .

Ou seja, a televisão que poderia ter um papel aditivo na promoção do cabedal de cultura e cidadania, representa na verdade  um retrocesso, um engodo e alienação das pessoas. E tal efeito é sobretudo nocivo e destrutivo para nossas crianças e juventude. Quão triste e melancólico.                Julho/2018.  

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