ESPERANÇA EXIGE UMA ATITUDE ATIVA
João Joaquim
Um sentimento ou energia que move e
dinamiza o ser humano se chama esperança. Ela é, aliás, uma das 3 virtudes
teologais, fé, esperança e caridade. Nos sistemas da filosofia devemos
distinguir esperança de espera ou expectativa. A esperança se dá na
medida em que seja uma atitude ativa do indivíduo em se alcançar aquele
objeto de sua ação.
Se eu tenho por exemplo um projeto
qualquer eu tenho que me imbuir de iniciativa, de uma atuação, estratégia e
força na sua realização. A espera ou expectativa torna a pessoa apenas uma
expectadora de que algo lhe ocorra de favorável.
Dois exemplos, de espera e esperança.
Vamos a eles .
No jogo da megasena, vou apenas
ficar na espera dos números escolhidos e marcados na cartela coincidir com
aqueles do dia do sorteio. Uma simples e passiva espera.
Já na triste situação ética e
política por que passa o Brasil, eu posso ter uma esperança ativa, com
protestos, luta pacífica, manifestação de insatisfação em vias públicas ou
através de um meio de comunicação. Tem sido o exemplo das redes sociais, com
mensagens de protesto, de cobrança de atitudes dos governantes,
abaixo-assinados e até lei de iniciativa popular. Como se deu no caso da lei da
ficha limpa.
Essa lei de 2010 se deu por esperança
ativa de centenas de pessoas, mais de mil pessoas. Trata-se, referida
lei, da inelegibilidade de candidato a cargo político com algum
antecedente criminal, que tenha se tornado réu ou já condenado por algum
tribunal colegiado.
As coisas, os fatos, os comportamentos e condutas de ilicitudes e de
delitos andam tão corriqueiros e repetitivos que parecem querer entrar para os
códigos de conduta, de ética, de postura e jeito de se viver e relacionar com
pessoas e empresas do mesmo caráter, de mesmo jaez e natureza; fatos comum neste nosso Brasil . Parece que estamos na era
da naturalização ou normalização (tornar normal, regra) da desonestidade.
Tal percepção se tornou tão nítida que gestos corriqueiros e comezinhos
de ética e honestidade passaram a ser motivos de grandes manchetes de
telejornais e condecoração, feita por órgãos públicos e privados.
Alguns casos pontuais remanescem na memória dos brasileiros. Basta citar
o exemplo do adolescente que achou um smartphone e teve o trabalho e diligência
de localizar o dono e devolver o objeto.
E o gari que em sua laboriosa jornada de trabalho, em recolher os lixos
produzidos pelos humanos, encontrou uma carteira ou pasta repleta de dinheiro.
Num gesto extremo de honestidade e honradez, como não havia endereço ou
telefone de contato com o dono daquele valor entregou todo o achado na primeira
delegacia de polícia.
Tais atitudes e comportamentos têm sido motivo de regozijo e comemoração
por muitos veículos de comunicação, por segmentos sérios da sociedade e por
muitas pessoas de gestos, atitudes e vida plenamente honesta. O que deveria ser
uma regra de vida passou a ser exceção e razão de condecoração . Achar uma
carteira ou bolsa com dinheiro e devolver deveria ser um gesto corriqueiro e
simples de qualquer cidadão e não ato heroico.
Eu nunca li, mas gostaria de saber qual a relação que existe entre
desonestidade com por exemplo o status socioeconômico, com o grau de
instrução e hierarquia funcional ou política. Por uma dedução observável ou
empírica fica-me a impressão que quanto mais abastado (ou rico) ou hierárquico
for a pessoa, mais tendência ela terá de ser desonesta e corruptora (ou
corrupta). Do mesmo modo o indivíduo mais instruído, mais técnico e conhecedor
de sua área profissional. É servir-se do poder em beneficio pessoal ao invés de
servir-se do poder em prol da sociedade.
Nos dois exemplos, do rico ou alto grau funcional (político,
autoridade), o sujeito reúne condições econômicas, poder de cooptação de
autoridades e tráfico de influência pela função pública exercida. Nosso sistema
político tem esses exemplos em profusão, como o têm demonstrado o esquema do
Mensalão e a operação Lava-Jato.
Tomando por fim a atual situação de nosso Brasil; as cenas vistas no
cenário político e em alguns meios empresariais (ou empreiteiras) deixam-nos
pasmados, estupefatos e até sem expectativa de melhora, de mudança e punição a
tantos corruptos e corruptores.
Sem nominar porque se torna impossível pelo número de denunciados pelo
ministério público, o que acontecerá com os larápios e ladrões do dinheiro de
órgãos públicos, de desvios de verbas destinadas a serviços básicos como
merenda escolar e saúde pública?
E com os ladravazes e saqueadores da Petrobras? Alguns estão presos e
até devolveram parte dos roubos. Mas, e os outros? Só porque ficaram ricos e
foram altos hierarcas como políticos e mandatários da nação? A lei deveria
igualmente valer para todos. Uma justa pena a esses gatunos e ladrões seria
tomar de volta tudo que roubaram e longos anos na cadeia.
Por isso eu conclamo a todos. Vamos ter esperança de melhora. Para isso
, que não seja uma espera passiva como num jogo lotérico, mas uma esperança de
mudança ativa, com manifestações livres (direito de opinião e expressão) e
protestos de indignação. “indignai-vos”! Seria o meu conselho a todos.
Dezembro 2018
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