quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Medicalizados

VENDEM-SE REMÉDIOS PARA GAGUEIRA E IMPOTÊNCIA SEXUAL E SEM RECEITA MÉDICA

João Joaquim  

Vivemos em uma sociedade demasiadamente medicalizada. Não bastasse parcela significativa das pessoas viverem sob efeitos de drogas ilícitas. Ou melhor de ex drogas ilícitas porque ao que sugerem os julgamentos de nossas cortes superiores, ser usuário se tornou lícito e legal. Em outros termos, o usuário de qualquer entorpecente (maconha, cocaína, crack, merla, LSD) não sofrerá mais nenhuma punição da justiça. Ainda será definido o quanto em gramas, ou quantos cigarros o indivíduo pode portar. Missão a cargo de nosso colendo supremo tribunal federal (STF).
Três são as drogas (já lícitas e sociais) causadoras de grande número de doenças psíquicas e orgânicas. Sobretudo orgânicas. A nicotina (tabagismo), o álcool (alcoolismo) e a maconha (canabismo). Com uma observação muito pertinente, os vícios do álcool e da maconha trazem para muito além dos danos físicos, graves, gravíssimos efeitos psíquicos e sociais. Melhor explicado: o tabagismo, tirante o efeito passivo nas pessoas íntimas e coabitantes (cônjuges, filhos) não causa danos a terceiros, porque não interfere na sanidade psíquica, clinicamente significativa.
De outro lado e ao contrário temos os efeitos das substâncias psicoativas (ou psicotrópicas)do  álcool etílico e maconha (canabis sattiva). Em tradução popular, o indivíduo sob efeito do álcool e da maconha perde a sua personalidade, ele se transforma em uma figura animalesca e se torna capaz das piores perversidades. O viciado nessas substâncias perde o senso crítico, perde o sentimento do remorso, perde o pudor e o senso moral e se torna apto à prática de atos e atitudes as mais cruéis em resposta a alguma ofensa ou provocação que lhe são infligidas. E nem tanto precisa, basta revisitar as estatísticas dos crimes e mortes passivas nos acidentes de trânsito. São números de guerra, e com um gravoso adicional, costumam ser mortes coletivas .
No tocante à nossa sociedade medicalizada. O Brasil é um dos países que mais ingere remédios. Se revela como uma distorção, mas é uma triste e melancólica estatística. Apesar de considerada uma nação emergente, constituímos uma nação campeã no consumo de insumos farmacêuticos. E aqui vêm as razões.
Primeira, porque o mercado dos remédios é de fato muito poderoso quanto à questão do marketing e propaganda. O lobby dos executivos do ramo junto aos órgãos estatais é muito persistente e eficaz. O governo cede às investidas e reivindicações porque como contrapartida vêm as receitas sob a forma de arrecadação de impostos e outros dividendos, entre eles as cotas pessoais como propina e corrupção. Práticas naturalizadas no Brasil. Muitos expedientes nefastos, ilícitos, indignos, ilegais em nossa sociedade vão se naturalizando, se tornando aceitas e rotineiras na vida os cidadãos.  Junto com a negociação oficial, existe uma negociata paralela, um departamento de propinas.
A segunda razão também tem estreita ligação com a propaganda e marketing. Deveria ser como agora se faz com propaganda de cigarro, proibida na maioria dos países, inclusive  no Brasil. Mas, não é assim que se dá com medicamentos. Eles têm publicidade como se fosse produtos de supermercado. Uma lista enorme de medicamentos está à disposição dos consumidores como se fosse um cardápio de padaria e restaurante. As gôndolas de farmácias e drogarias estão à disposição dos consumidores, com rótulos bem visíveis de suas indicações. E os balconistas ali de prontidão para venda. São treinados pelos laboratórios para isso.
Irônicas e hilariantes são as ofertas de tantos produtos, para tantos males, deficiências e dores das pessoas. Sem nenhum pudor ou vergonha os anúncios de remédios aconselham ou receitam assim: para tal sintoma, dor, ou doença tome tal medicamento, se sentir mal ou não curar procure o médico. Ou seja, em primeiro lugar se automedique, se intoxique, complicou? Agora faça o certo e ético que é a consulta ao médico. Enfim, o marketing de remédios no Brasil chega a esse deboche, ao esse escárnio. Por isso a expressão “só mesmo no Brasil”. E todos os órgãos fiscalizadores e de  Ética são  permissivos; entre os quais os  conselhos de Farmácia e de Medicina, Anvisa, Procon, etc.  Acha-se de tudo, de remédios para gagueira  até milagrosas para turbinar o desejo sexual.
A 4º razão é de fato o comportamento useiro e vezeiro de nossa sociedade em automedicação. É rara uma família, onde junto com a dispensa de alimentos e víveres não se encontra uma mini farmácia. De forma igual, é difícil encontrar alguém que não use um analgésico, um antinflamatório  , vitaminas e outros suplementos por sua conta e risco. As Academias de ginástica são um bom exemplo desses produtos.
A 5º razão, também de enorme relevância, se refere a duas classes de profissionais, os médicos e farmacêuticos. Logo eles, de que maneira? São os grandes prescritores de medicamentos. Por injunções políticas, somos um país em involução e atraso em investimentos em qualidade na formação de profissionais de saúde. Faltam verbas e apoio dos sucessivos governos com as pesquisas e estrutura das universidades. Há um sucateamento lento e gradual das instituições de ensino, como de resto com toda a educação. À semelhança do Art 5º de nossa constituição temos um mantra de igualdade no tema Educação, inclusive a de formação de médicos. Estamos nos igualando aos egressos de Faculdades de Cuba, Bolívia, Venezuela e outras republiquetas socialistas. A questão não se revela discriminativa contra essas pessoas , desses países, mas, sim discricioanária de seus governantes com a  falta de estruturas para uma exigente formação de médicos.  Saúde e Educação para governos socialistas estão em segunda plano. Pessoas críticas, bem formadas e bem informadas incomodam governantes de índoles tirânicas , opressores dissimulados.
Um triste capítulo de nossa sociedade medicalizada é o do consumo dos chamados psicotrópicos. Os lícitos e receitados pelos médicos. Mas, nem deles, os médicos que receitam,  precisamos tanto porque o abastecimento se faz pelo mercado pirata ou alternativo (paralelo). Na falta de receita existem várias opções fáceis. Compram-se remédios até pela internet.

Em tempos da modernidade líquida, nunca se viu tanta depressão, tanta ansiedade, tanto transtorno psíquico e social. são as dores existenciais e da alma. São as angústias e dores da vida. Viver está difícil, angustioso, com insônias, enxaquecas, mal estar ?  Não há de quê. A indústria dos antidepressivos, dos ansiolíticos, dos soníferos e calmantes tem as respostas. As ofertas de drogas estão aí  para tudo. Por isso um mercado tão lucrativo e rentável, o de drogas. E a depender das relações com nossos piores governos e ineptos gestores públicos, o cenário continuará de igual para mais ameaçador. Não é só triste  ,é preocupante. 

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