quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Baco e Boca

A FELICIDADE DA BOCA E DO BACO 
João Joaquim  
Aristóteles foi um filósofo que dedicou-se muito à compreensão da ética e do que vem a ser a felicidade. Ele fez grandes referências às relações pessoais e do home com a natureza. Ele é autor de um livro de nome emblemático sobre ética: Ética a Nicômaco, o próprio filho. Passados mais de 2 milênios, esse manual não perdeu a sua importância, e vale um pequeno esforço pela sua leitura.
Aristóteles também discorreu sobre a virtude e a felicidade. Se fizéssemos um paralelo dos tempos desse pensador com os dias de hoje fico aqui a imaginar com meus adereços e botões. O que imaginaria o insigne filósofo  grego dos tempos de hoje sobre ética, virtude e felicidade?  Motivos não lhe faltariam para elucubrações e inquietação.
Aos olhos e percepção da sociedade de hoje, pós o advento da televisão, internet e telefonia móvel, tivemos uma mudança de 180º nos valores de ética e virtude. Se tem algumas palavras para definir esse novo paradigma, sobram consumo, visibilidade, beleza corporal e glutonaria. Falemos brevemente sobre cada um desses desejos.
O consumo se tornou uma aspiração ditada e receitada pela sociedade. Na maioria das vezes a aquisição que a pessoa faz, seja de um objeto, um serviço, um direito, ela (pessoa) faz, mas persuadida, instigada pelo sistema do mercado. As lojas se tornaram locais de satisfação dos desejos.
A felicidade do “ser é ser percebido” ganhou corpo e realização com o advento da internet e suas tão intrusivas redes sociais - facebook, instragran e whatsApp. Tem sido através desses recursos de mídia e comunicação que os seus adeptos e usuários mudaram o conceito e os sentimentos de pudor, de recato, de pessoalidade, de confidências e intimidade. Ser feliz e mostrar-se para as pessoas. As melhores festas, as viagens, os sorrisos, os pratos apetitosos, as poses em sumárias roupas ou plena nudez, os resultados das cirurgias plásticas, os enxertos, os botox.  Vale  muito  mais  mostrar o que não seja do que o que de fato  é. “Ser é ser percebido”. Eis aqui o grande mote das redes sociais.
A felicidade da beleza está representada em toda forma de cirurgia reparadora e estética;  ou até com melhor definição em cirurgia plástica e estética, porque a reparadora, na essência, busca uma reparação funcional ou anatômica, como nos exemplos das deformidades congênitas.
Hoje existe uma relação fornecedor/consumidor muito presente e furte, no induzimento e aliciamento da rejeição das pessoas ao seu próprio corpo. A maioria das pessoas se vê insatisfeita com a anatomia de nascimento. Muitos não aceitam sequer a própria estatura e sexo. Há um chamamento à mudança de tudo. Muitas plásticas se transformam em verdadeiras mutilações. Trocam-se partes naturais por enxertos, silicones, material sintéticos etc.
Por fim a felicidade da glutonaria e da embriaguez. Esqueceram (os adeptos) de ligar a  gula e as orgias da boca e do baco como sendo um pecado capital. Existe, na era das redes sociais, uma retomada da época da derrocada do império Romano, a prática do prazer orgástico com a ingestão de comida e bebidas;  vivemos tempos do consumismo selvagem.
O expediente da ingestão de alimentos e bebidas (embriaguez) tem passado distante e dissonante de ter os alimentos e bebidas como fontes de nutrição, sustento e energia para o corpo e mente. O comportamento ansioso, neurótico, incontrolável das pessoas com comida, remete-nos ao que era nossos ancestrais, na idade das cavernas. Era quando o homem, justificadamente, ao encontrar algum alimento ingeria o máximo de calorias porque não se sabia se no outro dia haveria uma nova refeição.
Assim postas, as fontes da felicidade, a glutonaria, a gula, o refestelar-se de comida e bebidas tornaram-se os principais componentes do prazer e felicidade do homem da modernidade, do sujeito internetiano do século XXI. Esse novo homem buscar cumprir esses apelos, porque ele precisa pertencer ao grupo( in group), à tribo global do consumo.   Janeiro /2020

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