quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Fome ou..

MATAR A FOME E NUNCA O APETITE
João Joaquim  
“Uma das causas de qualquer grau de obesidade é o comportamento de se alimentar sem verecúndia” Hipócrates. Verecúndia significa vergonha. Pode não parecer politicamente correto tal milenar afirmação. Todavia, não me soa muito estranho quando lembro-me que quando criança, meus avós e  meus pais ensinaram-me uma minúscula ética, ou a hoje referida etiqueta à mesa. O que pensavam meus genitores, trazido de seus ancestrais? Que nunca se deve comer, alimentar eliminando por completo o apetite. Noutros termos, diziam eles:  pode-se matar a fome, mas não o apetite.
Acredito, que minha ascendência tem esses postulados e diretrizes de se comportar à mesa porque leram o  grande sábio grego de cós, Hipócrates, também tido e intitulado o pai da medicina. É dele também o axioma “primum non nocere”, dirigido a todo profissional médico. Primeiro não ser nocivo;  eis aqui o artigo mais importante do juramento de qualquer profissional de saúde, o mais simbólico , capitaneado pelo médico.
Podemos considerar a grande ética como uma ciência das relações humanas. Quem assim se indispuser que a considere como um conjunto de sugestões, de regras, diretrizes capazes de nortear e bem reger a interação, contato, convivência e relações humanas nos mais variados âmbitos e interesses, sejam eles sociais, afetivos e profissionais, gastrointestinais ou gastronômicos.
O que diferencia a ética da moral é que esta se revela como a aplicação prática dos princípios éticos. A moral é a prática da teoria ética. Assim se recomenda no expediente e gestos das pessoas no exercício de se alimentar. O princípio mais civilizado no tocante à relação do homem com o alimento é aquele da nutrição como sustento. O conceito mais ordinário e objetivo de nutrição é este: o ato de ingerir o alimento como fim fundamental e essencial de provisionar o organismo como um todo, as células, enfim,  dos nutrientes necessários à sua fisiologia (função enzimática, anatômica e reparadora). Para tanto entram aqui essas duas sensações gustativas: a fome e o apetite.
A fome é a sensação que informa de uma carência nutricional, em analogia com a sede, sensação que me indica necessidade de hidratação, água. O apetite se traduz em uma sensação gustativa prazerosa na ingestão de alimentas, sensação capaz, de gerar bem estar e gozo (prazer).
Imagine um indivíduo que ingeriu uma refeição habitual. A fome foi saciada porque houve a ingestão dos nutrientes essenciais às funções celulares, como glicose, vitaminas, minerais, água, lipídios, carboidratos e proteínas. Todavia, tendo saciado a fome, se disponível esse conviva e comensal será capaz de ingerir centenas, talvez milhares de calorias em doces e chocolates. Ou até outros alimentos salgados como uma cheirosa e apetitosa pizza ou lasanha, se esse conviva as tiver ao alcance. Trata-se de um comportamento de pura glutonaria, gula; a popular gulodice.
Tempos houve na história da humanidade, por exemplo:  época do antigo Império Romano, em que a glutonaria, as orgias alimentares, as libações alcóolicas inebriantes eram práticas comuns e consideradas como fontes de prazer e diversão. As pessoas tinham o hábito de comer desmedidamente, desbragadamente, até sentirem-se mal por se tornar empanturradas de comida. Em seguida para aliviaram-se, esses comilões provocavam vômitos e comiam de novo. Foi desses tempos e dessa cultura que surgiu o distúrbio alimentar intitulado bulimia (de boulemia, apetite de boi).
Os tempos se passaram. Vieram na esteira da idade moderna a era industrial e o capitalismo. Hoje temos um outro sistema, o consumismo. Como diretrizes das relações humanas, no gesto do consumo, criaram a etiqueta, um manual de mini-ética para a mesa. Ela funciona em parte. Por exemplo um cerimônias, num cenário de protocolos e com câmeras mostrando as pessoas, no seu vai-e-vem de comer e beber.
Basta o indivíduo se sentir mais liberto e privativo e com uns goles de cerveja que ele se comporta como um gargântua ou pantagruel( vide obras de mesmo nome de François Rabelais)Come, come, come. Bebe, bebe ,bebe, como se fosse o dia final.  Haverá um dia que o indivíduo e comilão, acerta, vai morrer de tanto comer. Janeiro/2020.   

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