terça-feira, 13 de novembro de 2012

MEDICINA DE MÁQUINAS

Na relação médico-paciente, uma consulta (anamnese) feita de forma segura, calma e confiante jamais substituirá qualquer procedimento diagnóstico. A primeira entrevista de um paciente com o médico, se mal conduzida, se for superficial e sumária pode trazer riscos de diagnósticos incorretos, exames inadequados e caros, retardo no esclarecimento da causa da doença e sérios transtornos nos contatos futuros do profissional com seu cliente. Trata-se de um algoritmo lógico e técnico que não pode ser quebrado: anamnese(ausculta)> exame físico >exames diagnósticos. Infelizmente hoje temos assistido com as gerações mais novas de médicos uma inversão desta milenar arte da consulta médica , que é primeiro saber ouvir o doente e interpretar suas palavras ( auscultar), depois interrogar e colocar os ouvidos e mãos no paciente , depois sim exames complementares, se necessários. Os avanços das ciências médicas com os métodos diagnósticos e terapêuticos de ponta (high tech) vem inebriando os profissionais de saúde. Os médicos pouco ouvem, pouco veem, pouco examinam seus doentes. Torna-se cômodo simplesmente listar exames caros e a esmo, entregar ao cliente e aguardar os resultados. Fica a parecer um jogo lotérico, quanto mais exames se faça mais chance de algum dar alterado. Se nenhum der pistas diagnósticas , tudo recomeça do zero. A tão antes valorizada relação médico/paciente tem se tornado maquinal, robótica, informática, fria e sem diálogo ; ou seja inexistente! Na década de 1950, uma boa historia clínica, um eletrocardiograma e radiografias simples eram tudo que o médico tinha na área cardiovascular. E olha que se resolvia tantos casos quanto os médicos de hoje. Com as modernas técnicas de imagens de agora pode-se mapear o corpo humano de alto a baixo. Isto é inovador e eficaz? Claro que sim, mas com critérios. Existe o alto custo e tem efeitos colaterais. Imagina a carga radioativa de raios x, tomografias em um curto período de tempo , pode ser um perigo invisível e que um dia deixará suas marcas . O paciente nesses laboratórios modernos de diagnóstico e investigação passou a ser um número, um prontuário, um caso bom ou ruim, uma boa imagem para publicação, uma ilustração de aula, palestra, etc. É a tecnologia da desumanização da Medicina, do doente fatiado em “peças”. O médico passou a tratar não um doente , mas um coração, um fígado, um pulmão, um cérebro, uma perna e assim por diante. Um dia desses eu senti esta tendência na pele. Um médico-residente de cardiologia trouxe-me para opinião um cateterismo de um paciente que ele atendeu. O exame exibia uma doença coronária, cujo sintoma é angina (dor) no peito. Perguntei ao colega residente: trata-se de angina estável ou instável? Ele não sabia, não havia perguntado ao doente como era e qual a frequência da dor. Faltou melhor auscultar os sintomas do paciente e interpretar suas queixas, as dores no peito que o motivaram a buscar ajuda. Há certos diagnósticos que se faz tão somente ouvindo as queixas do enfermo. Imagina um indivíduo com sintomas de esquizofrenia. Todos os exames bioquímicos e de imagem serão rigorosamente normais. A confirmação diagnóstica só se faz interpretando(ausculta) os sintomas do doente. A medicina vem perdendo “pari passu” este lado humanístico que a sempre a caracterizou. Trata-se de um sacerdócio , onde o médico deve estar aberto a todas as confissões e angústias do cliente. Na gênese dessa deturpação de uma relação profissional com o paciente de generosidade, de amparo, de conforto entram vários fatores. A baixa qualidade da assistência oferecida pelo SUS , políticas públicas ineficazes e de pouco resolução para doenças as mais corriqueiras que assolam nossa população , falta de hospital e unidades que atendam a todos com dignidade, etc. Do lado do profissional da saúde, podemos citar a baixa remuneração nos serviços públicos, péssimas condições materiais e estruturais oferecidas pelo governo, necessidade de múltiplos empregos para se viver dignamente. O que seria ideal para o médico? Ter apenas um vínculo de trabalho e ser pago de forma digna para isto. Seria como ocorre na área jurídica, onde há a exigência, de dedicação exclusiva. Para isto, seria oferecido, salário justo e condições de trabalho compatível com o múnus exercido : Cuidar da saúde dos outros dentro dos melhores princípios éticos e técnico-científicos. Aliás, um direito de todos, creio uma cláusula pétrea de nossa Carta Magna. Mas, enquanto o gozo desses direitos não chega de forma plena, nós profissionais da saúde, podemos fazer um pouco mais de arte do que Ciência, mais humanismo do que tecnicismo, mais ouvidos, mais olhos e mãos, do que as grafias de tantos pedidos de exames, das ultrassonografias, das radiografias, das tomografias, e assim por diante. Vamos pensar nisso que dá para fazer muito mais pelos nossos doentes, que , às vezes pedem apenas para serem mais escutados e compreendidos em suas lamúrias . E nessas horas, nós médicos e humanos, precisamos de ser também pacientes. Joao Joaquim de oliveira joaomedicina.ufg@gmail.com

HORÁRIO DE VERÃO CONTRA NATUREZA

Entre outubro e fevereiro , aqui estamos nós: trabalhadores, estudantes, pais e mães de alunos a vivermos com as agruras e os inóspitos dias do pernóstico, malsinado e mal decretado horário de verão. Muitas pessoas já afeitas com minha posição irredutível e contrário a essa nociva invenção de nossos digníssimos representantes e governantes perguntam-me, como se adaptar a tal interferência tão insalubre como esta em nosso organismo ? Basta relembrarmos o seguinte : a natureza dotou os organismos vivos, inclusive as plantas, de um ritmo ou relógio interno. Assim, os seres vivos têm um ciclo de funções que sofrem influência de elementos biológicos e ambientais os mais diversos. Na espécie humana, várias funções biológicas, como sono, temperatura corporal, síntese e liberação de hormônios, são constantes e repetitivas num período chamado circadiano (circa dien, cerca de um dia). A temperatura corporal e o cortisol, por exemplo, se elevam antes de o indivíduo acordar. Muitas enzimas digestivas são ativadas nos horários habituais das refeições ( 12 h, 18 h, etc ). A sincronização e regularidade de muitas funções dão ao ser humano uma referência de tempo e horário, mesmo sem o relógio de pulso. Isto se processa através do relógio biológico interno. Por que somos assim? São mistérios e prodígios da natureza . O que sabemos é que a interferência, a quebra destes ritmos tem profunda e negativa influência na saúde e qualidade de vida das pessoas, de qualquer ser vivente, até no reino vegetal . O funcionamento, a coordenação e interdependência destes ciclos têm participação de estímulos endógenos (do próprio organismo) e meio ambiente (luz solar, período claro/escuro, hora de adormecer e acordar). O primeiro experimento científico de grande relevância sobre estes fatores internos e externos foi empreendido pelo astrônomo francês D’Ortous de Mairan. Este cientista isolou uma planta heliotrópica, a mesma da espécie de nossa conhecida onze-horas da incidência de qualquer luz solar. Para grande surpresa do cientista, essa belíssima planta herbácea manteve a mesma periodicidade de abrir e fechar as folhas e desabrochar as flores, sempre no mesmo horário (11 horas), mostrando que, apesar de ao abrigo da luz (escuro), tinha um estímulo interno (relógio endógeno) responsável por seu comportamento que se repetia sempre no mesmo horário. Os pesquisadores Aschoff e Weber, utilizando voluntários humanos isolados em cavernas, documentaram que essas pessoas resistiam por vários dias e mantinham quase inalterados os ritmos de secreção hormonal e outros parâmetros fisiológicos. Todavia, concluíram que a privação prolongada da luz natural, a inversão do ciclo dia/noite, como no horário de verão, gerava marcantes mudanças fisiológicas com um amplo espectro de efeitos, de elevada morbidade, interferência na saúde, quebra da homeostase (equilíbrio e interação orgânica interna), ou seja, com muitos reflexos negativos na qualidade de vida. Todos sabemos que muitos fenômenos naturais, como tempestades, enchentes, secas prolongadas, tufões, terremotos, trazem enormes impactos ecológicos, riscos à segurança e bem-estar das pessoas. São acidentes meteorológicos naturais inevitáveis, contra os quais nada se pode fazer. Inaceitável e condenável por qualquer pessoa de bem, lúcida e de bom senso é assistir repetidamente a ações e teimosias que voluntaria e deliberadamente são produzidas e perpetradas por muitos administradores públicos e governantes, que inúmeros constrangimentos, danos e malefícios trazem à população através de uma medida provisória, decreto-lei etc. Um exemplo dessas ações e medidas (des)governamentais é o malquisto e nocivo horário de verão, que, conforme estudos científicos e estatísticos, traz grande impacto à paz, à segurança e à saúde das pessoas. Tudo sob a justificativa de questionáveis e ínfimos índices entre zero e 4% de economia de energia elétrica. Mesmo sob reiterados protestos das pessoas, participação ativa de muitos políticos, o governo atual teima na manutenção de tão insalubre medida no estado de Goiás que já se sabe não se beneficia com tal mudança. Mesmo se tal economia fosse concreta, justificaria tanta sacrifício de estudantes e trabalhadores que têm de madrugar , ter noites maldormidas e se expor a riscos de assaltos em pleno escuro, entre 5 e 7 horas da manhã ? Na verdade, o governo precisaria era de mais investimentos em usinas hidroelétricas e mesmo fontes alternativas de energia. Isto, sim, mereceria admiração e apoio de todos nós. O horário de verão nada mais é do que um daqueles arbítrios próprios de governos populistas como este que vimos aturando , sob os auspícios dos ideários do lulopetismo. Até quando ? A paciência do povo tem limites. Por ora os nossos protestos e um basta para medidas muito antipáticas como esta de termos sono perturbado e levantar uma hora mais cedo com tantos reflexos danosos em nosso organismo. João Joaquim de Oliveira médico joaomedicina.ufg@gmail.com

NEUROSES E DEVASSIDÃO

NEUROSES E DEVASSIDÃO NO MUNDO DOS HUMANOS Nós vivemos tempos e costumes que para quem lê a Bíblia deve lembrar a lenda de Sodoma e Gomorra. Estas, eram cidades localizadas em Cananeia – próximas do Mar Morto . Conta esta lenda dos tempos do patriarca Abraão ( Genesis 19) que os pecados , a baixaria e a devassidão ali eram tamanhas que a solução foi a completa destruição através do fogo e enxofre , como castigo de Deus para purificar aquela região . Hoje assistimos fatos, comportamentos, atitudes e tendências que acredito só mesmo as chamas sagradas dos céus poderiam queimar e purificar, neste mundo de tantas coisas para lá de loucas . Há a questão do estado de espírito e emocional das pessoas, e o desejo de consumo e escolha das pessoas em suas vidas, seja na cultura , em diversão ou vida social. Há um desvario total em todas as esferas da vida e da sociedade. Senão, vamos listar e pincelar algumas das cenas diárias desse mundo insano. Comecemos pelo despertar de cada um. Quantos de nós já não acordamos de mau humor, com alguma enxaqueca, mal-estar e angústia pelo começo do dia! Mesmo fora do horário de verão, porque este já é um presente de grego de nossos palacianos e eminentes (ou iminentes) governantes. Imposição como esta( acordar mais cedo) deve ser mais uma via do purgatório dos brasileiros. O ritual de levantar, com ou sem despertador, não importa, já pode indicar quão estressante será o dia das pessoas . Há cidadão que sai de casa como se tivesse comido jiló cru ou jurubeba com suco de bílis negra. Este humor amargo dá para perceber quando cruzamos com os vizinhos no elevador ou garagem dos condomínios. Aliás, condomínio me traz à lembrança o conceito de vizinho. Sentido hoje completamente deturpado. Existe gente mais distante de nós do que nossos vizinhos? Deveriam ser as pessoas mais próximas e afetivas do que nossos parentes! Fica a pergunta: quantos vizinhos nós os conhecemos de verdade? Nome, o que faz, o que podemos fazer-lhes de útil e solidário? Há pessoas que giram anos, décadas sem ter feito uma visita ou conhecer melhor o condômino do lado . Culpa de quem? Das loucuras e velocidade de nosso tempo. Pode piorar ou melhorar ? Pode ambos. Depende de nós. O progresso e todas as tecnologias têm nos escravizado. Dentre os recursos, os objetos dos avanços tecnocientíficos temos os equipamentos de mídia. O aparelho de mídia que mais tem alienado e neurotizado o ser humano chama-se telefone celular. Os efeitos negativos e anti-sociais do celular se tornaram tão massivos e impactantes que chegamos ao princípio do “ eu não falo mais com você, eu estou conectado”. Aliás, celular em mãos de muitos adolescentes e jovens é usado não como telefone, mas como mídia de acesso á internet. Todos necessitam estar conectados. Esta tendência pode piorar? Depende de como estamos educando os filhos. E por falar em mídia, e as nossas músicas? Ainda me lembro, era criança; as músicas encerravam belas melodias e poesia. Caso de um Nelson Gonçalves, Clara Nunes, Dolores Duran. As músicas mais badaladas de hoje ( nada contra Michel Teló, Sorriso Maroto , mr Catra , etc) nos dão a sensação de que estamos em um cabaré ou casa de prostituição. Os refrões são incentivos e apelos flagrantes ao sexismo, à pornografia e ao erotismo de baixo calão. Um escárnio à moral e aos bons costumes. Artistas e emissoras têm culpa? Penso que não! Elas vendem e lucram porque há um filão consumidor sedento no mercado. E as mídias televisivas? As mídias que todos os brasileiros vêem . O cidadão pode mal assinar o nome, mas um aparelho de TV ele tem. Num Brasil com milhões de analfabetos absolutos e funcionais o que vemos pelas redes de televisão ( canal aberto ou fechado)? Várias emissoras se digladiam na apresentação do que tem de mais fútil e pobre quando se trata de comportamento e feitos humanos. Existe uma contra-cultura na televisão . Não se trata apenas de cenários do cotidiano do combate de policiais x criminosos. Aqui temos a exibição de tudo ,em sangue e cores, ao vivo, a qualquer hora. Esses reality shows são liberados para todas as idades, choquem ou não crianças, adolescentes ou pessoas dotadas de sentimentos de bom gosto cultural , fraternidade e altruísmo. Para a TV , aqui vale o princípio: os fins ( lucros) justificam todos as exibições possíveis. Um exemplo dessas baixarias e programações anti-sociais temos no horário nobre de ir para a cama, pela Rede Globo. Neste programa intitulado amoral e sem nexo, ou melhor amor e sexo, temos muito bem exibida a mais explícita e requintada teatralização de erotismo, sexismo (não sexualidade) e pornografia grã fina que a TV pode trazer aos lares brasileiros. Tudo encenado por belos homens e lindas mulheres ( globais em geral). As regras para participar desse teatro erótico-pornográfico são : não se vexar, não se envergonhar do linguajar chulo ou gestos os mais íntimos e baixos instintos de que o ser humano é capaz dentro de quatro ou nenhuma parede. Ressalve-se que tais programas não são exclusivos da TV globo. Basta zapear por outros canais e escolher o que há de pior para consumo. É claro que por falta de espaço e mesmo pudor deixo de citar algumas das coisas que são oferecidas pelo mercado virtual, e mesmo a céu aberto , para as pessoas consumidoras de tanta patifaria de nossos tempos. Existem muito mais coisas loucas e degradantes do que estas aqui comentadas? Penso que os pecadores de Sodoma e Gomorra iriam ficar morrendo de inveja, se assistissem às muitas cenas e fatos da sociedade de nossos tempos. João Joaquim de Oliveira cronista DM e médico joaomedicina.ufg@gmail.com

sábado, 8 de setembro de 2012

SEDENTARISMO ADOECE, ENVELHECE E MATA

Uma recente pesquisa publicada pela prestigiada revista The Lancet (Reino Unido) trouxe mais luzes e advertências sobre os riscos do sedentarismo para a saúde humana. Em termos sucintos e práticos os médicos pesquisadores comparam os malefícios da inatividade física ao do tabagismo. Não é novidade para a Medicina que o estilo sedentário de se viver traz muitos danos ao organismo humano. A própria OMS em 1993 editou as diretrizes que alertavam a comunidade médica e outras organizações de saúde sobre os benefícios e impactos positivos da prática regular de atividade física. Hoje considerado uma pandemia, o sedentarismo é responsável por mais de 5 milhões de mortes por ano no mundo. Não é custoso entender as razões, uma vez que em seu caudal existe outras alterações fisiopatológicas e orgânicas com altas taxas de morbidade e mortalidade. Na esteira desse espectro temos duas vezes mais doença coronária com os desfechos de infarto e morte súbita. Há uma prevalência maior também de hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade, taxas mais altas de colesterol e triglicérides, várias doenças crônico-degenerativas e até mesmo incidência maior de vários tipos de câncer de mama e intestino. Torna-se fácil constatar que as pessoas fisicamente inativas em geral agregam outros fatores insalubres(de risco). Quanto mais fatores de risco mais interação entre eles, pior a qualidade de vida, mais chances de doença, de invalidez e morte prematura. A cada dia a Medicina vem recomendando o chamado estilo de vida saudável. Este ritmo ou comportamento de viver com mais saúde significa dieta saudável com menos de 2000 Kcal/dia para um adulto não atleta, abstenção de vícios (fumo, álcool, drogas), sono de boa qualidade, lazer e atividade física de no mínimo 30 minutos 4 vezes/semana. A chamada Medicina baseada em evidencias há mais de duas décadas vem constatando os inúmeros benefícios preventivos e terapêuticos da atividade física regular. Seguramente há melhora significativa da qualidade e expectativa de vida. Em termos práticos não há limite de idade para se exercitar. Os exercícios aeróbicos estão indicados, e de preferência, para qualquer pessoa. Crianças e adolescentes abaixo de 16 anos não devem fazer musculação (exercícios estáticos resistidos ). Antes de qualquer atividade deve-se fazer 5-10 minutos de alongamento para promover a flexibilização músculo-tendínea . Toda pessoa sedentária e saudável com menos de 35 anos, antes de iniciar qualquer atividade física deve submeter-se a uma consulta com um clínico geral ou cardiologista e realizar pelo menos dosagem dos lipídios, glicose, hemograma e eletrocardiograma. Acima de 35 anos é recomendado um teste ergométrico com cardiologista. Pessoas portadoras de alguma doença crônica, por exemplo: asma, bronquite, diabetes, doença cardiovascular; devem além de orientação do médico assistente, ter uma avaliação cardiológica. Deverá haver a prescrição do exercício conforme as limitações e aptidão de cada pessoa. Como se pode concluir a atividade física é, além de preventiva, medida terapêutica complementar e de reabilitação em muitas enfermidades, inclusive no infarto ou acidente vascular cerebral(AVC). O imobilismo, a apatia física ou mental, fatalmente conduz a pessoa á baixa autoestima, á depressão, ás doenças e morte prematura. Nosso próprio coração é um exemplo e convite ao movimento. Vamos seguir o exemplo e símbolo deste órgão máximo do amor, da saúde e da vida.

PREVENÇÃO DO INFARTO DO MIOCÁRDIO

O infarto agudo do miocárdio (IAM) é a principal causa de morte em todo o mundo. Cerca de 25% dos pacientes morrem na primeira hora do início dos sintomas, muitos desses antes de chegar ao hospital. A maioria das mortes súbitas se deve a uma falência ( extensa necrose) do miocárdio e/ ou arritmia. O que é e como se dá o infarto? É do senso comum se ouvir : fulano(a) não sentia nada, era saudável e morreu de infarto! Na verdade é assim mesmo que ocorre. Na gênese do infarto existe a doença da artéria coronária (DAC), formada por depósito de colesterol e triglicérides no interior dos vasos(artérias). Estas placas de colesterol se formam ao longo da vida. Se estas placas de gorduras obstruem mais de 70% das artérias coronárias, elas se tornam de risco porque podem se romper, interromper o fluxo sanguíneo e por consequência provocar o infarto daquele tecido ( músculo) antes irrigado pela artéria agora obstruída. Quais são os fatores de risco para o infarto ? Os fatores mais importantes são taxas altas de colesterol e triglicérides (dislipidemia), hipertensão arterial, o tabagismo, o diabetes, a obesidade, sedentarismo, o estresse emocional e a história familiar de infarto ou derrame em parentes de 1º grau. A principal causa de derrame cerebral são as placas de colesterol nas artérias encefálicas. Os fatores de risco são os mesmos do infarto do miocárdio. Quais são as pessoas de risco para IAM? A história familiar de infarto ou derrame cerebral mais o estilo de vida pessoal vão indicar se o indivíduo tem mais ou menos chance de sofrer da DAC. Em outros termos, quanto mais fatores de risco maior o perigo da primeira manifestação fatal, o infarto do miocárdio. Em termos práticos: todas as pessoas, inclusive crianças, devem fazer dosagem de glicose, triglicérides e lipídios sanguíneos. Todos acima de 35 anos devem fazer no mínimo a cada 2 anos um eletrocardiograma e um teste ergométrico cardiológico. A melhor estratégia contra a doença arterial obstrutiva ( infarto ou derrame cerebral) está na sua prevenção precoce. Esta começa por uma dieta saudável rica em fibras alimentares, com baixo teor de gorduras e carboidratos. Atividade física aeróbica pelo menos 4x/ semana. Dieta e exercícios regulares são as atitudes mais eficazes contra a doença arterial coronária. Vale ressaltar que antes de iniciar qualquer atividade física deve-se fazer uma consulta com cardiologista, inclusive crianças e adolescentes. Um indivíduo jovem e saudável, ainda que não sinta nada não está imune a sofrer um infarto. Hipertensão arterial e dislipidemia são fatores de risco de grande importância e silenciosos , e estão cada vez mais presentes nas pessoas sadias, mesmo jovens , em função dos outros fatores como sedentarismo, obesidade, glicose sanguínea elevada, dieta hipercalórica, tabagismo, ingestão abusiva de bebidas alcoólicas, etc. O principal sintoma do infarto é dor torácica esquerda de forte intensidade e contínua. Para quem não é médico os primeiros socorros devem constar de colocar a vítima em repouso absoluto sentado ou deitado; analgésico de preferência injetável(efeito rápido), um comprimido de aspirina(AAS) 100 ou 200 mg dissolvido via oral, um isordil 5 ou 10 mg sublingual e conduzir o paciente com urgência para um hospital que tenha unidade cardiológica. É importante enfatizar que quanto mais rápido o paciente chegar ao hospital, mais chance ele terá de sucesso no tratamento, menos complicações , menos sequelas e menor risco de morte.

CRIANÇA TEM HIPERTENSÃO ARTERIAL

Em cerca de 80% das pessoas com hipertensão arterial(HA) não se sabe a causa da doença . A teoria de um fator genético é amplamente aceita. A maioria das pessoas com HA tem o início da doença na infância, daí a importância de se aferir a pressão das crianças em consultas médicas. Atenção médicos pediatras! Existe interação do fator genético e história familiar com outras condições como obesidade, alimentação hipercalórica rica em sódio, carboidratos e gorduras, sedentarismo , stress , etc. A presença destes fatores de risco e outras condições mórbidas em qualquer idade é mais impositiva para mensuração cuidadosa e seriada da pressão em crianças de qualquer idade. Sabe-se que quanto mais precoce o diagnóstico, mais chance de prevenção, tratamento mais eficaz e menos lesões nos órgãos vitais como coração, rins e retina. Vale registrar que a medida da pressão da criança exige aparelho próprio para a idade. Os aparelhos mais confiáveis sãos os de coluna de mercúrio . Os mais usados e também muito precisos são os do tipo aneróide. Os equipamentos portáteis e automáticos , são muito falhos e passiveis de falsas medidas, em geral com medidas acima da pressão real do individuo, seja para adulto ou criança. O ideal é que esta aferição seja feita por médico(a) ou enfermeira(o). Existe tabela de normalidade( tabulada em percentis) conforme a idade da criança e do adolescente. Atualmente os profissionais médicos estão mais conscientes e zelosos quando em consultas rotineiras de crianças e adolescentes. Tal prática deve ser observada sobretudo por pediatras em fazer a medida da pressão arterial( PA) de seus pequenos pacientes , onde a relação médico/paciente é sempre mais próxima e de mais confiança. O rigor na aferição destas medidas deve ser dar sobretudo quando a criança além de fatores de risco já mencionados, tiver parentes hipertensos ou condições mórbidas para doenças cardiovasculares em geral. Vale reiterar que em 80% dos hipertensos não se consegue chegar a uma causa orgânica para a doença. Todavia, em crianças, o diagnóstico de HA deve induzir o médico a buscar uma causa secundária. Como exemplos de doenças que podem cursar com PA elevada temos tumores renal , cerebral e de supra-renal, nefropatias, baixo crescimento ou nanismo ( tumor de hipófise), insuficiência cardíaca inexplicada, convulsões, uso de drogas hipertensoras (antinflamatórios, corticóides, antiasmáticos ), drogas ilícitas, etc. Na avaliação de uma criança com HA deve-se incluir necessariamente o perfil lipídio sanguíneo, exames de urina, de função renal e tireoidianos, glicemia de jejum e ultrassom renal. As principais causas orgânicas de HA no adulto e crianças são doenças renovasculares ( mal formação de vasos renais venosos ou arteriais). O tratamento da HA na infância deve iniciar com as chamadas medidas higienodietéticas, onde se destaca o combate a todos os chamados fatores de risco como sedentarismo, obesidade, dieta hipercalórica etc. Deve-se realçar que tais medidas, às vezes, são necessárias também para os pais e cuidadores da criança. Como se pode prescrever uma dieta saudável para o filho, se os pais não adotam este cardápio alimentar? É quase impossível a adesão da criança a esta prescrição, se a família não tem a mesma atitude. Ou seja aqui vale o velho jargão de que para o filho vale o exemplo. Os filhos são os grandes imitadores e seguidores dos pais, babás e tutores. Quando necessário o uso de medicamentos, salvo um e outro caso de contra-indicação, todos os anti-hipertensivos de última geração podem ser administrados na infância com segurança. Qualquer que seja a natureza da HA deixamos como recomendação que é fundamental promover a educação da criança no sentido de ter uma dieta equilibrada e saudável e praticar alguma atividade conforme a aptidão , vocação e limites da idade. O chamado estilo de vida saudável tornar-se-á um hábito na vida adulta se ele é incorporado desde os primeiros anos de vida. A glutonaria, as orgias alimentares, a ingestão de alimentos como forma de prazer pode se tornar um vício como o de qualquer outra droga ou álcool. Na verdade segundo o dito popular devemos comer para viver e não viver para comer. Isto pode começar bem e melhor quando ensinamos corretamente os nossos filhos desde pequenos. J o ã o J o a q u i m de Oliveira – médico – joaomedicina.ufg@gmail.com

PREVENÇãO DE DOENÇAS CARDÍACAS NA INFÂNCIA

A doença das artérias coronárias (DAC) causada por depósitos de colesterol ( arteriosclerose) é a principal causa de mortes no mundo. Só nos USA são mais de 500.000 óbitos/ ano. O início da DAC se dá infância; quanto mais fatores de risco, mais é acelerada a formação das placas de gordura no interior das artérias. Neste artigo concentraremos sobre os 05 grandes fatores de risco, presentes cada vez mais nas crianças e adolescentes, nestes tempos virtuais, quando há um apelo de marketing exagerado ao consumo de alimentos hipercalóricos ricos em carboidratos e gorduras. Tabagismo- o impacto da nicotina é tão grande na saúde humana que se não houvesse fumantes teríamos 20% menos descolamento prematuro de placenta, complicação esta responsável por muitas mortes fetais e maternas; 20% menos recém-nascidos de baixo peso; 30% menos DAC ; 40% menos mortes de crianças entre 1-5 anos; 50% menos câncer de bexiga e sistema urinário e 90% menos tumor maligno de pulmão. As crianças e adolescentes se tornam vitimas do cigarro( tabagistas passivos ou indiretos) quando um ou ambos os pais são fumantes. Dentre os danos para as crianças temos bronquites, infecções do aparelho respiratório, alergias, baixa imunidade, déficit intelectual etc. Sedentarismo- a inatividade física implica em sobrepeso, pressão arterial mais alta, baixa autoestima, dislipidemias e depressão. Todas as pesquisas científicas pertinentes são uníssonas de que a atividade física propicia melhor qualidade e quantidade de vida. Por isso sua prática deve ser ensinada desde a infância. Obesidade- as sociedades médicas (endocrinologia, cardiologia ,pediatria ) têm se preocupado e feito campanhas contra o excesso de peso. Crianças e adultos obesos quase invariavelmente apresentam outros fatores de risco como colesterol alto, hipertensão arterial, diabetes tipo II e mais DAC. Vale frisar que crianças e adolescentes obesos quase sempre serão adultos obesos de difícil tratamento. Eles desenvolvem a chamada obesidade hiperplásica , Isto é , com aumento do número das células adiposas em todo o organismo. Hipertensão arterial (HA)-pressão alta significa mais placas de colesterol, mais DAC, mais derrame cerebral, mais insuficiência cardíaca, mais insuficiência renal e morte prematura. A HA é doença silenciosa, por isso deve ser medida a partir dos 3 anos de idade. A criança ou adolescente com HA deve ser encorajada a ter uma atividade física qualquer, ingerir alimentos mais leves com menos colesterol, menos gorduras e carboidratos, e manter o peso normal . Na criança e adolescente com HA , em face dos efeitos colaterais, deve-se evitar quando possível o uso de drogas hipotensoras . Colesterol- trata-se de um grande fator de risco silencioso. Só se sabe deste íntimo inimigo fazendo sua dosagem sanguínea. O colesterol total no adulto não deve ultrapassar 200mg/dL. Em criança abaixo de 12 anos, os limites máximos são 150 mg. É importante reprisar que a formação das placas de colesterol (arteriosclerose), começa na infância e antecede em muitos anos aos primeiros sintomas das doenças cardiovasculares ( angina, infarto, derrame). Por isso a recomendação preventiva deve se dar precocemente( na infância). Os triglicérides na criança deve situar abaixo de 100mg / dL . Além desses 5 grandes fatores de risco temos outros como o diabetes e a história familiar (herança genética ). Na prática, a influência genética deve ser considerada na presença de doença cardiovascular manifesta ou morte súbita em parentes de primeiro grau abaixo de 55 anos. O diabetes mellitus é outro grande fator de risco, de alta prevalência na população geral. Toda taxa de glicose acima de 110mg/dL, mesmo silenciosa encerra em fator de grande morbidade para órgãos vitais como coração, cérebro, retina e rins. Vale ressaltar no fecho destas orientações que é comum a criança, adolescente ou adulto ter mais de um fator de risco para DAC, ou doença cardiovascular latu sensu. A interação entre estes fatores se torna muito mais nociva e com grande chance de desenvolver doenças de altas taxas de morbimortalidade. Em face destas noções e conhecimentos, os trabalhos medico-científicos e as especialidades médicas como pediatria, endocrinologia e cardiologia alertam os pais e as pessoas em geral para a importância da prevenção e cuidados higienodietéticos. Por isso , mais uma vez se exalta o valor de adoção de um estilo de vida saudável. Estas medidas se adotadas na educação da criança podem além de mais sucesso torná-la um adulto muito mais consciente, disciplinado, e perenemente sadio e feliz. João Joaquim de Oliveira cardiologista joaomedicina.ufg@gmail.com

Necedade especial

  Sejam resultados e produtos de genomas ancestrais ou educacionais, não é incomum deparar-se com um grupo de pessoas (homens e mulheres), m...