terça-feira, 31 de março de 2015

CULTURA

  Assim Me Ensinou O Bariani Ortêncio
 Joao Joaquim


O pouco que sei de português eu aprendi nas escolas por onde passei e por ter o hábito da leitura. Eu sempre tive dificuldades por exemplo com gramática. Desta, a sintaxe sempre foi o meu tendão de Aquiles. E de fato eu penso ser um nó cego difícil de desatar para todos. Afinal essa parte encerra a estética, a beleza estrutural de qualquer texto.
Existem outros tópicos de grande relevância na arte de bem falar e escrever. A linguagem oral por exemplo tem a questão da acentuação das sílabas. Imagine ouvir rúbrica em vez de rubrica, dói os tímpanos .  Esta matéria na gramática tem até um nome curioso ortoépia, que alguns dicionários registram com sílaba tônica no PI (ortoepia), também chamada de prosódia. A ortografia embora traga dificuldades para muitos tem o recurso do computador. Os editores de textos já fazem a autocorreção e tudo finaliza sem riscos de erro. Agora se tem outro capítulo que sempre me representou em argueiro nos olhos é a tal regência verbonominal. Eu, na dúvida faço como o dilema da ortografia, desassossego é com 4 ou 5 s ? Eu troco a palavra por impaciência, porque aí eu tenho certeza de não errar. Mesma história da secretária que perguntou ao chefe: sessenta é com dois s? O chefe pensa, pensa e tascou essa : troque por trina mais trinta. Um outro recurso que adoto também é ler com bons dicionários do lado. Eu trago sempre uns três em minha mesa. Um de sinonímia, um analógico e outro de regência verbo-nominal. Trata-se do popular pai dos burros (que injustiça com este muar) ou de quem se candidata a deixar de sê-lo(burro). A busca na internet também é uma opção, mas tem que ter cautela com a credibilidade (ou não) da fonte pesquisada. Existe muita abobrinha na grande rede. Eu tenho para mim que o melhor recurso para  se aprofundar e entender bem o Português é na busca da leitura de grandes clássicos de nossa literatura, de escritores dos vários períodos e escolas literárias. Aí podemos buscar desde representantes do barroco até o modernismo de hoje.
A propósito de buscar a influência de luminares na arte de bem expressar e escrever conta-se que certa vez um  repórter entrevistou o nosso pequeno gigante Ruy Barbosa. Inquiriu-lhe então o entrevistador, Dr. Ruy como e onde o Sr. se inspira para tão bem expressar o nosso idioma? Ao que retrucou o grande Ruy, lendo o Padre  Antônio Vieira. Não contente, continuou o repórter, mas Dr. Ruy, quando o Sr. vai para o púlpito, o parlatório, todas as galerias, a plateia se emudece com o clangor  de seus discursos! O Sr. busca alguma inspiração em alguém? E então retorquiu o nosso Águia de Haia ( cognome de Ruy Barbosa), eu me apoio relendo e trelendo o padre Vieira. Como se sabe, Antônio Vieira foi um gênio em várias línguas, dentre elas latim e suas derivadas como o português. Ele foi também o nosso Cícero brasileiro na arte da oratória. Em seus sermões, muito do que ele pregava sobre os governantes, os arranjos e camarilhas de pessoas desonestas e sem escrúpulos com as coisas públicas se aplica perfeitamente aos nossos políticos corruptos de hoje. Como se vê, corrupção ou  malandragem ,  é um mal que está na índole humana que perpassa os séculos.
Com a modernidade da internet tem havido um distanciamento das pessoas no hábito da leitura. Cada vez mais as plataformas digitais, com os textos virtuais (e-books), têm substituído o livro físico, imprenso em vários formatos. Desde o seu surgimento eu nunca esconjurei a utilidade e valor da virtualidade. Para quem sabe bem empregá-la a internet tem mil e uma utilidades. Mas, ela traz também milhares de futilidades. É um mundo sem leis e sem regras. Os pais e escolas de hoje querem educar as crianças e adolescentes apenas com os recursos digitais .  O que  é de uma sandice e asneira sem tamanhos. Gosto do conselho de Bill Gates ( dono da Microsoft) aos filhos, primeiro dou-vos livros , depois computador.
Para mim um bom aprendizado não se faz sem o lápis, a caneta, o caderno  de escrita e livros tradicionais. Iniciada a educação com estes instrumentos e recursos, depois, sim, apresentamos  ao educando, ao aluno, os recursos complementares da informática . O contrário, seria um retrocesso, uma inversão na lógica da verdadeira pedagogia. Em suma e já afunilando o tema de dominar o mínimo, o básico ou o  bastante da língua portuguesa vai depender do uso e exercício que faço com o nosso idioma. E isto se processa num moto-contínuo desde a infância. A família, os pais têm um papel decisivo e eterno na cultura dos filhos. Um dos segredos  na educação dos filhos está no exemplo, no modelo dos pais. Pais bons leitores farão filhos de mesmo comportamento. A esse propósito conto até um diálogo que tive certa vez com um amigo meu de vastíssima cultura. Ele tem nome simples ,Waldomiro. Trata-se de pessoa batalhadora que se apartou nestas terras dos Goyazes e por aqui se aboletou e não saiu mais. Aliás, eu também vim parar aqui desde minha graduação em Medicina. Sou de Ipatinga MG, cidade situada no Vale do Aço, próxima de Itabira do Drummond .
Inquiri então desse bom forasteiro  :  - amigo, como você conseguiu tanto saber, tanta cultura, tanta versatilidade em Ciências e artes tão diversas? Ao que respondeu-me sem vacilo e sem  titubeio - Lendo! Desde criança eu tinha o gosto da leitura. E completou  : - Por iniciativa própria e incentivo de minha mãe e meu pai eu  lia tudo. Pronto! Este é um segredo para se tornar suficiente e proficiente no próprio idioma e depois em outras artes e Ciências.
Falei do exemplo desse amigo Waldomiro. Trata-se de ninguém menos que o nosso ilustre e multicultural Bariani Ortêncio. Waldomiro é apenas seu 1º nome. Paulista de Igarapava que veio para Goiânia na década de 1930 e aqui se tornou um empresário bem sucedido. Hoje o seu maior empreendimento é sua vastidão cultural, com mais de 40 livros escritos, incluindo literatura, folclore, música e arte culinária. Por tantos feitos (e bem-feitos) em vastas áreas da literatura( crônicas, romances, História) e artes mencionadas , nosso querido , magnânimo , sábio e grande romancista Bariani Ortêncio, mais do que merece uma cadeira na casa de Machado de Assis, nossa gloriosa Academia Brasileira de Letras. Está passando da hora de ele vestir o fardão dos imortais, porque por mérito,  ele já se eternizou na memória e coração  dos que lêem e conhecem suas atividades como intelectual e escritor prolífico que é. Eu já o coloco no Panteão dos grandes escritores de Goiás, do Brasil e do mundo. Afinal até o papa Francisco já conhece as suas obras. É pouco coisa ou querem mais? 


João Joaquim 
médico e articulista do DM joaomedicina.ufg@gmail.com



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