segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NO(CI)VIDADES DO HORÁRIO DE VERÃO

NO(CI)VIDADADES DO HORÁRIO DE VERÃO
Joao joaquim de oliveira- médico UFG



Quase todos os organismos vivos, inclusive as plantas têm em sua intimidade algum tipo de relógio biológico ou biorritmo. A interferência do homem neste ritmo intrínseco dos seres vivos traz-lhes alterações nocivas marcantes. A maioria de nossas funções biológicas sejam fisiológicas ou quando doentes ocorrem em escalas rítmicas influenciadas pelo relógio biológico. O período de ocorrência mais comum e melhor estudado tem sido o de 24 h e por isso chamado ritmo circadiano (circan dien= cerca de um dia). O ramo da biologia e das ciências médicas que estuda os ritmos circadianos se chama cronobiologia. O surgimento de muitas doenças se dá em conseqüência dos denominados fatores de risco e agentes estressores agudos também classificados como gatilhos. Assim temos por exemplo o stress agudo, o ódio como gatilhos para enfarte e derrame cerebral, a infecção respiratória como gatilho para crise asmatica, as transgressões dietéticas como gatilhos para as complicações diabéticas etc. Diversas pesquisas e trabalhos científicos, notadamente, aqueles liderados pelos médicos dr Prakash Deedwania da Universidade da Califórnia- São Francisco – USA e Geoffrey H. Tofler da Escola Médica de Harvard-Boston-Massachusetts- USA, vêm demonstrando um horário preferencial para a ocorrência de muitas doenças e os fatores causais desta maior incidência em determinado horário. Por exemplo , a maior freqüência dos enfartes, derrames, arritmias cardíacas, crises hipertensivas e outros eventos vasculares pela pela manhã se justifica porque neste período existe uma maior atividade do sistema nervoso simpático, maior reatividade vascular , maior atividade plaquetária e taxa sanguínea máxima do hormônio cortisol entre outros.
Toda interferência no ciclo sono/virgilia normal, no nosso biorritmo (relógio biológico) como o espectro de modificações decorrentes do horário de verão, trará efeitos nocivos marcantes nos picos de incidência de muitas doenças, sobretudo as cardiovasculares.
O horário de verão, conforme já ampla comprovação cientifica, representa um grande fator de risco, gerando os agentes estressores(gatilhos) de muitas doenças incapacitantes e mortais como enfartes, derrames, ataques cardíacos e morte súbita . Ao se antecipar o despertar em uma hora, estamos não só afetando gravemente nosso biorritmo , mas também criando diversos fatores promotores para muitas das condições mórbidas mencionadas.

Ninguém está imune, a salvo, dos malefícios que representa a pseudoadaptação ao horário de verão. Na verdade além da perda de uma hora de sono, este se torna de má qualidade pela chamada síndrome da inquietação noturna caracterizada por ansiedade, apreensão em perder a hora de acordar, insônia, despertares intermitentes e conseqüentemente um dia seguinte com fadiga, desatenção, sonolência diurna(pela noite “maldormida”), reflexos diminuídos, baixa produtividade e mais riscos de acidentes no trânsito e nas atividades envolvendo máquinas e outros instrumentos eletro-mecânicos.

Muitos estudos de seguimento e comparativos demonstram que o horário de verão representa uma verdadeira nocividade , uma futilidade em termos de economia que traz (se é que traz) cotejados com os graves melefícios que causa ao bem-estar, à segurança e saúde das pessoas.
Imaginemos por analogia se interferíssemos em muitos fenômenos naturais como a lei da gravidade, na piracema ou no comportamento de hibernação de algumas espécies de animais. Certamente em poucos anos extinguiríamos centenas de espécies de peixes e dizimaríamos este belo e admirável animal que é o urso polar.
O Brasil é o único pais equatorial do mundo que, graças a uma visão míope de muitos governantes, teima em molestar as pessoas com o horário de verão. Nas regiões equatoriais (cortadas pela linha do equador) e nos tropicais (situadas entre os trópicos de câncer e capricórnio), a incidência da luz solar sofre pouca variação durante todo ano. Por conseguinte ,não existe nenhuma vantagem (economia) na adoção do horário de verão.
Encastelados em Brasília, muitos políticos, ministros, tecnocratas do governo federal e outros altos funcionários do Ministério das Minas e Energia não precisam de madrugar. No trabalho, eles dispõem de salas e repartições confortáveis e esplêndidas. Se tivessem estes burocratas e administradores da república (coisa pública) que levantar cedo e acender todas as lâmpadas de seus domicílios (com mais gasto de energia); se tivessem que sair de casa de madrugada, às vezes sob chuva e com a escuridão; se tivessem que usar transporte coletivo; se tivessem que acompanhar seus filhos sonolentos às escolas; se tivessem que expor diariamente aos riscos da violência urbana; se tivessem que sofrer “na carne” tantos outros danos psicobiológicos, esses privilegiados servidores da nação não hesitariam em defender a sociedade, as crianças e os estudantes, os trabalhadores em geral que verdadeiramente constroem este país. Certamente, “nossas excelências, nobres representantes do povo” colocariam um basta nesta nefasta imposição, nesta bizarrice que é o horário de verão .


João joaquim de oliveira - médico cardiologista ufg. www.jjoaquim.blogspot.com joão@medicina.ufg.br

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