domingo, 31 de janeiro de 2016

CORCUNDAS....

OS CORCUNDAS DE NOTRE.... 

JOÃO JOAQUIM


Na conversa que tive com aquele renomado médico o assunto não saiu dos distúrbios de alinhamento da coluna vertebral, mais seletivamente a parte cervical ou pescoço das pessoas mais jovens.
Aliás, eu queria entender melhor, mas minha coluna no jornal é restrita, o porquê de tantos significados para uma palavra de muita  graça, de muita  afetação. Isto é que se pode chamar de termo presunçoso .  Até os derivados são de muita  galhardia , colunata, colunelo, colunista. Trata-se na verdade do princípio da polissemia, um termo com um sem-número de signos e significados . Tem-se por exemplo o pilar do prédio, uma pilha , ruma ou coluna de objetos, uma coluna liquida do recipiente e assim por diante.
O sujeito tem lá um espaço no jornal, referimo-nos a ele como coluna do fulano de tal. Vai-se fazer uma fezinha na esportiva tem lá a coluna direita, do meio e da esquerda. Tem-se uma construção imobiliária pomposa, entre um e outros arranjos tem-se lá as colunas para adornar  e sustentar aquele imóvel(pilar).
A coluna mais histórica e ruidosa do Brasil foi a coluna Prestes. Ela foi capitaneada pelo maior de nossos comunas, o Sr Luiz Carlos Prestes. Sua coluna foi praticamente imobilizada e fraturada na ditadura Vargas ( 1930-1945) e na última tirania militar  de 1964-1985. Nesses tempos não havia coluna que aguentasse tanto peso e tamanha opressão.
Mas, torno então à minha coluna propriamente em questão e já de plano lembrar que em verdade temos três: a de cima (cervical), a do meio(lombar) e a de baixo (lombo-sacra). A extremidade inferior da coluna se chama cóccix. Palavrinha feia, talvez pela origem desse segmento do corpo humano. O cóccix é na verdade um resquício de nosso rabo. Com a evolução do homem ele acabou se atrofiando e ficamos sem rabo. Mas também imagina, se fôssemos dotados de rabo, quanto de gente a mais não teria de rabo preso. A Antropologia e  sociologia , e mesmo  a política tem as suas prevenções. Com a evolução perdemos o rabo. Foram modificações que se fizeram de cabo a rabo.   E por falar em prevenção e profilaxia nada melhor para as afecções e desvios da coluna vertebral ( agora a que sustenta o corpo humano) do que os cuidados com a postura e cargas de peso e trabalho a que ela é submetida.
A alocução que tive com o Dr. Idiolino Fuentes, um brasiguaio ,  fora justamente sobre o porquê dos crescentes casos de dores e encurvamento da coluna. Uma prevalência que vem se verificando sobretudo na população de adolescentes e jovens.
Em tempo e para melhor entendimento. Quando a coluna se desvia para o lado direito ou esquerdo tem-se a escoliose. Quando se dá para frente tem-se a lordose. Para trás, cifose. Entretanto, vale lembrar que existem as curvaturas normais na parte cervical (lordose do pescoço) e lombar (na altura do abdome), dentro de limites normais de função e anatomia. A esse excesso de curvatura é que se dá o nome de lordose disfuncional . Então pode-se ter uma lordose normal ou fisiológica e a patológica .
Dr. Idiolino referiu-me que há cerca de 10 anos vinha enfrentando e buscando deslindar a razão do aumento preocupante de casos de cifose cervical. Eram jovens e adolescentes corcundas. Eram queixas não só dos consulentes, mas dos pais que percebiam aquele desnível de postura na coluna dos filhos. Muitos jovens eram levados à clínica ortopédica do dr Idiolino não por essa ou aquela dor ou desconforto que o valha, mas tanto mais pelo lado estético. Era comum ao final da consulta os acompanhantes fazer a capital pergunta: Dr.,  meu filho ou filha não vai ficar corcunda?  Ao que retorquia o médico de espírito fleumático, igual ao corcunda  de Notre Dame, não!
E assim prosseguia-se o diligente e criterioso ortopedista. Eram tratamentos com anti-inflamatórios, relaxantes musculares, sessões de fisioterapia, reeducação postural de coluna(RPC) e nenhum resultado corretivo daquela que era  uma epidemia   nas doenças posturais da coluna cervical de pacientes tão jovens .
Eis que houve um congresso de Medicina Alternativa em São Paulo. Ali iam se apresentar, se não renomados, mas experientes profissionais chineses e indianos. Os temas iam da  Terapia ayuvérdica  a medicina  quântica. Oportunidade em que se apresentou um médico chinês, professor Qiang xuleve. Dr. Qiang falou de sua experiência com lumbago (ou lombalgia para nós) e dores cervicais da cifose (encurvamento posterior do pescoço, postura cabisbaixa). Na íntegra  foi feita uma preleção histórica. A cifose tinha sido descrita já em idos a.C, quando os antigos monges e sacerdotes  tinham por hábito estudar horas a fio numa mesma posição de quase debruçamento sobre os textos e pergaminhos. Não era incomum a tal postura cabisbaixa , até pelos achados arqueológicos de múmias. A cifose é uma doença de priscas eras , concluiu o professor Qiang .
E assim para alívio dos presentes, naquele quase anônimo congresso de terapias alternativas arrematou o sábio Qiang Xuleve, a cifose é um defeito de postura da idade do próprio homem . Ela já era descrita nos tempos pré-socráticos, singrou pelos dias dantescos e se repete com recrudescimento preocupante no século XXI. A cifose da era digital e da internet se dá não por hábito da leitura e culpa dos livros ou pergaminhos . Ela se dá em nossa juventude diuturnamente antenada e conectada aos objetos de mídia e das redes sociais. Todos estão ali cabisbaixos, plugados e cifóticos . São crianças e jovens  presos e ensarilhados na grande rede, nas garras da virtualidade, eles são vitimas das conquistas da modernidade
 Se essa constatação vai ajudar o Dr. Idiolino e seus pacientes com cifose, o futuro responderá!


João Joaquim  - médico e articulista do DM

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