domingo, 31 de julho de 2016

EDUCAR EM SAÚDE - Dever do Médico

O MÉDICO COMO BOM OU MAU EDUCADOR EM SAÚDE
João Joaquim  


É de senso individual e coletivo que tudo aquilo que fazemos, que praticamos vem de nossa educação. O que é educação? É todo conhecimento que adquirimos com outrem. Isto é uma questão unânime, pacificada e ponto final. Alguém poderia lembrar do autodidatismo, do expediente de se aprender por si só. Mas, aqui entra aquele argumento de que uma primeira pessoa e antecessor registrou aquele conhecimento, aquele princípio ou regra etc.
Uma outra mente poderia ainda contra-argumentar: e quando se trata de um descoberta ou grande invenção? Vamos tomar o caso de alguns teoremas, leis da física, lei da relatividade de Einstein? A última explicação seria: todas as leis da matemática, da física ou da química não foram criadas pelo engenho humano. Todas são preexistentes em relação à inteligência humana. Todas as leis e relações do universo fazem parte de sua dinâmica, de sua harmonia, de uma inteligência sobrenatural, que para os que creem, nos quais eu me incluo, se chama Deus. Nós humanos, de forma interativa, e em cooperação uns com os outros (mestres, aprendizes e iniciados cientistas) é que chegamos a essas inter-relações das coisas, e dos seres químicos e físicos entre si, de todas as coisas existentes, do planeta terra e do cosmo. Ninguém inventou o princípio da inércia, a velocidade da luz, a lei da gravidade. Elas sempre existiram . São imanentes , eternas e imodificáveis. 
Deixo essa ideia inicial assim expressa e  não pretendo desta maneira me referir aos regulamentos do  cosmo, da terra, das águas, da flora ou  da fauna. Seria dissertar sobre coisas de que eu ignoro; e Sócrates já advertia: “ ajuizado serás não supondo que que sabes o que ignoras”.
 Por estranho que pareça quero tratar de outra forma de educação de nossa humanidade, de nossa sociedade e das pessoas;  deu-me em mente de versar e reversar sobre educação em saúde.
Tudo aquilo que fazemos e praticamos em saúde (pessoas comuns e profissionais ) é feito e praticado com que tipo de educação? Quais são as influências recebidas de toda prática, de todas as atitudes das pessoas nas questões de saúde? Para dar mais foro de clareza em matéria tão importante na vida das pessoas, vamos tomar o exemplo da automedicação. De onde vem tais ensinamentos? Vamos ao que dizem a historiografia, estudos e pesquisas sobre o tema.
Toda educação e práticas no tocante à saúde advêm de nossos antepassados. Isto se dá pelas crenças, pelos mitos, pelas experiências, pelos resultados empíricos repassados de geração a geração. Outro fator determinante na educação em saúde de nossa sociedade se refere à influência  dos estágios ainda precários  das ciências e da medicina até meados do século XIX, inicio do XX. Nesse período pré-científico( comparado ao que temos hoje em ciências médicas ) predominavam então o charlatanismo, o curandeirismo e a crença das pessoas em inúmeras afirmações e promessas de eficácia e cura de um sem-número de insumos e práticas terapêuticas. Práticas e terapias essas que persistem até os dias de hoje. Charlatões, videntes, falsos profetas, sacerdotes e curandeiros continuam a fazer sucesso até hoje. Em muitos rincões do Brasil e do mundo ainda se usam muitos linimentos, emplastros, unguentos, sanguessugas, benzeções , descarregos etc. 
Por fim, há um agente, um profissional que tem papel decisivo na educação sanitária de nossa sociedade e das pessoas. Referimos então ao próprio médico. Não há nenhuma dúvida ou dissenso de que o médico é o grande educador em saúde. Muito do que as pessoas praticam de errado ou de certo com sua própria saúde resulta de uma informação distorcida, equivocada e antiética do próprio médico. E aqui entra o fator pessoal e o fator institucional da formação profissional. No âmbito pessoal temos desde o indivíduo que pratica as profissões de forma ilícita( falsidade ideológica ) até aqueles que deliberadamente, por questão de caráter , são maus profissionais. Grande parte dos charlatões têm diploma, e esses são os mais perigosos porque têm a chancela de alguma faculdade.  Tal prática se dá desde o vendedor de remédio em alguma farmácia, à pirataria de muitas terapias fajutas , nas esquinas das cidades e agora pela Internet. Procure qualquer remédio nas redes sociais, existem para todo gosto, desde os para impotência sexual até pílula do câncer .
O papel de profissionais de saúde . Para tanto basta pontuar algumas situações nas quais o médico se torna o responsável. Nas questões de diagnóstico. Quantas pessoas não têm uma percepção e informação errada ou falseada de causa deste e outros sintomas ou doença? Nunca foi o paciente que se autodiagnosticou, o médico é que lhe incutiu tal rótulo de doença. Por que a  prática de muitos clientes saudáveis  ou com sintomas vagos e banais  em submeter a tantos exames? Culpa dos médicos que os  solicitam sem critérios na sua prescrição .
 Muitos procedimentos são feitos sem  os itens  clínicos de uma boa consulta e exame físico meticuloso. O bom médico é aquele que ouve bem, vê bem,  e toca o paciente. Desse expediente surgem os diagnósticos mais acertados.  Todo médico antes de colocar o estetoscópio no doente deveria praticar a chama escutatória ( ouvir as queixas do paciente). Depois, sim, viriam as perguntas, o exame físico e por fim algum exame complementar. O nome já é bastante sugestivo, complementar ao ato da consulta.
 Hoje, existe uma tendência inversa. O cliente sai da consultório com uma listagem de exames. Fazem-se desde dosagens de arsênico, de sódio, de potássio, de inúmeros elementos que o próprio médico desconhece qual função no organismo humano . Além dos exames de imagens tipo  doppleres , ultrassons, tomografias, até impedanciometria corporal.
 São baterias de exames, que às vezes resultam todos normais. Muitas vezes faltou ouvir melhor e tocar o paciente. Nas questões psicossomáticas por exemplo, quantas queixas se podem curar com uma simples e boa relação médico-paciente! As tão populares papoterapia, escutoterapia, orientoterapia.  Muitos médicos ainda têm uma certa aura da infalibilidade( lembra o papa de antigamente), de achar um deus, um sabe-tudo . Sejam humildes, e entendam suas limitações. Nada feio,  nada desairoso ou desqualificante. Todo conhecimento tem limite. Para isso têm aqueles que sabem mais e podem nos socorrer. Qual tal ?
Por último, a tão difundida automedicação, desde analgésicos, antibióticos aos já tão populares calmantes e antidepressivos. Como as pessoas praticam essas automedicações? Obvio, com as receitas controladas feitas pelos médicos “bonzinhos e amigos” dos usuários. Também pela Internet, através dos  charlatões, e tantas farmácias de cada esquina. O que existe hoje de pessoas usuárias de um rivotril, de lexotan, de paroxetina, de fluoxetina, de citalopran;  virou paronoia e uma rotina.
Ou seja, quem deveria dar a melhor educação em saúde, se torna o pior educador para as pessoas, o próprio médico, que ironia. Quão triste!  julho/2016.

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