terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Não Precisa...

NÃO PRECISA EXPLICAR, EU SÓ QUERIA ENTENDER
João Joaquim 
 “Não precisa explicar, eu só queria entender”. Este era o bordão do macaco Sócrates exibido no humorístico da TV Globo nos idos de 1980. E é com ele que mostro minha estranheza e incompreensão diante de tantos fenômenos, fatos e comportamentos de nossa sociedade, do Brasil e do mundo. Porque é isto mesmo. Há certas coisas e ocorrências em nosso mundo para as quais não se tem uma explicação consistente e convincente. De momento, um fato nesse sentido tem sido o temor e terror das pessoas com os casos de morte por febre amarela. São casos concretos, tem havido alguns óbitos causado por febre amarela. Mas, por que de tanto medo e pânico?
Diversas autoridades de saúde, por diversas vezes, têm reiterado, por vários veículos de comunicação, que febre amarela urbana não existe. Só há risco se a pessoa vai passear em região rural, onde tem vegetação extensa que possa ter os mosquitos hemagogus e sabethes, que transmitem o vírus pela picada. O inseto é hematófago, ele pica o doente (macaco ou humano) e se picar uma pessoa sadia, inocula nesta pessoa  o vírus da doença. E ponto final!. E acreditem mais, tem gente que mata o macaco supondo ser ele o culpado. Ao contrário, ele não transmite a doença, e mais, serve de alerta , quando morre da doença, provando que em sua mata tem o mosquito vetor da febre amarela.
Agora o bordão: “Não precisa explicar, eu só queria entender”. Por que medo e tanto terror se a pessoa é estritamente urbana e não vai viajar para áreas de risco? Assistindo às pessoas que assim procedem, fica a impressão que elas são obtusas ou retardadas mentais. Seria o mesmo exemplo de se ter fobia e preocupação com a AIDS se o sujeito não tem comportamento de risco ou relação sexual desprotegida (sem preservativo).
Há 2 anos o mesmo fenômeno (medo, terror) ocorreu com as infecções com o vírus zika e o surgimento de microcefalia. Foram  casos de crianças nascidas com tal malformação de mães que contraíram a virose nos três primeiros meses da gravidez. Como amplamente esclarecido, à época, a doença só traria risco para a gestante pelo risco de contaminar o feto. O certo é que se disseminou o pânico. Homens, idosos, crianças, mulheres de todas as idades e não grávidas queriam se proteger do mosquito (aedes aegypti) pelo terror de se infectar pelo vírus zika.  Na verdade trata-se de uma virose banal e com sintomas leves, tipo uma gripe.
No começo dos casos de microcefalia  eu escrevi um artigo e afirmei que daria dois anos e ninguém mais falaria em zika ou microcefalia. E expliquei o mecanismo desse arrefecimento ou esquecimento pelo princípio da acomodação, ou também por muitos estudiosos denominado zona de conforto. É o princípio que consiste em se esquecer ,  adaptar ou conviver com  alguma coisa ruim,  com o passar do tempo. A convivência com aquele fato ou realidade se torna normal. É a naturalização daquele fato que não existia e não  tido como normal e padrão. A repetição e persistência se encarregam pela normalização ou naturalização do que incomodava, era nocivo ou molestava. Outro exemplo, a corrupção e os corruptos á nossa volta, sofremos ( muitos pessoas) uma espécie de lavagem cerebral, e o crime e os criminosos se tornam normais.
O princípio da acomodação ou zona de conforto explica muitos outros fatos e concorrências negativas na vida das pessoas, da sociedade, do Brasil e do mundo. Basta recorrer a algumas estatísticas no próprio âmbito da saúde. Como   nos exemplos a seguir.
 Mortes no trânsito. No Brasil, têm-se a cada ano 60.000 vitimas fatais nas rodovias e vias urbanas. São números de guerra. Mesmo com mais rigidez da legislação de tráfego e aumento da fiscalização e multas. Isto não intimida os infratores e a quantidade de acidentes, mortos e feridos tendem a aumentar. Ou seja, são tragédias que entram na normalização ou naturalização do cotidiano das pessoas, da sociedade e do país. Nesta questão o que o Estado poderia fazer seria aumentar as penas para os homicídios de trânsito. Todavia, é pouco crível que diminua significativamente as mortes e mutilados. O mesmo princípio e raciocínio se fazem com os homicídios por arma de fogo. No que ajudou o estatuto do desarmamento? Em nada. Talvez aos criminosos porque estes com ou sem leis eles agem do mesmo modo delitivo.  As pessoas continuam no mesmo diapasão de antes, sendo vítimas e autoras de crimes por arma de fogo. Os escores são os mesmos de conflitos bélicos, 60 mil mortos/ano.
Por fim, dois hábitos praticados pela sociedade que mais causam mortes no mundo inteiro, o tabagismo e o alcoolismo. Apesar de campanhas e leis que desencorajem o uso de nicotina e álcool, esses vícios são praticados por milhões de pessoas. E elas têm ciência dos inúmeros casos de câncer  e outras doenças incuráveis que mais matam no mundo.
Dessa forma, diante do pânico das pessoas com a febre amarela ou zika; mas sem medo do trânsito, de armas de fogo, do cigarro e do alcoolismo, eu valho-me do bordão do macaco Sócrates: “Não precisa explicar, eu só queria entender”. Entender por que medo de uma doença que se sabe onde há risco de contraí-la, de ser contaminado pelo vetor do vírus e não medo de tantas outras condições de risco como as citadas acima ?   Janeiro/2018.

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