quinta-feira, 14 de junho de 2018

Paredistas do diesel

A IMOBILIZAÇÃO PAREDISTA DOS IRMÃOS CAMINHONEIROS

João Joaquim  


De repente eu me permiti uma parada reflexiva ao assistir o “movimento paredista” dos irmãos caminhoneiros. Permito-me a expressão ” movimento paredista” porque ela faz todo sentido. Trata-se de uma greve onde não se tem um líder ou comandante. Constitui um engajamento de pessoas, de uma categoria profissional, com reivindicações únicas ou diversas. O termo paredista deriva de parede. Traz como que a conotação de que o líder ou chefe da mobilização se acha oculto atrás de uma parede, muro ou escudo. E de fato essa é a “verdade real” porque em qualquer empreendimento, fato ou feito coletivo sempre existirá um comando, haverá uma ou até algumas cabeças pensantes para difundir e persuadir os demais do grupo ou categoria na participação ativa no processo. Na manifestação paredista esse líder não aparece.

Na estrita questão do “movimento paredista”, dos manos caminhoneiros, várias questões despertaram-me os meus sentimentos. De  tristeza, melancolia, misericórdia e fraternidade. Sentimentos que suponho faltaram aos irmãos das rodovias. Os motoristas que levam e trazem toda sorte de carga. Entre essas, as que são vitais para o país como alimentos, animais, ração animal, medicamentos e combustíveis de toda natureza, em especial etanol e gasolina, para os demais irmãos não caminhoneiros.

O primeiro sentimento que tive em relação aos grevistas do asfalto foi justamente o de fraternidade. Não se trata aqui de estar criando imagem ou fazendo estilo, e explico o por quê.
Os caminhões, carretas, todos os veículos de carga dos caminhoneiros usam como combustível o óleo diesel e ele está muito caro. Em contrapartida o preço do transporte muito barato. E esta distorção diesel caro e frete barato foi o gatilho ou estopim para as reivindicações desses trabalhadores das estradas. E nesse quesito, que não é uma “simples questiúncula” os irmãos caminhoneiros estão cobertos de razão. De motivos para referida mobilização, ou paralisação , como quer alguns.

De outro lado tem que se consignar que o governo federal fez uma contraproposta de redução do preço do litro de diesel em R$ 0,46. Mesmo assim os grevistas, decorridos 10 dias de greve, se mostraram recalcitrantes e mantiveram paredistas. E aqui vêm nossa tristeza e melancolia por essa resistência e insensibilidade de nossos “irmãos do asfalto”. Passada mais de uma semana da paralisação do transporte rodoviário já se contabilizam mais de 100 milhões de aves mortas por falta de ração, quase um bilhão de ovos jogados fora, milhares de litros de leite perdidos, toneladas de hortifrutigranjeiros e outros alimentos perdidos. Mais de 3 bilhões de prejuízos no Brasil todo.

Frente a tamanha tragédia, fica a pergunta:  por que tantas perdas para um Brasil com a economia já  em frangalhos ? Têm que assim ser considerada, tragédia. E tragédia inominável, porque representa em graves perdas de vida animal, com riscos de mais perda de vida humana. Porque um irmão caminhoneiro já foi assassinado em Rondônia, por um outro motorista, de quem ainda não se tem identidade. A arma do crime foi uma pedrada, que estilhaçou o para-brisa e a cabeça da vítima.

Ante então o enorme descalabro para um país em crise pus-me a repensar. Primeiro, longe de imaginar  na fraternidade (amor de irmão) de nossos patrícios caminhoneiros. Sequer  longe de haver  tal sentimento generoso na  mente e consciência desses grevistas. Não foram eles  nada fraternos e solidários. Primeiro , com os milhões de perdas de animais e alimentos. Segundo, com o próprio abastecimento de alimentos para as centrais de distribuição e combustíveis como etanol e gasolina nos postos de venda aos consumidores. Não teriam eles outras formas de protestos ?

Uma outra luz (insight) que me ocorreu sob a forma de melancolia e compaixão foi pela lembrança de nossos “hermanos” Venezuelanos. O mundo todo tem ciência do estado calamitoso porque passa nossa vizinha nação bolivariana( quanto tristeza para Simon Bolívar, deve estar se revirando no túmulo). A crise vivida por aqueles nossos irmãos é infinitamente maior que a que vivem os brasileiros. Está surgindo em nosso país vizinho uma legião de pessoas esfomeadas, desnutridas e raquíticas. A escassez de alimentos tem sido crítica e mortes por fome podem aparecer. Porque de mortes sociais , muitos já estão mortos. Além de mortes por direitos de expressão, direitos políticos e de protestos. Temos ali, sim, uma ditadura socialista bolivariana, sob a batuta do ex caminhoneiro Nicolás Maduro, o atual presidente do país.

Foi então que veio-me tal ideia. Na Venezuela não há crise de combustível, porque ela é grande produtora de petróleo, através da estatal PDVSA. Duas seriam as possibilidades, o Brasil poderia trocar alimentos por petróleo, no caso gasolina e diesel. Seria bom e proveitoso para as duas nações.

Ou em uma segunda opção, nem troca, nem nada. Ao invés de tantas perdas de aves, ovos e outras toneladas de alimentos, o Brasil poderia estar  doando tudo aos irmãos famintos e desnutridos. Nessa hipótese, com uma condição: toda a logística e transporte por conta de aviões vindos da própria Venezuela. Até porque combustível lá é praticamente de custo zero. Com uma questão ressurgida de última hora. Como fazer tais alimentos, do território brasileiro, chegar até os aeroportos, e embarcar nos aviões vindo da Venezuela ? Uma solução, seria trazer caminhões de lá mesmo. E isso não interferiria nos propósitos de nossos grevistas. O desabastecimento aqui continuaria, postos nossos sem combustíveis, até uma solução final. Eh, daria para ter essa saída.

Aí, sim, poderíamos ser por eles chamados de irmãos brasileiros. Seria um belíssimo exemplo de generosidade! De nossos irmãos brasileiros, políticos, cidadãos empreiteiros, sejam esses do ramo das transportadoras , empreiteiras ou não.  Porque , repitamos, se está tendo alimentos perdidos por falta de transporte, nesse quesito a Venezuela, tem de sobra, aviões parados e combustível em superávit. Muitos dizem que nosso país, o Brasil, está , aos poucos , se venezuelando. Isto é, está sendo sucateado em tudo, em economia, em honestidade e administração. Além do cancro da   corrupção. Nisso , nós não devemos acreditar, e fazer a nossa parte, naquilo que  nos cabe.    Junho /2018

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