HOMENS E MULHERES NA COLEIRA,
QUE TAL ?
João Joaquim
Quando eu vejo as pessoas saírem pelas ruas puxando ou sendo
puxadas pelos seus intitulados “animais de estimação,” me causa uma certa
piedade. Dizer piedade pode parecer exagero de minha parte, mas não é! Isto
porque toda forma de vida é igual à vida humana. Humano sou e me vejo nos
animais como o mesmo desígnio da criação. Interessante e digno de reflexão é
que são três os reinos; grosso modo, podemos classificá-los em inanimado,
animado ou animal e vegetal. Do reino animal do qual, nós humanos, fazemos parte
somos aquele animal diferenciado porque além de animal somos racional,
inteligente e criado à imagem e semelhança de Deus. Depois veio o demo e criou
várias figuras e clones de si próprio .
Vale lembrar que animal vem do latim “animus”, que significa
espírito, energia vital ou alma. Alguns ramos da Filosofia existencialista
admitem que há uma espécie de alma dos irracionais. Entendido também que o
binômio corpo e alma (dom divino) é exclusivo do gênero humano. A essência e
imortalidade do ser humano é sua alma. No plano biológico todos os animais,
inclusive humanos, guardam muitas
características em comum, quais sejam: nascimento, maturidade, velhice, morte e
putrefação. O que torna os humanos distintos e diferenciados é justamente esse
sopro espiritual divino chamado alma, um sopro da santíssima trindade , do
Espirito Santo. Morreu , todos são cadáveres , carne dada aos vermes .
Torno a ideia inicial de ver um animal contido, jungido,
subjugado e puxado por uma coleira e o sentimento de dó e generosidade
que tais cenas me despertam. Decididamente a tal cultura e expediente da
chamada posse do animal de estimação é antinatural. Que escusem-me aqueles
adeptos dessa moda tão massiva, tão aceita por muitos, por segmentos civis e
jurídicos da sociedade.
Mas, de plano, sempre
admiti meu dissenso nessa aceitação como uma prática normal e naturalista.
Porque tal cultura e aceitação contraria aquela energia a mais sagrada, a mais
natural, a mais bela, a de maior felicidade de um ser vivente, especialmente os
irracionais que já são tão explorados, desrespeitados e tolhidos em outros
direitos, enfim, a maior liberdade de ir e vir, de se sentir liberto para
passear por onde quiser. Afirmam os entendidos que as aves canoras , quando em
gaiolas cantam as suas mágoas e tristezas pelo isolamento e perda da alegria de
voar. Faz todo o sentido tal interpretação .
Para os não afeitos ou não informados vale relembrar que, à
semelhança do estatuto dos direitos humanos, existe o estatuto do direito dos
animais. Declaração Universal dos Direitos dos Animais(UNESCO
27/01/1978).
Trata-se, à feição das pessoas, em uma das iniciativas das
mais generosas e humanitárias. Toda forma de vida, todos os seres viventes, têm
direito a uma existência digna e respeitosa. Quando me expresso dessa forma
lembra-me o mais humanitário e generoso dos homens, depois tornado santo, São
Francisco de Assis. Ele foi o protótipo, protagonista e inspirador da criação
do estatuto do direito dos animais.
Art.1o - Todos os animais nascem iguais diante da vida e
têm o mesmo direito à existência. Art.5o - Cada animal pertencente a uma espécie que vive
habitualmente no ambiente do homem, tem o direito de viver e crescer segundo o
ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprias de sua espécie.
Toda modificação imposta pelo homem para fins mercantis é contrária a esse
direito. Como também o é para fins de adorno, diversão, ou apurado gosto de
posse do bicho(“ de estimação “).
Não se pretende aqui fazer críticas pejorativas e mesquinhas
aos donos de animais. Trata-se de um direito igual ao de gerar e criar filhos.
Podem-se ter tantos animais, quantos queiram de filhos. No Brasil o Estado não
impõe regras a esses gostos e direitos. O burocrático e restritivo é quando se
quer ter um filho adotivo. Aí existe uma “via crucis” desafiante para qualquer
casal. Deveria haver normas e legislação relativas ao número de filhos,
levando-se em conta critérios de aptidão social, econômica e financeira. Não há
nenhuma lei nesse sentido. Cultura de países terceiro-mundistas.
Não se pode e não se quer neste parecer censurar ou condenar
a posse do chamado “ pet ou animal de estimação”. Nem tão pouco ser contra a
posse de um animal com outros fins como no emprego de trabalho, no
esporte, como um vigia e sentinela de uma residência e outro patrimônio. Bem
assim aqueles criados na produção de carne e ovos. Falo aqui em especial dos
bovinos e aviários. O que se protesta e repudia é qualquer forma de
humilhação e tratamento indigno e degradante a qualquer bicho.
O que soa altamente condenável e intolerável são as condições
nas quais são mantidos todos esses grupos de bichos. Tomemos como exemplos as
classes dos chamados “animais de estimação”. O que é este animal ou qual é a
sua finalidade? Muitos desses
mimosos bichinhos são adotados e mantidos como simples objeto de adorno,
enfeite, decoração. Como se fossem um ursino de pelúcia ou boneco lúdico. São
aprisionados em apartamentos, em condomínios, com regras rígidas de convívio e
circulação. Conforme o estilo de vida e saúde dos donos, se quer tais ditos
animais de estimação têm direito ao banho de sol como o faz presidiários
humanos. Muitas vezes algo pior ocorre com alguns animais que são
descartados pelo desinteresse e desencanto dos donos. É o caso de muitos cães.
Cavalos e outros animais de tração que, uma vez velhos ou doentes são
abandonados nas ruas. E tantos outros maus tratos e ofensas que sofrem os
animais pelos seus donos. Muitos dos quais são escorraçados e mortos como se
fossem um estorvo e trambolho na vida das
pessoas .
Portanto, ficam a advertência e apelo: quer ter algum bicho
ou animal de estimação? Respeite ao menos a natureza, a dignidade e os direitos
desse animal.
Aos que discordar deste cronista deixo umas dicas e
sugestões: experimentem ficar um dia restritos a um cubículo de 200 m2, sem
direito de ir e vir. Ponham-se numa coleira e peçam para ser puxados durante
meia hora por uma via pública. Seria plausível e normal passarmos alguns
momentos como humanos de estimação? Já imaginou se essa lógica fosse invertida
de sermos adotados pelos bichos como humanos de estimação ou o melhor
amigo dos animais e fôssemos contidos com coleiras, gaiolas, e grades de ferro
ou muros à prova de fuga. Eu não quero nem pensar isso para mim. Que o digam os
detentos da Papuda , de Bangu I, ou de tornozeleira eletrônica .
Agosto/2016.
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