domingo, 30 de outubro de 2016

ganho ponderal...

CONVERSA MOLE   SOBRE GANHO PONDERAL
João Joaquim 

Eu tenho para mim que nunca dos nuncas se falou tanto em obesidade como se fala em nossos tempos. Que tempos são esses? Estamos na era do predomínio do liberalismo ergonômico( produzir muito com pouco esforço), do cômico (de comedia e comer com diversão ) e  da crise econômica. O capitalismo ,que se manifesta na indústria e no livre-mercado, aproveitou essa deixa e pôs suas garras nesse filão de clientes. Comerciar e comer, eis os dois verbos mais conjugados nesses tempos, que se não rimam, combinam nas propagandas envenenadoras e enganadoras do consumismo. 
É o comunismo( não político) na mesma comunhão  de-  todos têm o direito ao prazer, ainda que passageiro, do se fartar, do se empanturrar de porco, de vaca (atolada ou pura), de aves , de frango e galinha  e tudo mais de roldão como acompanhamentos que vão da batata-palha às massas de trigo consumidas e apreciadas pela massa humana.
 Somadas a todas essas frituras, gorduras saturadas de carbono e de colesterol,  ou trans,  vêm as bebidas em profusão. Elas que não se destinam a fisiológicas hidratações, mas em libações prazenteiras, sedantes e excitatórias. São hábitos que, à moda dos antigos romanos, levam muitas vezes aos reflexos vomitórios, tudo como resultado do liberalismo gastronômico do comer, comer, comer;  para o fim de ao menos assim ter e obter o máximo de prazer; como já preconizam os epicuristas de priscas eras.
 “Nenhum prazer é, por essência, ruim: é o que produzimos com ele que, dependendo do tamanho de seu sofrimento, ditará se realmente valerá ser saciado. O prazer de tomarmos um copo de água quando estamos com muita sede é tão verdadeiro quanto o sofrimento de ser afogado pelas águas do mar. As drogas, por exemplo, usadas sem critério médico, podem produzir um mal muito maior que a euforia ou bem-estar que causam quanto ao prazer imediato que proporcionam. Em síntese, o prazer e o sofrimento resultam da relação do corpo com os objetos circundantes” ( princípios da prazer e da felicidade a qualquer custo, Segundo Epicuro, o filósofo do prazer).

Feito esse breve introdutório, falemos numa outra questão, a causa da obesidade. Pode parecer temas antagônicos, mas não são. Obesidade e indústria alimentícia têm muito em comunhão. São irmãs gêmeas que atuam no mesmo polo. Quando na verdade se fala em ganho de peso vem logo aquele ramerrame ou nhenhenhém  das causas de tão prevalente e grave pandemia que atinge ricos e pobres. Os ricos porque comem o que há de mais chique e requintado, os pobres, que custe até algum chilique,  mas não ficam sem os farináceos e requentados. E assim segue a marcha de toda a massa de humanos  que porta a tal debatida, rejeitada, mas redundante obesidade.
Em todos os painéis e simpósios assistidos por mim sobre o tema, têm sido recorrentes os fatores psíquicos e genéticos ( múltiplos ) para ganho ponderal. Verdadeiros e contributivos que sejam, esqueçamo-los e tragamos outros de grande quilate nessa ontológica e filogenética moléstia que tanto martiriza, estigmatiza, discrimina e mata a humanidade.  Exalto aqui dois dos mais esquecidos contribuintes no superávit ponderal, a saber, o cultural e o social.
O cultural que  salta aos olhos de qualquer pessoa; basta ver  que os grupos dos obesos trazem a cultura, o hábito de a tudo celebrar com comida, bebidas a perder de vista, ainda que tudo custe a inadimplência do cartão de crédito( nome impróprio para essa tarjeta de dívidas). O que mais abunda em todos os encontros dos obesos é o gozo, o regozijo e regalo do comer e do beber. Tudo, sejam encontros e desencontros, exige que seja regado a comida farta e bebidas para festivas libações. Estou alegre e feliz!  então vou comemorar me fartando do que me vier de sobrepeliz. Meu time perdeu logo hoje, traga aí aquela caninha como aperitivo  e que venham aqueles capitosos acepipes e salgadinhos. 
O fator social tem um pouco do cultural. Aqui entra a questão do status ou  importância ou destaque onde se acha inserido o indivíduo. Funciona, no quesito social ou cultural,  a lei do “eu sou o que eu como”. O sujeito se sente de mais status pelo quanto de melhor e o que mais come. São sinais e prenúncios de nossos tempos.
 Saindo da seriedade e sisudez de tão relevante tema, o que já não é sem tempo;  o que se devia fazer de mais produtivo e eficaz seria a educação nutricional na infância. As crianças ainda nas creches e jardim-de-infância (2 anos a 6 anos) deveriam ser educadas com uma alimentação saudável. Nessas refeições, o lanche matinal e vespertino deveria ser composto de um pãozinho integral (fibras), um produto lácteo sem açúcar (proteínas e cálcio para os ossos) e uma fruta (vitaminas e minerais).
 O que presenciamos  nas escolas e mochilas é justamente o contrário; doces, açúcares e chocolates. Num expediente de finura e muita esperteza , diversos ramos da indústria gastronômica põem no mercado os tais iogurtes, doces, coloridos e achocolatados. De fato saborosos , mas do mais puro engabelo para que a garotada, uma vez feita a degustação de tais produtos , nada mais lhe interessa. Pura sedução, que os pais e cuidadores , não têm como reverter tal apelativa educação . 
Crianças cujos pais são magros de genética ou  por uma cultura alimentar saudável, serão da mesma forma adultos saudáveis, porque assim foram educadas. Inclusive na questão do paladar daquilo  que realmente é antes nutritivo que calórico, antes construtivo, organicamente falando, que hipercalórico.
É assim que devem prevalecer os fatores cultural e social na formação e educação de uma sociedade não obesa e saudável. O resto de discussão é o mesmo reco-reco  infindável de falatórios que nada acrescenta aos frequentadores obesos dos refeitórios e certamente pacientes e clientes dos endocrinologistas e nutricionistas em seus frequentados, caros e obesos  consultórios. Basta , falei demais .  Outubro /2016.  

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