sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Comodismo

ZONA DE CONFORTO

João Joaquim  


Um comportamento a que tenho assistido com certa frequência nesses últimos tempos se chama acomodação. Trata-se de uma inclinação a que muitos chamam de zona de conforto. Estado de espirito e de vontade tal  que aliás ocorre em todas as searas da vida. Desde o âmbito do trabalho, no entretenimento, na vida conjugal, até na iniciativa religiosa.
O que vem a ser a acomodação, zona ou estágio de conforto? Refere-se aquele estágio vivido pelo indivíduo onde ele se encontra sem nenhuma ambição a mais na vida. Sem  nenhuma iniciativa de mudança da condição onde se encontra.
Ele só se propõe a alterar tal situação instigado e mobilizado por convencimento de outra pessoa ou alguma circunstância que o incite a essa transformação, a mudar sua postura de inércia, imobilismo social , profissional e improdutivo. É uma estagnação absoluta.
Uma condição bem encontradiça dessa intitulada zona de conforto está no próprio estilo de vida, onde a pessoa vai acumulando os chamados fatores de risco (FR) para doenças que representam ameaça à saúde, à qualidade de vida e a própria  vida.
Na condição de médico me tornam fáceis tais citações para bem elucidar a atitude ou conduta de acomodação a que muitos chegam;   a tão costumeira e vezeira referida zona de conforto. Para tanto vamos olhar à nossa volta, em nossas relações familiares e sociais, passadas e presentes, e fazer a seguinte reflexão: quantas pessoas nós conhecemos que já ficaram inválidas ou faleceram e que tiveram como causa, de longo prazo, a absoluta falta de prevenção? São dezenas, talvez .
Para mais clareza tomemos como exemplo  aquele indivíduo sedentário, inativo e obeso, que em que pese usufruir de higidez física e boa saúde constitucional.  Ele vai pari passu adquirindo os classificados grandes FR para doenças cardiovasculares e outras afecções oncológicas e degenerativas( infarto e câncer por exemplo). Entre esses já conhecidos fatores mórbidos podem listar o sedentarismo crônico , a obesidade, dieta hipercalórica e hiperprotêica de carnes e frituras, o alcoolismo de variados graus, hipertensão arterial, etc. Nossa sociedade, da hipermodernidade tem na comida uma fonte de “ felicidade”, de autopromoção, de alegria e prazer.  
Assim, como se tratam de fatores de risco silenciosos, nenhum deles representa motivo de mudança do estilo de vida. O portador dessas condições, paulatinamente, entra no processo da acomodação ou zona de conforto. Se nada dói , nada gera falta de ar e desconforto para que incomodar ? Na verdade trata-se de premissas de certa  insanidade mental. Comer, comer, sobreviver e morrer.
Nesse status de conforto ou acomodação, o que levaria o sujeito a alguma mobilização e atitude de melhora? Um susto! Um mal estar, um surto cardiovascular ou algum sintoma de mau agouro. São os casos por exemplo de um infarto do miocárdio, um acidente vascular cerebral(AVC).
Diante de algum desses diagnósticos, o indivíduo rapidamente faz uma retrospectiva de sua vida. Assim, a ameaça de alguma invalidez ou de morte tira de imediato o paciente de sua acomodação, da crônica zona de conforto e a iniciativa de mudança é imediata. Nessa circunstância, pelo medo da morte, de uma invalidez, de pronto o sujeito  é incitado a mudanças do tão antigo estilo de vida, como visto acima dos mais insalubres. Ele então vai fazer caminhadas, procurar uma academia de ginástica, consultar com um cardiologista ou nutrólogo , pilates, um personal trainer, um charlatão famoso da Internet, uma liposuccão de gorduras, uma cirurgia bariátrica, uma plástica de barriga, de glúteos, etc. São imagens de nossa sociedade fremente e demente em visível decadência.
Como na saúde, temos o mesmo processo comportamental em muitos outros cenários da vida. No casamento, quantas pessoas uma vez em vida conjugal entram na sua zona de conforto de forma permanente e tornam a vida na mesmice, numa  rotina sem nenhum encanto a mais?  Muitas uniões chegam ao ponto de absoluta insignificância e falência conjugal. E  a saída é a separação. Se amigável e consensual menos ruim, porque em muitos casos a dissolução do casamento se transforma em um autêntico inferno para pais e filhos; quando não em eternas desavenças e crimes.
Muitos outros exemplos podem ser lembrados do processo da zona de conforto ou acomodação . Na carreira profissional, nas opções de entretenimento e lazer. Até na opção religiosa podem constatar tais comportamentos. Para tanto não faltam os falsos profetas, igrejas com interesse e teologia de prosperidade e lucros pelos dízimos e outras ofertas dos fieis. Um sistema parecido com a venda das indulgências da idade média. Doem-nos  os seus bens e em troca terão um assento no céu. Este o mote ou lema de muitas igrejas.
Uma classe de pessoas na qual constatamos o fenômeno da acomodação tem sido a dos jovens. Ao que sugerem estudos e pareceres de especialistas a questão tem fundamento no processo educacional familiar, nos métodos pedagógicos das escolas e na influência das tecnologias de mídia e redes sociais da internet.
Trata-se de uma influência recente, da idade da própria Internet. O certo é que a  chamada tecnologia da informação(TI) tem trazido este efeito colateral para a chamada geração digital ou z. São as crianças, os adolescentes e jovens, criados e educados quase totalmente imersos nas mídias digitais e redes sociais. Esses vêm formando a legião dos nem-nem-nem. Nem estudam, nem trabalham, nem interesse têm em ambas as iniciativas. Os pais e outros parentes, se tornam os mantenedores. Outra triste imagem de nossos tempos.
E desse embevecimento, desse encantamento, dessa embriaguez e alienação mental tem sobrevindo a tão paralisante e passiva acomodação ou zona de conforto de nossa juventude. Que os pais e educadores não se acomodem e possam evitar essa tendência tão desestimulante e desconstrutiva da pessoa humana. Tal tarefa é possível e deve começar em casa, ainda na primeira infância, e com escolas e professores.  Dezembro/2017. 

A voz da Natureza

O LAMENTO DAS PLANTAS E DOS ANIMAIS  

 João Joaquim  



 Já é sabido e ressabido que todos os seres vivos possuem uma linguagem própria. Existem até alguns cientistas e estudiosos do assunto buscando entender a linguagem dos vegetais. Seria o idiobotânico, o idioma das árvores. E pensando de forma democrática se revela uma realidade muito plausível. Seria muito egoísmo da parte  dos humanos, supondo estes que a comunicação lhes fosse um monopólio, uma exclusividade.
Agora, por uma fatalidade dos vegetais( que sofrem os maus tratos humanos) e amenidade do humanos, poucas pessoas, mas uma ínfima porção de gente superdotada compreende e traduz o idiobotânico.  E por que refiro-me justamente  à amenidade de nós humanos? Simples. Basta entender o seguinte: o quanto de maus tratos, violência, lesão corporal, preconceito e morte vegetal a que se assiste no dia a dia. Haveria como que muito ranger e dor  de dentes, botanicamente falando. Eles sofrem e sofrem calados.
Um dado por demais interessante refere-se à questão do preconceito e discriminação racial (ou de espécie) no reino vegetal. Assim como no gênero humano ou reino dos homens, entre as plantas também viceja esse daninho sentimento. E como tal ele se inicia entre as próprias espécies botânicas. Têm-se por exemplo algumas espécies e mesmo alguns indivíduos que se julgam melhores e de mais direitos do que outros do mesmo filo, ou fito( de planta) e do mesmo reino.
No tamanho é até natural ter-se esse preconceito  . Algumas espécies e indivíduos se orgulhar ou se arvorar pela impressão da estatura, tornar-se-ia  aceitável. Cada qual vai ter a estatura que o telômero( uma parte do cromossomo) lhe indicar e medir. Todavia esquecem essas robustas e imponentes arborizações que os melhores perfumes e  os odores mais capitosos se acham nos menores sândalos e roseiras mais espinhosas. Ou uma vez sintetizados, os melhores perfumes e colônias se acham nos menores frascos. Provando aquele milenar dogma de que tamanho não é documento, nem identidade, nem fecundidade. Basta olhar atentamente para as maiores árvores, costumam ser as de menor semente, e ficam daquele  tamanhão.
Quando se versa sobre as questões do preconceito e racismo no mundo vegetal eles existem. Com as escusas da taxionomia (classificação), mas permito-me empregar aqui o verbete raça e injúria racial no mundo vegetal, por analogia como o que se verifica no meio dos humanos. Falemos assim dos filos ou fitos vegetais.
Como dito anteriormente tais sentimentos existem entre as divisões vegetais, mas, também de nós humanos e racionais contra os vegetais. 
Imaginem agora  os vegetais se não fôssemos, nós os humanos,  dotados de razão. De razão e consciência. Já tínhamos colocado fogo no planeta. Aliás, incêndio e queimadas não faltam pelo mundo afora. Só não queimam tudo porque vêm os bombeiros e as chuvas e nos salvam do inferno final. É um risco perene.
Em matéria de preconceito ou ofensa racial no mundo dos vegetais, vale registrar que há uma inversão de valor, se comparado com as mesmas negativistas atitudes entre os homens.
A etnia negra, humanamente falando, reclama-se e com enorme razão do preconceito sofrido pela cor da pele. Trata-se de um preconceito intolerável e sem sentido. Já no reino dos vegetais dá-se o contrário e levanto essa bandeira, de tão descabida discriminação.
É cediço e encontradiço o preconceito contra todo vegetal, cuja madeira seja branca ou esbranquiçada, ou mesmo sem cor. Basta visitar os canteiros de obras, oficinas, marcenarias, etc,  que lidam com madeira. Quantos e quantos mobiliários se fazem com moveis de cor forte ou carregada em desprezo ou detrimento daquelas brancas, brancas,  ou de tom fosco e esmaecido! Então é isso, no que tange aos vegetais, ficam aqui essas considerações, sem outras embromações. 

Saindo desse papo vegetal e resvalando ao animal, lembrou-me um fortuito encontro que tive com uma dupla de cães que vagava falante e livre pelas ruas. Na verdade foi num parque nativo. Trata-se de pura veracidade. Porque além de ladrar ou rosnar os cães têm também a sua linguagem com que dialogam com outras espécies e raças. Eram de um lado um “standard” ou vira-lata de nome bidu e de outro um  shih tzu de nome Lino, tal entendimento da língua canina eu pude melhor compreender lendo a fundo a epopeia de Lemuel Gulliver, pelo que dela narra nos encontros com os Houyhnhnms e os yahoos. O colóquio era nesse palavreado, numa livre tradução .
- Diz o standard bidu  nestes termos , como você se livrou da coleira, se ainda tem  no pescoço esta gargalheira ?
- Foi simples, replicou Lino, minha mãe, quero dizer minha ama e dona, deixou-me com fome. Foi nisso que aos trancos e solavancos me soltei e pus em debandada. Se a carroça não me pegar estou livre ; espero que para sempre. A gente se une e ficamos mais fortes, como faziam nossos precursores selvagens, em matilhas.
- No meu caso foi diferente  ‘ Já sou  meio velho, tenho 10 anos de idade. Meu dono, ou pai, pois assim, a mim se refere, sempre me deixa dar algumas voltinhas. Mas no fundo quero me sentir mais livre. Assim como foram nossos ancestrais que viviam livres, felizes e soltos. Passavam até alguma fome por falta de caças e bichos que comer. Mas, não viviam cativos e prisioneiros.
- Nisso interveio bidu. Eu já sofri horrores nas mãos dos humanos. Nossa vocação, bem sabe o amigo, é a liberdade, os campos e a alegria. Comer aquelas rações, tudo de forma temperada, sequer mudam o cheiro e o sabor das nossas refeições.
- Tem razão bidu. Além do que até nossa média de idade vem caindo. Antes se esperava  viver 20 anos, 30 anos.  Agora, não. Tenho visto amigos morrer com 10 anos, 12 anos. Parece que as doenças dos humanos nos contaminaram e morremos de tudo. De enfarte, de coração, de rins, de estômago; até de câncer; tenho visto muitos caninos bater as botas. Ou esticar as canelas como dizem no vulgar.
Nesse entretempo revoou um bando de pardal de uma fileira de macega , e assustou os dois fugitivos cães, que que se esgueiraram num canteiro de capim puba, e esvairam como fumaça.
É assim a língua canina. Agora imagine como seria, se todos entendessem não só a língua dos animais de “estimação” , mas o idioma dos vegetais. Quanto lamento, quantos queixumes.
Melhor a humanidade permanecer analfabeta no idiobotânico e na língua dos animais. Já bastam os nossos vales de lágrimas e outras praças de lamentações.  Dezembro/2017.   

O bom ou mau exemplo

                             A PEDAGOGIA QUE VEM DO  LADRÃO
 João Joaquim  



Há um provérbio ou ditado popular que afirma: -Uma forma de se educar um filho ou uma criança é com o exemplo - Quanta sabedoria e verdade contem essa afirmação. Os ditados e sentenças, frutos da criação das pessoas, de um grupo social têm muito de sociologia, de antropologia e filosofia. Porque tais afirmações não são oriundas de simples opinião individual. Elas resultam de observações e vivências diárias de uma sociedade, de conclusões e experiências  concretas extraídos da vida diária  e são passadas entre gerações de pessoas. São muito mais coerentes e convincentes do que a Estatística, Ciência que  lida com números, dados e porcentagens. Enfim os provérbios têm muito de Ciência sem empregar ensaios científicos.
Um outro provérbio que trago para esse contexto é aquele que diz: A oportunidade faz o ladrão. Será ? Veremos em seguida.
Tomando então o princípio pedagógico de que uma maneira de se educar um filho ou uma criança começa pelo exemplo. Tome-se como ilustração  aquele princípio de que todos somos filhos dessa pátria chamada Brasil. Com tal consideração, os mandatários máximos da nação seriam figuras e atores na condição de pais de todos os governados.
É uma relação simples, governantes/governados. Fazendo uma analogia com os sistemas políticos da idade média. Quais sejam, do senhor feudal e seus vassalos, súditos e submissos. Política e hierarquicamente falando( do Brasil), mesmo sendo um regime democrático representativo, existem os estratos sociais e administrativos entre governantes e governados, eleitos e eleitores. Trata-se de nossa pátria Brasil. Formamos classes de cidadãos.
Serviços Públicos,  os políticos que nos representam , são escalas e classes em graus de funções e de importância. Assim é o Estamento, assim é uma organização estatal. O que importa é que a dignidade das pessoas seja a mesma. Seria uma configuração geométrica da pirâmide; no ápice têm-se os líderes e chefes de Estado e dos outros poderes, como congresso e judiciário; e na base estão os outros, os governados, os eleitores; enfim o povão.
Fazendo uma apreciação como sujeito, busquei então os fundamentos, as razões de tanta desonestidade, de tantas infrações éticas e legais em nossa sociedade. Nenhum setor da vida tem escapado aos desvios das normas da boa convivência social. Seja  no trânsito, nos ambientes de trabalho, de condomínios, de comércio, de lazer, de cultura. Sequer os ambientes místicos (ou míticos ) escapam aos expedientes e condutas do embuste, da fraude, do engano, do logro, da má fé. Aí têm-se os falsos profetas, falsos administradores, falsos gestores públicos, falsos amigos, falsos em tudo.
Os fundamentos da disseminação da desonra e tanta vilania vêm justamente no provérbio do exemplo como ferramenta pedagógica. Se nosso país(Brasil) , ou melhor, se nossos líderes, chefes e governantes mentem, trapaceiam e roubam eu também vou roubar. Por que não? Essa é a energia que viceja e paira no consciente coletivo, na mente e discernimento dos cidadãos (ãs). O modelo de conduta e inspiração de postura chega de forma vertical, vêm daqueles que sobrepairam a todos os súditos e governados. Em últimas palavras, se um presidente da república, se um chefe ou diretor de um poder legislativo ou judiciário comete fraude, improbidade administrativa ou peculato e até recebe propinas e outras vantagens por que não o cidadão comum e menor não faria o mesmo? Afinal este subalterno e mais humilde se espelha em algum modelo e exemplo como norma de vida. Veja o quanto funcionou o adágio popular – do exemplo como forma de educar.
Do outro adágio - A oportunidade faz o ladrão-  se tiram algumas explicações e conclusões. Em verdade a ocasião não faz o ladrão. Ela o complementa, faz o seu acabamento. Nenhuma oportunidade torna o indivíduo honesto ou ladrão. Ele já o é por índole e vocação. Aquele momento o favorece em sua conduta para o bem ou para o mal. Trata-se, uma vez mais, da atividade política e outras gestões da vida pública. Qualquer que seja a função, o servidor terá a chance de expressar o seu caráter, se para o bem ou para o mal, se para uma conduta ética e honesta ou delituosa e corrupta.
Um cidadão, um servidor público ou político honesto resistirá  a todas as tentações em questões de suborno, de tráfico de influência e de corrupção. Nenhum dinheiro, ouro ou vantagem tornará o seu caráter ou honra venal, mercadoria de negócio, compra e venda.
É o contrário do desonesto e corrupto por educação, exemplo e formação. Para o fim de se locupletar, de enriquecer, de obter vantagem ele será capaz de negociar não só o seu caráter e sua honra, mas até a própria alma. Honesto é honesto sempre. Larápio o é em todo lugar e circunstância.
Desgraçadamente o Brasil está infestado de exemplos de gente do mal , dado a corrupção, roubalheiras e trapaças. E estes são péssimos modelos para nossos adolescentes e jovens em formação .  Felizmente, tem-se do outro lado uma legião de pessoas humildes, honestas, cumpridores das leis e dos melhores exemplos éticos. Estes nos dão esperança de um País e um mundo melhores.    Dezembro/2017.

Alzheimer


                                  PREVENÇÃO  DO MAL DE ALZHEIMER

João Joaquim  


Com o aumento da longevidade sobrevêm na mesma proporção os casos de demências: entre essas a  de maior limitação e danos cognitivos o mal ou doença de Alzheimer. Com muita repetição tenho ouvido de pessoas próximas os relatos de que o pai, o avô, o tio, o engenheiro, o advogado, o dentista, o médico tal, que tinham plena higidez física e mental se viram de hora para outra com a demência de Alzheimer.
Como de muitos sabido as demências refletem um processo natural do envelhecimento. O cérebro entra neste pacote da senescência. A demência de Alzheimer em particular leva o nome de seu 1º descritor e estudioso, o psiquiatra alemão Alois Alzheimer (1864-1915). O caso mais emblemático descrito por esse pesquisador foi em 1906. Referia-se a uma paciente de 51 anos que progressivamente foi perdendo a memória para suas atividades triviais e outras funções  de orientação e cognição.
Os achados necroscópicos e histológicos dessa mulher mostraram depósitos das proteínas beta-amiloide e tau nos neurônios, em especial naquelas áreas cerebrais ligadas à memoria. Passados mais de 100 anos, pouco foi acrescentado aos trabalhos desse genial médico, que merecidamente deu seu próprio nome a essa doença.
Instigado por tanto relato de pessoas próximas com parentes idosos, doentes e falecidos com Alzheimer, decidi por fazer uma metanálise (pesquisa) de artigos sobre a matéria. Porque na verdadeira concepção da ciência   muitas afirmações podem se tornar no futuro puras abobrinhas e confabulações, sobre essa ou aquela doença. Uma verdade hoje, pode ser mentira amanhã .
Dois expedientes ou atitudes são defendidos pelos especialistas com os quais eu penso em uníssono. O primeiro deles se refere ao chamado estilo de vida saudável. Trata-se da mesma estratégia na prevenção das doenças cardiovasculares. Compõe-se de atividade física contínua, abstenção dos vícios de nicotina, álcool e drogas ilícitas, alimentação balanceada e sono de boa qualidade (reparador). O segundo expediente importante refere-se a todas as ações e hábitos para exercitar a memória de forma contínua. E aqui, que fique bem explícito e grifado: exercício da memória de forma contínua.
Nenhum dos trabalhos e artigos lidos fala que estilo de vida saudável ou intensa atividade intelectual,  interrompida depois de 20 ou 30 anos, vá proteger o seu praticante pelo resto da vida, na 3ª  ou 4ª  idade( velhice).
E por que tanta ênfase no caráter de continuidade dessas atitudes preventivas das demências ,seja a senil ou de Alzheimer? E afirmo porque tenho, de ouvida ou entreouvido, constatado o espanto ou surpresa dos aludidos parentes desses idosos(as) vítimas da doença. São essas as referências, são esses os espantos: Ah, mas como pode! Meu pai, minha mãe, meu tio(a); que trabalhou a vida inteira, que era engenheiro, que era professor, que era médico. Como? Ele, ou ela que fez pós graduação, mestrado, doutorado! As respostas a esses pasmos e estranhezas são simples e objetivas. Não importa que o indivíduo na sua vida mais produtiva tenha até se doutorado nessa ou naquela atividade profissional, tido uma intensa atividade intelectual e científica. Na verdade muitos desses veteranos mestres e doutores, aferrados ao trabalho e exímios no que faziam pararam no tempo em termos de exercícios da memória  e com estilo de vida insalubre. Muitos desses modelos aqui citados, estudaram, se tornaram experts no que trabalharamm, mas pararam no tempo como autômatos. Tudo que eles precisavam para bem trabalhar estavam no sistema automático do cérebro( trabalhavam como robôs ). Muitos desses(as) profissionais brilhantes, para agravo do risco de Alzheimer, se aposentam ainda não idosos, com 55 ou 60 anos. E para mais agravo, estacionaram em uma vida sedentária, sua atividade intelectual, de memória ou cerebral.  Muitos desses aposentados de suas atividades profissionais e ex doutores nisso ou naquilo, uma vez inativos, leem de menos, não aprendem nenhuma habilidade a mais, nada mais escrevem ou produzem mentalmente. Seriam ( tais pessoas) como que nunca tivessem tido uma ótima atividade produtiva intelectual. Porque houve descontinuidade.  
Conclusão: todo aquele esplendor  nas universidades, todos os estudos como mestres e doutores foram perdidos. Isto porque não tiveram continuidade. Na mesma analogia que se faz com atividade física para  o coração. Parou, em pouco tempo se tornam como  outros sedentários quaisquer.
Conselho final: quer prevenir de ficar gagá ou caduco (a)? aposente-se da obrigação de todo dia assinar o ponto na escritório ou emprego, mas continue lendo bons livros, treinando matemática, fazendo cruzadas, decifrando enigmas, aprendendo algum idioma, evite o sedentarismo mental e físico  e a depressão. Pronto. Esta a melhor receita  para se tornar um idoso independente, atraente e produtivo, sem demências, e sem Alzheimer.  Lembrete final, cuidado  com os falsos profetas da Saúde e da Medicina, não existe remédio para memória. O melhor medicamento para a memória, é o exercício da própria memoria.    Dez /2017

Natal Material

                         A ADORAÇÃO MATERIAL DOS PRESENTES DE NATAL

João Joaquim   


Eu assistia a um vídeo ( cerca 20 minutos de duração ), e pus-me em seguida a algumas reflexões. O tema era a educação do futuro, preleção essa, ao que parece, de um bem preparado jovem professor em tecnologia da informação (TI). Pelas legendas e caracterização tal aula se passou no auditória da USP, o que traz-lhe ainda mais acreditação e prestígio.
O título da referida palestra já traz uma clara ideia do teor da exposição. Referia por exemplo o palestrante sobre a velocidade das informações. Tudo chega “pronto” e aos borbotões para as pessoas, falava  do que seja a informação e o que fazer com elas, da rapidez com que se renovam as mídias. Por exemplo um “gadget” (mídia digital) pode estar sucateado e ultrapassado por outro que já é oferecido ao navegante (internauta, usuário), em questão de um ano. A relação de uma informação impressa (livro físico, apostilha, revista) com aquela veiculada por áudios e imagens (Instagran, Youtube). A preferência que os jovens têm pelas comunicações via vídeos e imagens. A credibilidade que possa ter cada informação e notícia. O que possa ser um boato, pós-verdade e Fake News. A tendência é apenas o que já está pronto e pensado. Nada de leitura, nada de raciocínio e pensamento lógico. Por isso o domínio das imagens.
Em poucas frases, a exposição do jovem palestrante era revestida de uma absoluta modernidade, para pessoas modernas, de preferência para uma geração jovem, nascida, escolada e educada sobretudo tendo como ferramentas os instrumentos, recursos, softwares do mundo digital. O público presente, pelas imagens, era formado por adolescentes e jovens calouros de universidade (USP provavelmente). O interesse e atenção eram absolutos.
Meus comentários. Por partes e fazendo comparação de épocas, cultura, tecnologias, a essência das coisas e dos humanos; tudo isto às vésperas de Natal e Ano Novo.
É de consenso que nada evoluiu tanto como a(s) tecnologia(s) de informática e de informação nos últimos 10 anos. Há uma tendência de todo processo cultural, informativo, educacional ser dominado pelo emprego de imagens, áudios e vídeos. No que depender dos críticos mais jovens o futuro dos setores de educação, de informação e veiculação de dados se fará com uso em profusão de todos esses recursos imagéticos e de áudios . A escrita, os textos, os livros físicos (em  papel) parecem que na visão faturista serão reservados aos museus. Ao menos é o que sugere o teor da palestra referida no início deste texto, Educação Para o Futuro . Considerando que  ainda seja  eu  um adepto e aficionado aos livros, ao cheiro do papel, do prelo e das gráficas,  já me sinto retrógrado e fora de moda. Ao menos vou procurar fazer uma interface entre essa tão declamada modernidade e a cultura tradicional. Aliás, já faço assim.
Que relação guarda o natal com as tecnologias digitais? Pesquisas e estatísticas da indústria e do comércio mostram que os presentes mais almejados de papai Noel são os de mídias digitais. Ipad, tablets, smartphones. Nossas crianças têm nascido já digitalizadas. Antes de irem para a escola, quase todas já viram centenas de horas de imagens, vídeos e games. Tudo isto aprendido com os ágeis toques dos minúsculos dedos. Habilidade digital(dos dedinhos) que já domina os encantos do mundo digital.
Ninguém de nenhuma cultura deve demonizar ou desdenhar essa nova geração que tem nascido, educada e vive grande parte da vida hiperconectada. Todavia, fica um alerta,  já há estudos mostrando os danos e efeitos nocivos do contínuo status online. Trata-se da webdependência ou nomofobia. Limites no uso e critérios de acesso ao mundo digital, seriam bons conselhos a pais e educadores.
A extrema dependência das tecnologias da informação e todas as plataformas digitais constituem uma face do que pode se denominar a “religião” do materialismo moderno. As novas gerações têm cada vez mais constituído  em um estado ou estágio  a que podemos cunhar de embriaguez da  tecnologia, cujos principais instrumentos são os objetos ou “gadgets” ou recursos digitais de comunicação, pela Internet. Dentre os recursos dessas mídias sobrelevam em preferências as tão massivas e ubíquas redes “sociais” como facebook, instagram e whatsApp. Existe hoje a ansiedade digital. Todos conectados.
Ao se fazer uma confrontação com os festivos momentos  natalinos de nossa era da informática e das tecnologias da informação com os primitivos e originais significados do natal, de passagem de ano, de páscoa, parece que tudo se perdeu!. Por que se tem a figura do papai Noel?  Por que da árvore de Natal?  Dos presentes desta data ?   Por que a páscoa tem como símbolos o ovo de chocolate e a figura do coelho ?
Nesse sentido, do que sejam essas celebrações, essas datas, esses ícones , esses e outros objetos   quem  bem os  explica é a própria Filosofia. Tanto a grega como a oriental. A Filosofia se resume em um  conjunto de princípios, de pensamentos, de reflexões, que não se contenta com o óbvio, com a cópia e repetição das coisas, dos costumes e dos hábitos. Daí, sua constante indagação, por que disso, daquilo, por que dos usos e costumes?
 A “religião” do capitalismo, o fascínio que o materialismo digital desperta nas pessoas, o exagerado apego e dependência dos modernos e coloridos aparelhos de mídia etc;  toda essa nova onda de modernidade e hiperconectividade têm paulatinamente tornado as pessoas como meros robôs e autômatos desse turbilhão de informações e imagens que em nada representam na construção e formação do ser humano. Tem-se muita informação , mas pouca ou nenhuma formação. Talvez o contrário, mas deformação moral e de cultura que crescimento como pessoa humana.
A essência, o íntimo, a alma, a gentileza, a fraternidade, o conhecimento de si mesmo, o sentido do que somos e para onde iremos têm sido desprezados. Tudo esquecido e negligenciado, inclusive em plenas comemorações de Natal e Ano Novo. São ceias, banquetes, manjares, os melhores repastos, libações de champanhes e caros vinhos. Com muitos fogos, áudios, imagens e vídeos.
E a essência, o significado do que sejam o intimo  humano e o simbolismo da  Natal são apagados de qualquer celebração. Quão frio, frágil e vazio o mundo propalado e adorado dos recursos digitais e das redes sociais.
Como nota de rodapé, eu explico. A figura do papai Noel, o velhinho tão cortês e gentil, de barbas brancas, irradiando bondade e simpatia, é uma criação da Coca-Cola. Em si ele lembra a própria garrafa da bebida, um link perfeito, um refrigério para a sede e o corpo. Como os fins justificam os meios, acertou em cheio o marketing e engodo dessa multinacional, que se faz presente até na Lua e em Marte. Todos se refestelam das bebidas  e comidas da marca. Hoje é a indústria de bebidas e alimentos mais rica do Planeta. Que inspiração!  não é mesmo ? E Nós eternos e meros consumidores.   Dezembro/2017. 

Miséria interior

O NATAL EXALTA A MISÉRIA INTERIOR DE MUITAS PESSOAS

João Joaquim 


Eu poderia neste texto estar a falar de abundância, de fartura, de festas e banquetes. São termos e verbetes, cenários e fatos,  muito repetidos em festividades, em celebração de aniversários, de batismos de pessoas e empresas, de natal e passagem de ano. E as pessoas têm absoluto motivo para tanto! Afinal a vida merece todas essas solenidades, esses júbilos e expressões de energia e felicidade. Imagine o que pensaria a sociedade se deparasse alguém com palavras de ordem do tipo viva o desânimo, morra a alegria, abaixo o regozijo e o prazer!
Tal arauto, com tais anúncios negativistas e destrutivos, seria no mínimo tachado de sandeu, mentecapto e atrapalhado do juízo. Então  viva a vida e a alegria. 
E aqui eu exalto e brado eu uníssono  com esses mensageiros da alegria, do júbilo, do riso, do humor. E entremeado a tais sentimentos, o prazer e gozo das deliciosas libações, das bebidas do gosto de cada um, dos apetitosos e gustativos alimentos. Dos capitosos e inebriantes pratos em tais comemorações. São exemplos as tão concorridas e esperadas datas natalinas e de passagem de ano. Aliás, Natal e Ano Novo, cada vez mais perdem o sentido original. Tudo se tornou um mercado e seus mercadores. Assim se vê no comércio, na indústria de tudo, nas cervejarias, nas  empresas e indústrias de bebidas, etc. 
Contudo, feitas essas referências a essas datas festivas de muita pompa, de expansividade, de efusão de nossos sentidos, de nossos instintos de conservação e sobrevivência, como são nosso olfato e paladar no ato de comer e alimentar, vejamos  outras considerações, em um outro polo da vida e de nossa sociedade. Nem só de alegria, efusão  , prazer e festas se faz a vida.
Com todas essas alusões, então tenho como objetivo maior falar de outra condição humana, a miséria. Tal palavra vem do latim, miser e significa desafortunado (desprovido do bens materiais, sem fortuna), desgraçado (sem o benefício ou dádiva de Deus) ou infeliz (desprovido de qualquer condição que traga felicidade, seja moral , emocional ou  materialmente falando).
De forma didática podemos  classificar a miséria  humana em material e espiritual. E para dar formato de melhor compreensão eu trago dois exemplos, de duas mulheres que tem o mesmo nome, Maria. São dois casos concretos, por mim testemunhados em uma atitude filantrópica.
Filantropia. Palavra que vem do grego, philo = amigo, anthopus=  homem, amizade ou  amor ao homem. O contrário de filantropia é misantropia. Termo que lembra miséria, miserável, sem misericórdia. Misantropo. Do grego mis (o) ou misein, aversão ou ódio ao homem, ao semelhante. 
Nessa visita feita à primeira Maria, se constatou que ela combinava em tudo (como pessoa) aos poucos pertences e objetos em sua posse. A começar pelo seu abrigo, casebre ou barracão. Todos aqueles “miseráveis bens” de sua sobrevivência encontravam-se em petição de miséria ou de misericórdia. Todas as condições básicas e mínimas de higiene, limpeza, de organização eram precárias, de penúria e indigência. Combinado a todo esse deplorável estado de desconforto material era o estado de desânimo e de espírito ou de índole dessa mísera pessoa de nome Santo, Maria. Nossa primeira Maria, fez de seu humilde abrigo, um autêntico muquifo. Tomo de empréstimo este termo, com a licença dos puristas de nosso idioma. Nossa primeira Maria, se revelava uma mísera de alma, de espírito, de humor, de espírito; ela tinha deficiência de  várias virtudes internas sem dependência e sem nexo com conforto material ou pecuniário, para encontro da felicidade. 
Ato contínuo de visitação deparo-me na casa da segunda Maria. Ao contrário da primeira  Maria, encontro agora uma mulher efusiva de alegria, receptiva, cordata, gratíssima pelo mínimo conquistado e recebido de terceiros nessas visitações.  Era a pessoa em simpatia e otimismo.
Os humílimos e simples pertences de nossa segunda  Maria  encontravam-se nos padrões de excelência nos quesitos de higiene, manutenção, limpeza e organização. Sua tacanha e singela casinha em tudo combinava com o seu humor, alegria e mostras de felicidade e realização. Essa segunda Maria era uma mostra viva de que nem sempre dinheiro traz felicidade. Ele não constitui um item exclusivo e imperativo de felicidade humana. Quando bem manejado e se usado de forma racionalizada pode colaborar nesse sentido. Tanto que muitos ricos e abastados são eternamente infelizes . E muitas pessoas sem posses materiais maiores esbanjam alegria e felicidade. 
O certo e concreto que ficam nas visitas a essas duas Marias é que os visitantes  voluntários e filantrópicos podem sair mais fortalecidos e confortados do que as visitadas. A conclusão de tais visitas é que a pior miséria de que pode sofrer o ser humano não é a privação de bens e conforto material, mas aquela que está entranhada no espírito, no íntimo e no caráter da pessoa. A miséria de espírito, a miséria  de generosidade,  a miséria de fraternidade , de amor e respeito ao próximo. Estas , sim, são  as misérias mais degradantes de que pode sofrer o ser humano.               Natal/2017.  

Felicidade sem dor

 A FALSA  FELICIDADE  SEM  TRABALHO E SEM SOFRIMENTO

João Joaquim 


Desde sempre, na mente humana,  houve projetos, desejos e sonhos que se tornaram a ordem do dia. Os termos podem variar, mas no final com o mesmo significado. Se fosse designado em uma palavra, esta palavra seria a felicidade. Tanto que ela passou a ser uma expressão do bem extremo que queremos a quem tanto amamos e temos em nossa mais alta estima.
E tem plena razão todos que buscam esse estado físico e de alma. A felicidade é um fim em si mesma, é o objetivo último e máximo do gênero humano em sua existência. Ninguém em sã e lúcida consciência, em  higidez mental e psíquica vai querer um mínimo de sofrimento ou dor que seja. Se assim o faz é porque padece de algum distúrbio de saúde mental, dano  patológico,  e portanto ,  precisa de algum ajuste terapêutico no campo psíquico , psicanalítico ou até medicamentoso.
Ser feliz . Este tem sido o desiderato de todos em sua humana lida. Mas seria tal estado orgânico e de alma possível? Para aqueles adeptos do determinismo, do existencialismo, tal projeto e desejo seriam inatingíveis. Todos estão predestinados a algum sofrimento, diriam os deterministas e existencialistas. Mas, eu rebato essa tese, e temos que , sim, buscar os caminhos da felicidade.
A vida se faz, se principia, se brota, se vem à luz do mundo entremeada já com um pouco de dor, choro e início de sofrimento. Disso ninguém discorda. Tomemos a vida humana a partir da fase fetal. Esse feto, ainda que em plena higidez física, nos primórdios de sua interação com a mãe e com o meio externo receberá e sentirá os estímulos nocivos e estressores, tanto exteriores quanto aqueles sofridos pela mãe.
O ventre, o útero e placenta não são garantias nem imunidade contra injúrias externas, tanto de agentes físicos quanto  imunobiológicos . O feto pode adoecer! Tanto que anda em voga a chamada Medicina Fetal. Especialidade que monitora ,  diagnostica e trata as anomalias do feto.  Hoje, se faz até cirurgia fetal.
Com a maturidade plena do feto, vem o período expulsivo ou do trabalho de parto. Pode-se considerar o maior trauma da vida humana. Para tanto a natureza com seus indecifráveis mistérios criou um estado fisiológico chamado amnésia. Ninguém vai se lembrar desse primeiro grande trauma, desse “doloroso transe”  que é o nascimento.

Para tanto sofrimento bastaria imaginar o trabalho de parto de um adulto. Fosse possível, em grandes dimensões, regredir um adulto ao ambiente uterino e ele lutar 10 horas para voltar à luz. Quanto suplício e sequelas psíquicas. Que fique só na imaginação, de preferência com amnésia absoluta desse “sofrimento angustioso”.
Vieram os avanços tecnocientíficos, no mesmo passo as ciências médicas. Dentre essas o aprimoramento da analgesia e da anestesia. Hoje campeiam os partos cesarianos, porque se fazem com uso de analgesia e anestesia. Pena que abrevia-se o trabalho de parto sem dor para a mãe. Mas,  para o nascituro o mesmo trauma. O mesmo sofrimento, a perda da proteção da barriga da mamãe  e do  aconchego uterino. Parece um descaso e injustiça com o feto. Mas, é a lei, são os mistérios da vida.
Há diversos estudos na área de obstetrícia e neonatologia provando que o parto natural e espontâneo é muito muito saudável para a criança e mesmo para a mãe. Evitam-se com isto um trauma cirúrgico, o uso de vários fármacos na anestesia que têm os efeitos colaterais para a  mãe e feto.
As evidências são de que o esforço e esse sofrimento impostos ao feto para nascer têm efeitos saudáveis nessa transição da vida uterina para o mundo externo. É a passagem da circulação fetal e dependência placentária para a respiração pulmonar e circulação no modo adulto. Todo esse trânsito dolorido e árduo do chamado trabalho de parto é nada mais do que o primeiro ensinamento da natureza de que a vida humana tem como finalidade última e máxima a felicidade. Mas, a vida e a felicidade não têm isenção absoluta de alguma forma e grau de sofrimento, de esforço, de trauma  e de trabalho.
Trazendo esse objetivo e perene busca da felicidade a que todos se dedicam para o contexto de nossos dias, para as novas gerações, para a civilização moderna, munida de internet, redes sociais e tecnologias de informação, do mundo digitalizado.
O século XXI tem se caracterizado por intenso debate e avanços sociais no que se refere às liberdades individuais, garantias as mais amplas de direitos humanos e novas diretrizes na educação. Entre essas novas normas de liberdade e educação têm-se como exemplos a proibição de reprovação escolar e a lei da palmada.
Em outros termos, o aluno mesmo com nota abaixo de 5(50%) tem que pular de série. Não interessa se ele aprendeu o suficiente na série anterior ou não. É proibido reprovar. Lei da palmada: os filhos além de ser criados sem limites ou castigos não podem receber o menor constrangimento físico, a exemplo de uma palmada ou chinelada.
Tomo de empréstimo as palavras da Psicóloga Virgínia Suassuna: “ os chamados psicotapas” , tão úteis das avós das gerações digitais. Até esses estão proibidos pelos novos legisladores, pelas novas diretrizes dos modernos educadores. São novos tempos.
Os pais e famílias dessas novas gerações têm embarcado nessa nova pedagogia e nessas novas diretrizes educacionais. Tudo pode , é proibido proibir !
Os adolescentes e jovens dessa nossa intitulada sociedade moderna e digital estão sendo criados, formados e protegidos de qualquer esforço, de qualquer sacrifício ou trabalho. Nenhum filho pode cooperar ou se empenhar no seu próprio sustento. O roteiro dos chamados pais modernos tem sido este para os filhos: é proibido sofrer, se esforçar ou trabalhar. Zero dor, zero sofrimento, inclusive o esforço psíquico, a  frustração, o insucesso na busca do prazer, da satisfação dos órgãos sensitivos. 
Para isso, foram sintetizados os ansiolíticos, os antidepressivos, os psicotrópicos de toda ordem. Até os medicamentos que ajudam no rendimento intelectual, no raciocínio , no pensamento lógico. O ato de pensar, calcular, criar se tornou algo torturante. De preferência que todo conhecimento, todo saber  já venham prontos e pensados por outros.
Talvez o resultado dessa nova ordem de vida sejam mais depressão, mais ansiedade, mais suicídios, incapacidade de lidar com as críticas (bullying), mais dependência de psicotrópicos, de psicoterapias e até drogas ilícitas.
Infelicidade na sua forma mais pura.  É a vida sem esforço e sem os sofrimentos, os mínimos que sejam!  -        31 dezembro 2017.

Assassínios (as) de Reputações

Quando se fala em assassinato, tem-se logo o conceito desse delituoso feito. Ato de matar, de eliminar o outro, também chamado de crime cont...