Assassínios de Reputações

Quando se fala em assassinato, tem-se logo o conceito desse delituoso feito. Ato de matar, de eliminar o outro, também chamado de crime contra a vida. No código penal é um crime que independe de uma queixa-crime, de uma denúncia de um parente ou afetivo da vítima para que o autor seja detido, inquirido pela polícia, seja processado e por fim, aqui sim, o ministério público ofereça a denúncia à Justiça. Porque trata-se de uma função do ministério público, a culpa e a pena para o criminoso, acusado e réu.

Assassinato tem uma classificação. De forma simplificada, ele recebe o nome conforme a natureza e a vítima. O homicídio, genericamente, o crime de eliminação de qualquer pessoa. E vem a subclassificação, em legitima defesa, o qualificado, o premeditado, o hediondo, o de estrupo, a pedofilia. O feminicídio, essa terrível e pavorosa forma de eliminar a mulher, pelo fato de ela ser mulher. Pode ser aquela namorada que não quis mais o namoro, a ex esposa que rompeu o relacionamento, uma infidelidade. Não importa. O que se tem é natureza reprovável, recriminadora e abominável, dessa forma de assassinato.

Existe uma outra classe ou forma de assassinato que a sociedade não presta tanta atenção a ela. É o assassinato de reputações. Entendamos aqui reputação como a honra, a credibilidade, os qualificativos éticos e morais; em uma palavra a dignidade da pessoa humana (não é pleonasmo). trata-se de um crime que tem a idade do próprio homem. Basta revisitar os anais da História e certificar-se que o assassinato de reputação acompanha a sociedade em todas as esferas da vida, social, conjugal, familiar, cultural, religiosa, Política.

Na seara política então, quantos não são os assassinatos de reputação? Tão graves são que muitos deles desaguam para os assassinatos (homicídios), os crimes contra a vida. Tome-se o assassinato, caso emblemático desta questão, da vereadora pelo RJ, Marielle Franco, ocorrido em 2018. É muito simbólico pela repercussão jornalística, midiática, pela comoção popular e sócia e demora em deslindar os mandantes da morte da vereadora. E tudo começou, digamos, porque Marielle de começo mostrou a má, a péssima reputação dos mandantes, como agora apontados por Polícia Federal e Ministério Público Federal. As causas originais do crime são corrupção, atuação de milícias, especulação imobiliária dos mandantes do crime. Queiram ver em todas os portais de imprensa.

E atenção para essa forma de crime, o assassinato de reputação, pouco sublinhado, pouco repreensivo, mas muito encontradiço, porque é tido e havido como de pouco potencial ofensivo. Mas que conforme o contexto, o impacto moral e na dignidade pode resvalar para até crime de homicídio. Falemos aqui estritamente o que envolve a relação homem/mulher, questões namoradas, conjugais, interesses vários e escusos nessas relações, muitos deles com um verniz e roupagem de genuína afeição amorosa, romântica, mas que dissimuladamente se revela a verdadeira face quando o desfazimento motiva o tal assassinato de reputação do outro (namorado, cônjuge, marido, etc).

O assassinato de reputação na relação a dois (homem mulher) deflagra-se quando rompe essa expectativa da solidez e continuidade do namoro ou casamento. Pensemos no modelo namoro. A pessoa dispensada da relação, conforme sua personalidade e limiar de frustração, inicia por buscar alguma retaliação, expediente movido pelo ciúme, sensação de rejeição, por ter sido trocado (a) por outra pessoa. E há outros aditivos nesse expediente: a terceirização da vingança, a busca de comparsas e coniventes nos atos de difamação, de calúnia, de desconstrução do ex namorado, do ex candidato a namorado ou cônjuge, de juras eternas de amor e fidelidade.

As explicações psicanalíticas e psicológicas (constelação familiar explica) dos expedientes de assassinato de reputação se dão por inveja e sentimento de vingança. Tanto de forma direita como indireta (pessoa terceirizada). E assim, tanto a vítima direta como indireta se vale dos expedientes da fofoca, da fake news, dos factoides, das montagens de fotos, de narrativas fantasiosas. Tudo convergindo para o distrato, o rebaixamento, a desqualificação, o desdouro, a indignidade do outro. Para tanto se valem de redes sociais, de e-mail, de fotos e versões e fabulações.

Enfim, o que se deixa como mensagem é esta: o assassinato de reputação em todas as áreas da vida humana sempre existiu. Hoje, ganhou mais impulso e estatística pela aplicação fútil e frívola da internet e redes sociais, porque a pessoa se sente protegida (falsamente estar oculta, anônima). O entusiasmo era e é tanto com o tal Messenger, com o celular, com os posts, que a pessoa fofoqueira, difamadora e criminosa (de reputação de outro) que esquecia que estava sendo contraespionada, gravada, auditada do outro lado. Oh, vida, oh Céus, oh azar!

 

João Joaquim - médico e articulista do DM

 

Postagens mais visitadas deste blog

Vício e possessão narcoólica >

SER OU ESTAR CARA-DE-PAU

Veteranos Doentes Digitais