Vício e possessão narcoólica >
Quem nunca leu deveria ler um pouco da obra Bhagavad Gita (cultura hinduísta). Trata-se de obra seminal e magistral sobre a alma humana, sobre a conduta e expedientes humanos, suas inclinações e resultados do estilo espiritual de vida da pessoa. Independentemente de religião ou crença, existem em cada doutrina ou seita, mentes e intelectos brilhantes que valem o esforço da leitura ou audiência de exposição. Seja presencial, ou via mídias digitais, em tempos de Internet. “Só não comete erros quem nunca age. Mas também não vive nem aprende. A perfeição vem da prática perseverante e é uma soma de erros e acertos” (Bhagavad Gita).
Qual tem sido a sua leitura? Seja como for, vale a pena conhecer a “Bhagavad Gita” na íntegra, seja sob a ótica filosófica ou moral, seja para conhecer o que ela pode trazer de ensinamentos para a sua vida. Ela deriva das escrituras sagradas hinduístas, os Upanishads e Vedas.
Interessante que são muitas as imbricações ou liames com a doutrina ou filosofia divulgada pelo francês Allan Kardec (1804-1869). Este cientista, pode assim ser nominado, porque, se notabilizou, é bem verdade como quase criador da doutrina espírita. Mas, foi com mesma densidade e crédito, grande leitor e pesquisador de luminares das Ciências, da física, filosofia e medicina.
Pedro Lopes Livel- 66 anos-, professor de religião e sociólogo conceituado é especialista nas teorias e pensamentos de Allan Kardec. Nessa exposição sobre excertos da filosofia hinduísta e de Kardec, Lopes Livel, fala por exemplo sobre as teses abordadas por Kardec, das relações pais/filhos, quando a mãe, ou sobretudo o pai como cabeço ou chefe de família se envereda por algum vício maligno, alcoolismo, cânhamo, e outras adicções ilícitas e destrutivas. O álcool na doutrina espírita é classificado como narcótico. Porque deturpa a mente, o intelecto, o senso moral e espiritual da pessoa.
Na visão doutrinária hinduísta todo vício, vem dos chamados labéus ou fragmentos cármicos (karmas). Nos tempos de Kardec, havia por exemplo, a chamada possessão alcoólica, à semelhança da possessão demoníaca. E havia as terapias de eliminar essa espécie de energia negativa do indivíduo, gerada pela embriaguez crônica, dependente, maligna. Eram sessões de terapias cognitivas e parlatórios dissuasórios, com uso de sessões de semanas; conduzidas pelos seguidores e doutrinários espíritas, adeptos de Kardec.
Uma tese instigante é a da chamada relação conturbada, que acomete os filhos (as) de um adicto de droga ilícita. Existem o conceito e efeitos do adoecimento familiar do alcoólatra, do maconheiro, do cocainômano e outros vícios, classificados por divisões hinduístas como possessões tóxicas (espíritos tóxicos). Muito persuasivo, robusto e de muita verossimilhança com o que se vê nos relatos de muitos familiares cuidadores de sequelados pelos vícios malignos. Porque é de se ver o quanto ex viciados se encontram inválidos e numa vida terminal, final, em um estágio vegetativo, confinados e mortos sociais.
Nesses termos, e no fecho da exposição, assevera o professor Lopes Livel, muitos desses filhos e filhas, outros parentais e cuidadores, desses ex possuídos pelos demoníacos vícios (álcool, maconha, marijuana, cocaína) estão a suportar uma cruz, ou na visão espírita kardecista e hinduísta, um longo carma, na lei da hereditariedade social familiar.
E mais um registro. Esses ex viciados e ex drogaditos, podem assim, agradecer. Embora, esse cuidador, assim o faz, na predisposição e disposição da generosidade, sem vínculo afetivo estrito. Porque são muitos os idosos ex alcoólatras e ex drogaditos que são segregados e abandonados pelos filhos e filhas, alguns institucionalizados, asilados e morrem no abandono familiar.
É como se esse descendente, resignadamente se curvasse a compartilhar esse pesado madeiro, esse estorvo físico e social familiar. Uma generosidade ou cooperação, ainda que por coerção moral, mas feita por quem assim procede digna de louvor. Porque como falar de amor por vocação ante essa pregressa relação, onde imperava a vergonha, a angústia, os vexames, os melindres e dores da convivência com o vício em toda a sua energia?
Porque na mente e disposição de alguns filhos e filhas, esse idoso (a), está assim porque teve essa maligna escolha, livre escolha. Na prerrogativa desse bem maior. Então por que remorso, se foi uma escolha do ex drogadito (álcool, cocaína, maconha)? Nenhum estigma a quem abandona o sequelado e inválido nessa fase da vida. Foi sua livre opção de automutilação da alma e do corpo, e no caudal, todos do entorno sofredores por consequência. Em suma, o viciado em qualquer narcótico, no álcool, em maconha, cocaína; ele vai adoecer do emocional, do social, do físico; e de roldão leva os membros parentais do entorno doméstico, cria-se um círculo vicioso, retroalimentar. Quem mais sofre? Os cuidadores (as) diretos, com alimentação, higiene, administração de insumos farmacêuticos. Dispêndio de energias, de resignação, paciência, insônia, desgaste mental e emocional, ônus monetário mal dividido entre herdeiros.
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor