BELTRANO pede uma pizza
Como epígrafe deste artigo de opinião tem-se o seguinte teor: imagine aquele parente, aquela parenta que professa por você uma admiração, um sorriso. Professa “admiração e certos sorrisos”. E você em contraponto vai enchendo essa pessoa (parente/parenta) DE elogios, encômios, loas, adjetivos, que depois ficam provados que imerecidos. Essa pessoa/parente/parenta gera uma linda criança, mimosa, falante, palreadora, canora, lépida, grácil e muito inteligente; inegável esses atributos. Chega o dia de visitar presencialmente essa nova família, com mimos, objetos dadivosos, caricias. Entretanto essas pessoas, o recebem com frugalidade, simples gestos, nada de empatia, como se você fosse um tronco de madeira, um cepo de baraúna. Que tal, essa geração de gente! Hein! “Beltrano, eu cheguei agorinha de meu trabalho, pedi uma pizza, com fome”.
MAIS RELAÇÃO CELULAR E DIGITAL QUE SOCIAL E PARENTAL
Quando se fala em estilo de vida social, uma questão cada vez mais presente nas relações sociais intrafamiliares são as diferenças com que as pessoas mais jovens, gente entre seus 25 anos a 40 anos de idade, tocam e administram suas rotinas sociais, domésticas, no trabalho. Então vem o choque cultural e ético familiar. Conforme a personalidade de uma pessoa mais idosa, pessoa nascida em tempos pré Internet e telefone celular, nessa interação com a chamada geração nativa digital, pode haver uma grande disparidade nesses valores, nessa cultura, nos hábitos, no modo de tratamento interpessoal.
E vale aqui uma observação. Não quer dizer que a Internet, as mídias digitais, o celular sejam os responsáveis por essa disparidade nesse estilo de tratamento e relações sociais; sejam amistosas ou parentais; constata-se que esses recursos virtuais e digitais parecem ter incrementado essa degradação das relações humanas. Apenas isto, remoto a demonizar os recursos digitais e mídias. Porque, na verdade esses bens instrumentais e virtuais serviram para galvanizar ainda mais a idiotia dessas pessoas que já eram pouco sociáveis e insensíveis em quesitos como simpatia, solidariedade, fraternidade, voluntarismo e empatia pelo outro.
Internet, redes sociais e celulares são neutros, sem vida. A idiotia e banalização estão na mente e formação cultural e até familiar desse tipo de gente! Vem de família. Só isso!
Estudos já bem consolidados já demonstram o quanto o excessivo apego aos recursos de mídia, tendo como protótipo o celular, tornam as pessoas em variados graus de idiotização e imbecilização. Bons modelos nessa abordagem se veem com os profissionais do Instituto Delete/UFRJ, e o Instituto de Saúde de Paris/neurocientista Michel Desmurget. Este pesquisador tem a obra de título instigante: ” A Fábrica de Cretinos Digitais”. Um autêntico tratado dos impactos negativos do uso desmedido e antissocial dos recursos de mídia, tendo como protagonista o tão adesivo e plugado celular.
Em se tratando dessas disparidades das relações sociais vejamos mais alguns dados. Tome-se o exemplo de pessoas chamadas 60+ e jovens 40- (jovens abaixo de 40 anos). Essa geração, pode-se afirmar sem errar, mesmo os que não nasceram com a internet, foram educados e alfabetizados com os recursos de informática. Recurso tecnológico este que aliado à Internet trazem no seu bojo de ofertas os games, os sites de entretenimento, os jogos variados. Etc. E nessas ofertas de cultura e entretenimento, muitas famílias não tinham a exata dimensão dos impactos negativos dessa excessiva adesão a esses recursos na habilidade de aprendizado, dos danos cognitivos paulatinos de si próprias e filhos e filhas.
Muitos são os adultos hoje, pais de família, os 40+, que se tornaram adictos/dependentes de celular, muito além de meros instrumentos de telefonia e recurso profissional. São os games, as redes sociais, as tantas futilidades exibidas pelos provedores, como Instagram, tik, tok e outras plataformas de entretenimento vazio, sem criatividade. Tudo pronto!
E para concretizar essa mini resenha da degradação em que se tornaram as relações sociais parentais ou de amizade. Juraci e Milton, são aquele jovem casal, que cresceram e foram alfabetizados, já com o emprego dos recursos de informática e Internet. Celulares sempre colados ao corpo e/ou bolsas e bolsos. A criação e escolarização foram já no estilo dos estritos direitos humanos. Muitos direitos, poucos limites e nada de deveres domésticos, entre os quais relações respeitosas parentais com os idosos e pessoas de mais saberes e experiências de vida. Casam-se e tem um filho. Que galvaniza e centraliza toda a atenção parental e paterna. Estilo principezinho da casa. Recebem certo casal por exemplo, muito admirados. Mas, enorme diferença geracional. A relação casal/parental é fria, morna, sem viço, sem vigor, dormente, madeiral. Nada mais. Nada de empatia, nada de reciprocidade. São sinais dos tempos, ou da chamada modernidade líquida de Bauman. Interação social/parental maquinal, material e mínima. São sinais da degradação humana do bicho humano como animal social, civilizado e político. Nada além.
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor